Condenações por tentativa de golpe devem influenciar eleições de 2026, dizem especialistas
Episódios podem provocar a reorganização de lideranças e bases; prisão de Bolsonaro reacende debate sobre confiança institucional
Brasília|Luiza Marinho*, do R7, em Brasília
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As condenações impostas a Jair Bolsonaro pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em 2023, e pelo STF (Supremo Tribunal Federal), neste ano, por tentativa de golpe de Estado, tornaram o ex-presidente inelegível até 2060 e já estão mudando o cenário para as eleições de 2026. Em 4 de outubro do próximo ano, mais de 150 milhões de brasileiros escolherão seus representantes.
A retirada definitiva de seu nome da disputa presidencial força uma reorganização da direita. Em contrapartida, no final de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou que tentará se reeleger no ano que vem.
Realizada no período da prisão de Bolsonaro, a pesquisa da CNT (Confederação Nacional dos Transportes) de novembro mostra que o presidente Lula lidera todos os cenários eleitorais para 2026.
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No principal cenário de segundo turno testado, Lula tem 49,2% contra 36,9% de Jair Bolsonaro.
Em outras simulações de segundo turno, Lula também venceria os principais nomes do campo bolsonarista: ele marca 45,7% contra 39,1% de Tarcísio de Freitas, e 49,1% contra 35,6% de Michelle Bolsonaro. O governador de São Paulo, Tarcísio, é o adversário de direita que apresenta a menor diferença contra o petista.
Especialistas ouvidos pelo R7 dizem que o episódio deve acelerar uma recomposição interna das forças políticas, reorientar a relação entre lideranças e suas bases e produzir efeitos duradouros sobre a confiança nas instituições.
Reorganização da direita e ‘eleitor mediano’
No Congresso, parlamentares já apontam o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como o caminho mais provável para a direita nas eleições presidenciais. Mesmo assim, a maior parte dos deputados e senadores consultados avalia que o bloco deve chegar dividido às urnas, com múltiplas candidaturas disputando o espólio bolsonarista.
Para o cientista político Gabriel Amaral, a repercussão pública tende a reorganizar profundamente o vínculo entre lideranças e seguidores.
“Grupos mais sensíveis à estabilidade institucional tendem a cobrar moderação e previsibilidade de suas lideranças. Já públicos organizados em torno de identidades políticas fortes podem reagir reforçando vínculos de pertencimento, o que leva parte das lideranças a adotar discursos defensivos, de consolidação interna”, avalia.
Amaral afirma que o comportamento eleitoral deve refletir essa divisão. “Há um movimento de consolidar núcleos fielmente engajados, cuja leitura dos fatos é mediada por grupos de referência. Ao mesmo tempo, há um deslocamento do eleitor mediano, que tende a evitar conflitos prolongados e rejeitar riscos institucionais. Isso pressiona partidos e lideranças a recalibrar suas narrativas”, pontua.
Já o analista político Gabriel Petter destaca que a condenação muda de forma substancial o equilíbrio interno da direita. “Acredito que as condenações mexem totalmente com o tabuleiro eleitoral e lançam a direita em uma guerra interna, que ameaça a unidade desse grupo em 2026”, afirma.
Segundo ele, apesar da fragmentação conservadora, o cenário atual favorece a tentativa de reeleição de Lula.
“A menos que haja um fato político muito relevante, o mais provável hoje é que Lula seja reeleito. Mas isso depende principalmente do contexto econômico do país em 2026. O bolsonarismo tende a perder influência, embora ainda exista um eleitorado fiel.”
Percepções sobre partidos
Além do reposicionamento político, os especialistas apontam que a condenação de Bolsonaro reacende debates sobre confiança institucional. Para Amaral, a forma como diferentes públicos interpretam o caso é decisiva.
“A confiança nas instituições é moldada menos pelo episódio isolado e mais pelas formas como diferentes públicos interpretam sua legitimidade. Parte da sociedade vê as decisões como demonstração de que os mecanismos democráticos funcionam. Outra parte interpreta tudo por um prisma político, influenciada por ambientes comunicativos fragmentados”, observa.
Petter avalia que a esquerda, por sua vez, busca ampliar seu alcance eleitoral, mesmo com o “desgaste” de Lula.
“O PT e o lulismo têm feito acenos cada vez mais explícitos ao eleitor conservador. Se isso terá efeito significativo, só o pleito dirá. Mesmo com o desgaste de Lula e dúvidas sobre sua capacidade de governar, os bons resultados econômicos e medidas como a ampliação da isenção do imposto de renda funcionam como ativos importantes”, analisa.
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