Conflito entre Israel e Hezbollah é ‘muito pior’ que de 2006, diz brasileira que mora no Líbano
Escalada do conflito, iniciada no último dia 30, é a primeira desde 2006, quando os dois países estavam em guerra
Brasília|Giovana Cardoso, do R7, em Brasília
Com o aumento dos ataques de Israel contra o Hezbollah, moradores do Líbano se viram obrigados a buscar refúgio em locais afastados da zona de confronto. A escalada do conflito, iniciada no último dia 30, é a primeira desde 2006, quando os dois países estavam em guerra. Ao R7, a brasileira Francieli Yammine, que mora no Líbano há 20 anos e presenciou o primeiro conflito, acredita que a guerra atual é “muito pior”, com ataques mais fortes e maior destruição.
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“A situação de agora está muito pior que a da guerra de 2006. Dessa vez, Israel matou o grande líder do Hezbollah, matou vários integrantes do grupo também. As explosões estão muito mais fortes e tem muito mais destruição. Então, não tem nem comparação com 2006″, disse
As tensões começaram a subir após o grupo terrorista Hezbollah iniciar uma série de ataques contra Israel, desde 7 de outubro do ano passado, em apoio ao Hamas, que atua na Faixa de Gaza. Em 2006, ao menos 1.191 pessoas morreram no conflito, segundo a Cruz Vermelha. Já este ano, o número se aproxima de 2 mil.
Em meio aos ataques de Israel, Francieli informou que o país emite comunicados aos moradores indicando sobre um possível bombardeio no local em que estão. “Cada vez que ele vai atingir um ponto, ele está avisando antes para que as pessoas saiam. Porque ele está atacando nos locais onde estão as munições do Hezbollah”, disse.
Apesar da escalada, Francieli, que lidera o grupo Amizade Brasil no Oriente, voltado para assistência a brasileiros e libaneses, explica que ainda não tem pretensão de deixar o país. Segundo ela, o local que está localizada é seguro e diz acreditar que a guerra não chegará por lá. Entretanto, ela explica que caso o conflito fique pior, voltará ao Brasil.
Atualmente, cerca de 20 mil pessoas com nacionalidade brasileira vivem no Líbano, representando a maior comunidade do Brasil no Oriente Médio. Diante do conflito, o governo federal montou um plano para resgatar os brasileiros no território. Segundo o Itamaraty, cerca de 3 mil pessoas querem voltar ao Brasil, mas a quantidade de viagens será definida conforme a demanda. O primeiro voo brasileiro sairá de Lisboa com destino a Beirute neste sábado (5).
Desafios da guerra
Francieli explica que não presenciou nenhum ataque. Porém, outras famílias que fazem parte do grupo Amizade Brasil relatam ter enfrentado trânsito de ao menos 15 horas para chegarem em um local seguro.
“A experiência de presenciar uma guerra é uma coisa muito triste. É muita pressão na nossa cabeça, é muita tristeza. É uma coisa real que a gente não quer acreditar, porque são prédios caindo, pessoas que estão dentro sendo esmagadas. Então, dá muita dor no nosso coração e os nossos filhos presenciando tudo isso, também é uma realidade muito triste”, completou.
A representante do grupo destacou, ainda, a importância de fazer doações e ajudar refugiados em meio aos ataques. “Tem milhares de pessoas refugiadas, e está aumentando cada vez mais”, disse. Segundo Francieli, o grupo em que faz parte é focado em arrecadar doações e ajudar pessoas que foram forçadas a deixar suas casas no sul do Líbano e no Vale do Bekaa.
Influência do Brasil na guerra
Desde a escalada do conflito entre Israel e o Hezbollah, o governo brasileiro tem se mostrado contra os ataques no Líbano. Apesar de o país tentar ocupar uma posição de protagonismo na diplomacia global, as críticas feitas ao governo israelense podem limitar o papel do Brasil na resolução de um acordo de paz entre as nações envolvidas. Para especialistas ouvidos pelo R7, mesmo que o país se apresente como um ator capaz de mediar conflitos internacionais, a relação atual com Israel coloca o Brasil em uma condição pouco favorável e influente para a situação.
A professora de relações internacionais Natali Hoff explica que a nação atuante como mediadora em um conflito deve ser aceita por ambas as partes. Neste caso, a especialista entende que o Brasil deve ocupar um papel mais significativo no fomento de discussões sobre paz.
“Acredito que a gente vai ter uma posição bastante limitada nesse conflito. Nosso papel vai se dar mais no sentido de o Brasil ser uma das vozes no âmbito internacional que busca defender uma postura da comunidade internacional, por meio dos países que realmente têm capacidade de influenciar”, diz.
Para Hoff, mesmo que o Brasil tenha uma relação próxima com o Irã, país importante na discussão devido à ligação com o Hezbollah, há “capacidade limitada de exercer influência”.