Brasília vai receber arquivos digitais do acervo de Lucio Costa
Reunião entre representantes do Brasil e de Portugal ocorreu nesta segunda-feira (25)
Brasília|Hellen Leite, do R7, em Brasília
Após a repercussão do envio do acervo de Lucio Costa a Portugal, o Distrito Federal vai celebrar um acordo de cooperação técnica com a Casa de Arquitectura, para onde os documentos foram doados. A reunião que decidiu detalhes sobre a negociação do acervo com o instituto português foi realizada nesta segunda-feira (25) entre o Arquivo Público do DF, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A família de Lucio Costa também participa das negociações. Uma segunda reunião está programada para ocorrer na quinta-feira (28), no Rio de janeiro, com a neta do arquiteto, Julieta Sobral, e o superintendente do Arquivo Público do Distrito Federal, Adalberto Scigliano.
"Estamos caminhando pela via diplomática para minimizar os impactos da retirada do acervo do Brasil. A negociação já evoluiu bastante e a Casa de Arquitectura tem todo o interesse em estabelecer um acordo", comenta Scigliano. Segundo ele, os documentos históricos devem estar disponíveis nos próximos dias.
Na sexta-feira (22), a Secec enviou um ofício ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) perguntando se há registro de tombamento do acervo doado. A intenção é evitar que documentos relativos à construção de Brasília fiquem fora do país. Há interesse especial nos arquivos referentes ao concurso nacional que consagrou como vencedor o projeto de Lúcio Costa para construção da capital do país.
Obras históricas em Portugal
A coleção de mais de 11 mil documentos foi doada pela família do urbanista, considerado um dos pais da capital do país, à Casa da Arquitectura, em Portugal, entre 2020 e 2021. Até então, o acervo estava sob os cuidados do Instituto Antônio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro. Após 20 anos, a instituição alegou que não poderia mais mantê-lo.
Segundo a neta de Lucio Costa, Julieta Sobral, as necessidades dos arquivos são específicas e não existe no Brasil local adequado para preservar os documentos. “A escolha da Casa da Arquitectura ocorreu após conhecer a reserva técnica e as instalações do local, que garantem a preservação e a difusão da totalidade do acervo”, explica. Entre as obras estão tesouros da memória de Brasília, como cartas, bilhetes, esboços, projetos, fotos, desenhos, filmes e rascunhos.
As reações à notícia da doação do acervo do arquiteto foram imediatas. “Se a preocupação é manter o acervo preservado e disponível ao público, inclusive com ferramentas digitais, temos todas as condições de abrigá-lo”, disse o secretário de Cultura e Economia Criativa do DF, Bartolomeu Rodrigues. “Essa ideia de que não temos como cuidar é uma grande piada de mau gosto. O fato é que ninguém nos procurou, infelizmente. Agora, quem quiser ver pessoalmente precisará ir a Motosinhos, no interior de Portugal”, lamentou.
Mônica Blanco, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-DF), também lamentou a transferência. "Isso nos deixou indignados. Foi preciso a família recorrer ao exterior por não ter condições de manter as coleções no Brasil. Quem perde não são só arquitetos e estudantes de arquitetura, mas toda a sociedade brasileira. É a nossa história, e é lamentável que tenha de estar fora do nosso país para ser preservada. Os arquitetos estão de luto", comentou.