Câmara busca consenso para PEC da Segurança oito meses após governo enviar proposta
Relator da proposta apresentou nessa terça-feira (9) parecer que será analisado em comissão especial
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A PEC da Segurança completa oito meses de tramitação desde o início das discussões formais na Câmara, em abril, após dezenas de rodadas de negociação.
O relatório entregue na terça-feira (9) reforça o endurecimento penal, redesenha o sistema policial e amplia mecanismos de integração entre União, estados e municípios.
O governo pressiona por um papel mais definido para a União, enquanto governadores seguem atentos a possíveis impactos na autonomia local.
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O relator Mendonça Filho (União-PE) apresentou aos líderes partidários a versão atualizada da proposta, que consolida mudanças estruturais na política criminal, no sistema policial e no sistema prisional.
A expectativa é votar o texto na comissão especial ainda nesta semana. Se aprovado, seguirá para duas etapas de votação no plenário da Câmara.
A apresentação ocorreu no mesmo dia em que o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, defendeu no Senado o projeto antifacção e elogiou o relatório do senador Alessandro Vieira (MDB-SE).
As duas matérias — o pacote antifacção no Senado e a PEC na Câmara — avançam em paralelo e passam a moldar o desenho final da política nacional de segurança.
O que a PEC propõe
O relatório entregue hoje organiza a proposta em quatro eixos centrais.
1. Política criminal
A PEC cria um regime especial para enfrentar o crime organizado e delitos violentos. Entre as medidas estão:
- restrição maior à progressão de pena para faccionados e criminosos de alta periculosidade;
- cumprimento de pena em regimes integrais, incluindo presídios de segurança máxima;
- punições mais duras para lideranças de organizações criminosas;
- ampliação do compartilhamento de dados em investigações de lavagem de dinheiro;
- responsabilização de empresas envolvidas em mercados ilícitos.
O texto ainda prevê um referendo em 2028 sobre redução da maioridade penal em crimes ligados a organizações criminosas — ponto que deve gerar forte disputa política.

2. Sistema policial
O relatório apresenta a maior reorganização policial desde 1988. Entre as mudanças:
- criação da polícia municipal comunitária com transição das guardas municipais;
- ampliação das competências da Polícia Federal, que passa a atuar também em crimes ambientais;
- expansão das atribuições da PRF para ferrovias e hidrovias;
- fortalecimento das corregedorias e investigação social obrigatória para ingresso nas forças;
- blindagem contra infiltração criminosa;
- autorização para União, estados e municípios legislarem sobre formação, protocolos e direitos dos profissionais de segurança.
3. Sistema prisional
O texto reforça o isolamento de lideranças criminosas e moderniza a gestão prisional:
- autorização para regime disciplinar diferenciado e prisão em segurança máxima desde a fase provisória;
- criação do Sistema de Políticas Penais, responsável por definir rotinas internas, visitas, transferências e alocação de detentos;
- ampliação das atribuições da Polícia Penal.
4. Governança da segurança pública
A PEC constitucionaliza o Sistema Brasileiro de Inteligência, padroniza planos de segurança e amplia fontes de financiamento, incluindo Funasp e Funpen.
Também estabelece cooperação federativa como regra, com forças-tarefas e ações integradas em âmbito nacional.
O que o governo busca
O texto original apresentado pelo Executivo reforçava o papel da União na coordenação da política de segurança pública. A proposta inicial previa:
- fortalecimento do Susp (Sistema Único de Segurança Pública);
- papel central da União na definição de diretrizes nacionais;
- atualização de competências da PF e PRF.
Lula reafirmou a intenção de definir um papel nacional mais claro: “definir qual o papel da União na questão da segurança pública, sem ferir a autonomia dos governadores”.
No Senado, Lewandowski elogiou a atuação do relator do pacote antifacção:
“O senador Alessandro Vieira recuperou 90% do projeto original, e não foi um projeto tirado da nossa cabeça. Foi discutido com sociedade civil, segurança pública e policiais federais, após seis meses de debate.”
A estratégia do governo envolve evitar retrocessos e preservar a coordenação nacional desenhada pelo Ministério da Justiça.
O que preocupa os estados
Governadores demonstram resistência desde o início da tramitação. Durante a passagem pela CCJ, em julho, foi retirado o trecho que concederia competência privativa à União para legislar sobre segurança pública e sistema penitenciário.
Os estados argumentaram que haveria risco de:
- perda de autonomia para organizar suas forças policiais;
- submissão a diretrizes federais sem considerar as realidades locais;
- centralização excessiva de poder.
Mesmo com ajustes no relatório, governadores seguem alertas. A presença de mecanismos amplos de integração federativa provoca dúvida sobre possíveis interferências futuras.
O que diz a oposição
Partidos de oposição tendem a apoiar medidas de endurecimento penal e ampliação de competências policiais. Há, porém, divergências sobre:
- o alcance da restrição à progressão de pena;
- riscos de judicialização de mudanças constitucionais no sistema prisional;
- novas funções para guardas municipais.
Lideranças envolvidas avaliam que o texto deve avançar ao plenário com pontos já consolidados — especialmente o endurecimento penal e o redesenho do sistema policial — enquanto a discussão sobre autonomia federativa seguirá em negociação.
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