Coaf detalha transações atípicas de pessoas presas por agiotagem
O sargento Ronie Peter lavava o dinheiro obtido de forma ilícita em empresas físicas e de fachada, segundo investigação da PCDF
Brasília|Kelly Almeida, Sarah Teófilo e Jéssica Moura, do R7
Relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) apontam movimentações atípicas que envolvem o sargento da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Ronie Peter Fernandes da Silva, preso nesta terça-feira (16) em operação da Polícia Civil do DF por suspeita de agiotagem, ameaça e lavagem de dinheiro. Outras cinco pessoas também foram presas, entre elas o irmão de Ronie, Thiago Fernandes da Silva, e o pai dos dois, Djair Baía da Silva.
Conforme o Coaf, entre maio de 2017 e dezembro do ano passado, Ronie movimentou quantia superior a R$ 6 milhões em uma única conta-corrente. O valor chama atenção, já que o militar recebe salário de aproximadamente R$ 8.000. Conforme investigação, Ronie e Thiago ameaçavam as vítimas para obrigá-las a pagar os valores emprestados corrigidos com os juros, que chegavam a 10% ao mês.
Os valores obtidos a partir da agiotagem eram lavados em empresas de fachada e outras existentes comandadas por integrantes do grupo, segundo a investigação. Um mercado em nome de Thiago e Djair, por exemplo, movimentou R$ 8,5 milhões entre fevereiro e agosto deste ano. O valor é considerado incompatível com o porte da empresa, cujo faturamento é de R$ 30 mil mensais. Além disso, o Coaf indicou movimentação atípica de uma empresa de locação que, conforme investigação, não existe fisicamente, o que faz a polícia acreditar que se trata de uma empresa de fachada.
Há, ainda, transações atípicas identificadas pelo órgão de controle que envolvem Raiane Gonçalves, que está entre os alvos da operação da Polícia Civil. Ela é dona de uma empresa de estética e consta como proprietária de um veículo da marca Porsche usado por Thiago e Ronie. A empresa dela tem faturamento de R$ 110 mil e movimentou, entre janeiro e agosto de 2021, R$ 8,8 milhões. O Coaf suspeita do uso de valores de terceiros para fins de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.
As empresas e pessoas envolvidas recebiam e repassavam recursos entre si. A empresa de Raiane, por exemplo, recebeu valores do mercado da família de Ronie.
O Coaf também detalha a movimentação de uma loja de uma rede de fast-food em Vicente Pires. Ela está em nome de Alexandre Rodrigues de Souza, um dos alvos da operação. A loja tem movimentação financeira atípica, segundo o Coaf, e costuma receber valores de pessoas físicas diversas e empresas do ramo de compra e venda de veículos.
Outro suspeito, Alison Silva Lima, tem renda de R$ 3.000, conforme a investigação, mas movimentou em sua conta R$ 1,92 milhão entre dezembro de 2018 e abril de 2019. Ele também apresenta operações financeiras incompatíveis com o seu patrimônio.
Família
Conforme apuração, Thiago é o braço direito de Ronie, e é o integrante mais violento do grupo. O irmão do policial negociava os valores e juros da agiotagem e atuava cobrando as vítimas, muitas vezes mediante ameaça. O pai dos dois, Djair Baía, é sócio de uma das empresas que atuam na lavagem de dinheiro dos valores obtidos de forma ilícita.
Carros de luxo
Nas redes sociais, Ronie e Thiago exibem carros de luxo. Na casa de Ronie, a polícia apreendeu um carro da marca Porsche. Segundo a apuração, o policial comprava carros de luxo com valores obtidos na agiotagem e, para ocultar a propriedade dos carros, os registrava em nome de terceiros ou de empresas de fachada.
Saques em espécie
Durante as investigações, policiais identificaram um saque de R$ 800 mil em uma agência de Taguatinga, em setembro deste ano, e outro saque no valor de R$ 530 mil, em uma agência de Samambaia.