CGU aponta falha na conservação do que restou do acervo do Museu Nacional após incêndio
Segundo relatório da Controladoria-Geral da União, há 'fragilidade na guarda' dos itens que escaparam do fogo em 2018
Brasília|Hellen Leite, do R7, em Brasília
Quatro anos após o incêndio que destruiu parte do Museu Nacional no Rio de Janeiro, um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) alerta que o que sobrou do patrimônio histórico está ameaçado por "fragilidades na guarda e registro do acervo". O documento, divulgado nesta terça-feira (13), também mostra sobrepreço de R$ 150 mil na contratação de serviços de engenharia referentes à reforma do espaço e lentidão no andamento das obras de recuperação da estrutura.
Do acervo, de 20.369.297 itens de 36 coleções, foram destruídos 16.906.359 itens, o equivalente a 83% de todas as obras do museu. Além da perda dos itens, também foram destruídos, total ou parcialmente, os registros e inventários físicos e digitais.
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A fachada principal do museu foi inaugurada no último dia 4 de setembro, exatamente quatro anos após o incêndio. Até o momento, as lajes de cobertura foram concretadas e impermeabilizadas, e 50% da estrutura metálica e dos caibros foram instalados. Do total de atividades contratadas para restaurar fachadas, coberturas e esquadrias do bloco histórico do palácio, 70% já foram executadas.
Toda a fachada e coberturas do museu devem ficar prontas até fevereiro de 2023 e o orçamento total desta etapa é R$ 23,6 milhões. O cronograma de obras segue até 2027, quando a reforma deverá ser concluída e o museu completamente reaberto, com orçamento preliminar estimado de R$ 380,5 milhões.
Um dos principais problemas tem relação com a guarda dos acervos e coleções resgatados do dos escombros do incêndio. "Destaca-se a fragilidade das etiquetas de identificação das peças e de sua fixação, ante ao incerto cronograma de atividades de restauração do acervo e recuperação espacial, que sugere um tempo de utilização maior do que as etiquetas podem suportar", diz o relatório.
"Após resgate das peças junto aos escombros e resíduos, o núcleo de resgate passou a catalogar e armazenar as peças encontradas por acervo/coleção, em 23 contêineres localizados na área externa do museu e no prédio anexo. O resgate do acervo dentro do museu já foi finalizado, mas por ocasião da visita in loco verificou-se que diversos itens ainda estavam no ambiente de triagem aguardando serem identificadas e/ou armazenados", segundo a CGU. A inspeção foi realizada em 30 de junho de 2021.
A CGU também alertou sobre a fragilidade do catálogo utilizado para registrar os itens. Até a inspeção, as informações eram organizadas em cinco planilhas do Excel, com os registros em salvamento automático, "com possibilidade de alteração diária dos registros, fazendo com que peças do acervo resgatados possam ser incluídas ou excluídas aleatoriamente".
Após a inspeção, a CGU fez cinco recomendações, entre elas, pediu que a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), responsável pelo museu, crie uma política de acervos "eficiente e segura" que permita a geração de relatórios. Em relação ao sobrepreço encontrado em planilhas de benefício e despesas indiretas da obra, — que incluem impostos e seguros pagos durante a reforma —, a CGU exigiu que a administração do museu explique as divergências de valores.
O R7 procurou o Museu Nacional para comentar o relatório da auditoria, mas não recebeu resposta até a última atualização desta reportagem.