Caso naja: Justiça do DF marca para maio julgamento de universitário
Pedro Krambeck e outros três réus vão responder por tráfico de animais; universitário ficou em coma após ataque em 2020
Brasília|Jéssica Moura, do R7, em Brasília
Dois anos depois das denúncias sobre um suposto tráfico internacional de animais em Brasília, quatro indiciados pelo caso serão julgados pela 1ª Vara Criminal do Gama, no próximo dia 18 de maio. Entre os acusados, está o estudante Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl, que foi picado por uma serpente naja, em julho de 2020. O universitário passou a ser investigado por maus-tratos ao animal.
Os outros réus são a mãe de Krambeck, Rosi Meire Cândido dos Santos, o padrasto dele, Clóvis Eduardo Condi, e o amigo Gabriel Ribeiro de Moura. Os acusados e testemunhas do caso deverão ser ouvidos pelo juiz durante a audiência do dia 18 de maio. Os advogados dos envolvidos foram procurados pelo R7, mas não se manifestaram sobre o caso até a última atualização desta reportagem.
Em seus perfis nas redes sociais, Krambeck exibe imagens com outras cobras e fotos de viagens. No mês passado, ele ministrou aulas em um minicurso online do projeto Jararaca, sobre serpentes peçonhentas. O grupo atua pela conservação desses animais no país.
Curso de cobras
Na divulgação do curso, um dos integrantes chegou a postar nas redes sociais uma mensagem de boas-vindas a Krambeck. "Ainda não o conhecia e tinha formado em minha mente uma imagem negativa do mesmo. (...) Com a visita, pude notar que Pedro é um cara de muita índole, gente fina e com certeza um brother que quero manter contato. O Brasil todo julgou esse irmão, as pessoas não viveram o que você viveu, nem mesmo sabem o porque (sic) das tuas escolhas", diz a publicação.
Depois que a notícia de que Krambeck ministrou aulas sobre cobras ganhou repercussão nacional, e após ele ter sido acusado de maus-tratos a esses animais, o projeto Jararaca apagou o vídeo do seu canal no YouTube e deletou também o perfil no Instagram. A reportagem não conseguiu contato com o grupo.
Caso naja
Em julho de 2020, depois de ser picado por uma cobra naja, Pedro Krambeck foi internado na UTI em um hospital particular no Gama, no DF. Ele apresentou quadro grave de saúde e chegou a ficar em coma induzido.
A única dose do soro antiofídico disponível no país e aplicada em Krambeck foi tirada do Instituto Butantan, em São Paulo. Dois dias depois da internação, ele passou a ser investigado como suspeito de integrar uma rede de tráfico de animais exóticos.
O rapaz não tinha permissão para criar o animal, que não podia ser mantido em domicílio de forma domesticada. Após se recuperar, ele chegou a ser preso, mas foi solto e passou a responder ao processo em liberdade. Na época, a naja foi localizada dentro de uma caixa, em uma área próxima a um shopping na Asa Sul, em Brasília.
Os investigadores apuraram que Krambeck criava pelo menos 23 cobras em um apartamento de três quartos. Os animais foram encontrados pelas polícias militar e civil. Mais dez pessoas foram indiciadas como participantes dos crimes, entre elas a mãe e o padrasto do estudante, um major da Polícia Militar Ambiental e amigos de Krambeck.
Pela denúncia apresentada pelo Ministério Público do DF e acolhida pela Justiça, o grupo vendia os filhotes das serpentes para obter lucro. Um ano e meio depois, o processo judicial ainda está em tramitação na Justiça local. Até o momento, ninguém foi condenado no caso.
Nadja no Butantan
A naja que picou Krambeck foi tratada no zoológico de Brasília, onde foi objeto de um ensaio fotográfico. Em agosto, o animal, originário da Ásia, foi transferido para o Museu Biológico do Instituto Butantan, em São Paulo.
Nadja, como foi batizada, pesa 800 gramas e tem quase 2 metros de comprimento. A serpente se alimenta de roedores uma vez por mês, em quantidade equivalente entre 10% e 20% de seu peso. A cobra está em um recinto em um dos primeiros corredores do museu.