Cappelli avalia intervenção e diz que escolha do novo secretário foi da governadora; leia entrevista
Nesta terça-feira (31), chega ao fim o período da intervenção federal em Brasília, decretada após os atos de 8 de janeiro
Brasília|Sarah Paes, do R7, em Brasília, e Kristine Otaviano, da Record TV
Nesta terça-feira (31), seu último dia de trabalho como interventor da segurança do Distrito Federal, Ricardo Cappelli fez um balanço do período em que reorganizou a segurança da capital após os atos praticados por vândalos nas sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro, em entrevista ao R7 e à Record TV.
Cappelli destacou que a escolha do novo responsável pela Secretaria de Segurança Pública, Sandro Avelar, foi de total responsabilidade da governadora em exercício, Celina Leão (PP). Leia a íntegra da entrevista:
Qual o tamanho da intervenção na montagem da nova equipe da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal? Vai haver autonomia para que o novo secretário faça mudanças, exonerações e novas nomeações quando o senhor deixar o cargo de interventor federal?
Não há nenhuma interferência do governo federal na montagem da secretaria, nem mesmo na escolha do secretário. A escolha foi da governadora em exercício, Celina Leão. A única ponderação que a gente fez é que achávamos que seria prudente ela indicar alguém que tivesse condições de estabelecer uma relação colaborativa e cooperativa com o governo federal.
Temos mantido com Sandro Avelar, delegado da Polícia Federal que assume a secretaria, uma relação absolutamente harmoniosa. Começamos a fazer a transição na semana passada e estamos contentes com a escolha — mas foi uma escolha da governadora em exercício, e o secretário, é claro, tem toda a autonomia para compor a equipe como ele decidir.
A governadora em exercício, Celina Leão, antes de dar um parecer sobre a escolha do novo secretário de Segurança Pública do DF, citou que teria uma reunião com o senhor. Quanto por cento é a decisão do Distrito Federal e quanto por cento é decisão do Ministério da Justiça e Segurança Pública ou até da Presidência da República na escolha de Sandro Avelar?
A escolha do delegado federal Sandro Avelar é uma decisão inteiramente da governadora em exercício, Celina Leão. O Governo do Distrito Federal foi eleito e possui a legitimidade para indicar o secretário, e ele para indicar a sua equipe. Não opinamos no nome, fizemos apenas uma ponderação de conteúdo. Era importante que o escolhido tivesse a capacidade de manter uma relação colaborativa e cooperativa com o governo federal. Ficamos felizes com a escolha de Sandro Avelar, porque ele reúne essas condições, mas a escolha foi integralmente da governadora.
Sobre a movimentação de posse para esta quarta-feira (1º). Um novo plano ou um novo esquema de segurança foi armado? Quanto ele segue protocolos parecidos com os do dia 8 e quanto foi alterado para essa nova posse?
A diferença é que para esta quarta-feira e para o dia 2 os protocolos estão sendo seguidos, o que não aconteceu no dia 8. Para esta quarta-feira, temos um protocolo de ações integradas, que são diretrizes de segurança para todos os órgãos que compõem a estratégia de segurança do dia. Temos um plano operacional, que é desdobrado com a Polícia Militar e que indica exatamente o que vai acontecer. Fizemos nessa segunda-feira os últimos ajustes, uma revisão do plano acompanhado do secretário Sandro Avelar. O nosso objetivo na intervenção era restabelecer o comando, dar estabilidade, apurar o que aconteceu e realizar uma transição segura, que é o que está sendo feito.
No relatório da intervenção entregue na última sexta-feira (27), o senhor fala das campanhas exitosas em protestos e eventos no Distrito Federal. Ao fim da intervenção, o senhor deixa pareceres ou sugestões à Secretaria de Segurança Pública do DF?
Tenho plena confiança na Polícia Militar do Distrito Federal, na Polícia Civil, no Corpo de Bombeiros Militares e nos homens que compõem as forças de segurança do DF. O que aconteceu no dia 8 é que os padrões e protocolos não foram seguidos. Então, se os protocolos tivessem sido seguidos, como foram no dia da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nada daquilo teria acontecido no dia 8. A recomendação é apenas que os protocolos que foram seguidos no dia 1° continuem a ser seguidos.
Há algum dispositivo, por exemplo, uma nova intervenção federal, um canal direto, que seja agora permanente diante dessa possibilidade de não obediência em relação à hierarquia e à ordem?
O Ministério da Justiça e Segurança Pública encerra a sua participação nesta terça-feira. A partir de quarta-feira, a gestão é plena do governo do Distrito Federal, que tem toda a autonomia para tomar todas as decisões. Não está em questão a possibilidade de nenhuma nova intervenção federal.
Agora a Secretaria de Segurança Pública segue independente, como antes do dia 8?
A gente tem grupos de trabalho com várias secretarias de Segurança por todo o Brasil, uma vez que a gente preza e zela pela relação interfederativa. A cooperação interfederativa é uma coisa; intervenção federal é outra.
O ministro da Justiça e Segurança Pública disse que vai criar a Guarda Nacional. A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal e as forças policiais são bastante distintas em relação às do restante do país. O senhor vê essa Guarda Nacional como algo necessário?
Houve uma quebra de confiança no dia 8, na relação interfederativa entre o governo federal e o Governo do Distrito Federal, que pela Constituição é quem tem a responsabilidade de garantir a segurança dos poderes constituídos aqui em Brasília. Em função disso, levantou-se a questão da Guarda Nacional, uma proposta que o ministro encaminhou ao presidente da República, que a está avaliando. Se assim ele decidir, essa proposta será objeto de amplo debate, inclusive no Congresso Nacional.
O senhor disse que protocolos não foram seguidos, não apenas pela questão de hierarquia e obediência. Nesse sentido, qual o tamanho da responsabilidade do ex-secretário de Segurança Pública Anderson Torres?
Não me parece razoável que, diante dos indicativos uma manifestação como a do dia 8, o secretário de Segurança Pública assuma no dia 2, altere o núcleo dirigente da pasta e viaje logo em seguida sem sequer fazer reuniões operacionais e revisão do plano e acompanhar até o fim o esquema de segurança para o dia 8. Até mesmo porque Anderson Torres só estaria de férias a partir do dia 9. Ele tinha a responsabilidade de conduzir a segurança pública do DF naquele dia — não por acaso, o ministro Alexandre Moraes, do STF [Supremo Tribunal Federal], decretou a prisão dele.