CFM não se manifesta em nota técnica sobre vacinação de crianças
Órgão faz parte de câmara técnica que assessora o Ministério da Saúde em questões relacionadas à Covid-19
Brasília|Bruna Lima e Jéssica Moura, do R7, em Brasília
O Conselho Federal de Medicina (CFM) não aderiu à nota produzida pela Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI Covid-19), em que os especialistas membros do grupo se manifestaram a favor da vacinação de crianças entre 5 e 11 anos contra o coronavírus. O documento foi publicado nesta quinta-feira (23) com a lista dos órgãos que aprovaram o texto. O CFM não consta entre eles. Procurado, o conselho ainda não se manifestou a respeito.
O posionamento da CTAI foi definido após uma reunião do grupo em 17 de dezembro, diante da autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para que doses da vacina da Pfizer/BioNTech fossem ministradas no público infantil. A decisão de se manifestarem favoráveis à inclusão das crianças na campanha foi unânime.
Por isso, os membros cobram que o Ministério da Saúde acate o parecer "e defina as estratégias para a operacionalização mais adequada da vacinação desse grupo etário, a fim de alcançar a maior cobertura, no menor tempo possível", diz a nota.
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"Destacamos, ainda, que a chegada de uma nova variante como a Ômicron, com maior transmissibilidade, faz das crianças [ainda não vacinadas] um grupo com maior risco de infecção, conforme vem sendo observado em outros países onde houve transmissão comunitária desta variante. Neste contexto epidemiológico, torna-se oportuno e urgente ampliarmos o benefício da vacinação a este grupo etário", prossegue a nota da câmara técnica. O Brasil tem 35 casos confirmados de infecção pela nova cepa.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou nesta quinta que iria liberar a imunização das crianças, mas que a medida não seria obrigatória. Para ele, essa decisão deve caber aos pais. Além disso, a vacinação deverá ocorrer mediante indicação médica. De acordo com Queiroga, o Ministério da Saúde deve montar uma lista de prioridades para a vacinação das crianças, com aquelas com comorbidade ou imunossuprimidas sendo atendidas primeiro.
Depois de recorrer em uma ação no Supremo Tribunal de Federal (STF), o Ministério lançou uma consulta pública que vai até 2 de janeiro para colher contribuições sobre a ampliação da campanha para o público infantil. O ministro do STF Ricardo Lewandowski fixou o prazo até 5 de janeiro para que a pasta apresente a estratégia de vacinação dessa faixa etária.
Justificativas
Os integrantes da câmara técnica listaram uma série de justificativas para respaldar a posição. Entre elas, estão os dados a respeito da infecção pela Covid-19 e o impacto disso sobre as diferentes faixas etárias. O texto afirma que, até 6 de dezembro deste ano, 3.185 crianças de 5 a 11 anos desenvolveram a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) em razão da contaminação pelo coronavírus. Destas, 145 morreram.
Outra consequência é a Síndrome Inflamatória Multissistêmica (Sim-p), que levou a disfunções cardíacas nos pacientes e acometeu 394 crianças de 5 a 11 anos. Por isso, os integrantes da câmara argumentam que "os benefícios [da vacinação] são muito maiores do que os riscos, pilar central de avaliação de qualquer vacina incorporada pelos diversos programas de vacinação, seja no Brasil ou no mundo".
Os especialistas reforçaram que agências regulatórias de outros países também aprovaram o uso da vacina contra a Covid-19 em crianças: Canadá, Estados Unidos e Israel, além de outros da União Europeia. Eles lembraram ainda que países da Ásia, África e América do Sul têm utilizado a CoronaVac para esse público menor de 12 anos. No Brasil, a Anvisa ainda avalia o pedido do Instituto Butantan para o uso do fármaco nesse grupo etário.