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CPI: relatório traz cinco núcleos que atuavam para desinformar

Minuta do documento diz que núcleo formado pelo presidente, Flávio, Eduardo e Carlos comandou difusão de fake news

Brasília|Isabella Macedo e Sarah Teófilo, do R7, em Brasília

Relatório será lido nesta quarta-feira
Relatório será lido nesta quarta-feira

A última minuta do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, elaborada pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), e obtida pelo R7, aponta a existência de uma organização formada por cinco núcleos que atuou na divulgação de desinformação no âmbito da pandemia. Segundo o documento, há um núcleo de comando; um formulador; o núcleo político; o de produção e disseminação das fake news; e o de financiamento.

O formulador, de acordo com o documento, atua de dentro do Palácio do Planalto e é conhecido como "gabinete do ódio". Fazem parte dele, conforme o documento, Carlos Bolsonaro, o assessor da Presidência da República Filipe Martins e outras cinco pessoas. "O objetivo primordial dessa organização é gerar engajamento da base de apoio popular ao Presidente da República, ao mesmo tempo em que promove ataques para enfraquecer seus adversários políticos", diz o texto.

Outro núcleo, de acordo com a minuta, oferece suporte político às decisões da organização e é formado por deputados federais, sendo eles: o líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR); Osmar Terra (MDB-RS); Carlos Jordy (PSL-RJ); Carla Zambelli (PSL-SP); e Bia Kicis (PSL-DF). O documento cita ainda o empresário Carlos Wizard, o ex-ministro Ernesto Araújo, o ex-presidente da Funag (Fundação Alexandre de Gusmão) Roberto Goidanich, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), o ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni, e o pastor Silas Malafaia. "Eles incentivaram as pessoas ao descumprimento das normas sanitárias impostas para conter a pandemia e adotaram condutas de incitação ao crime", pontuou.

Comando


O presidente Jair Bolsonaro e três dos seus filhos — o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos) — aparecem como integrantes do núcleo de comando. Segundo o texto, "esse núcleo tem a função de dirigir a organização e orientar estrategicamente as ações realizadas nos níveis inferiores da hierarquia, dando-lhes diretrizes e informando-lhes prioridades de ação".

Conforme o relator, a organização atuava divulgando desinformação sobre a pandemia, com informações falsas sobre o vírus, críticas às medidas não farmacológicas, questionamentos em relação às vacinas e incentivo à não adoção de ações indicadas pela comunidade científica para conter a disseminação do coronavírus, como o uso de máscara.


O relator frisou que a investigação da CPI reuniu elementos que evidenciam omissão do governo federal na conscientização da população sobre a pandemia. O documento cita momentos em que Eduardo, Flávio e Carlos divulgaram desinformação. No caso do deputado, o relator lembra que, em dezembro do ano passado, quando o chamado tratamento precoce já era considerado ineficaz pela comunidade científica, Eduardo Bolsonaro continuava a defendê-lo.

A minuta também destaca que Flávio Bolsonaro é um "nome frequentemente citado nas conversas dos grupos de WhatsApp dos disseminadores que tiveram seus sigilos quebrados" e tem relações diretas com perfis falsos e disseminadores. "Relatório da Polícia Federal (PF) em poder desta CPI mostra que perfis falsos utilizados para disseminar desinformação e ameaças eram operados por assessores de Flávio Bolsonaro", explica o relatório.


O documento elaborado por Renan Calheiros cita que, no caso de Carlos Bolsonaro, as investigações localizaram menções a Carlos e suas orientações sobre conteúdos em grupos de WhatsApp, "formados principalmente por disseminadores e integrantes do já citado 'Gabinete do Ódio'." E acrescenta: "Além disso, postagens em suas redes sociais demonstram também seu empenho na disseminação de fakes news e teorias negacionistas".

Produção e disseminação

Conforme a minuta do relatório, o núcleo de produção e disseminação de fake news é formado por três grupos: os influenciadores sociais, os veículos de mídia organizados e os perfis anônimos. Aqui, Calheiros cita 15 sites que, segundo ele, tentam aparentar um funcionamento de empresas jornalísticas. Ele também enumera cinco influenciadores na disseminação de desinformação e 17 influenciadores digitais, com muitos seguidores.

Outro núcleo mencionado pelo relator é o do financiamento, que, segundo ele, "fornece os recursos materiais e financeiros necessários para sustentar economicamente a organização e permitir a realização das ações decididas pelo núcleo de comando". E o senador pontua: "Entre outras ações, esse núcleo gera o impulsionamento das publicações, consoante determinação do núcleo de comando".

O relator cita os empresários Otávio Fakhoury, vice-presidente do Instituto Força Brasil, investigado pela CPI, e Luciano Hang, dono das lojas Havan, como integrantes do núcleo de financiamento.

Bolsonaro

Na minuta do documento, que poderá conter algumas alterações antes da sua leitura, na próxima quarta-feira (20), Calheiros aponta a utilização de recursos da administração pública para desinformação da população. O relator cita ainda a propaganda antivacina, que disseminava informações falsas sobre riscos dos imunizantes, e lembra que o próprio presidente da República praticou abertamente o discurso antivacina.

"Com efeito, Jair Bolsonaro, nos últimos dezoito meses, foi autor de declarações que minimizaram a pandemia, que promoveram tratamentos sem comprovação científica e que repudiaram as vacinas, validando, na mais alta esfera política e midiática, a desinformação circulada nos perfis oficiais de instituições federais. Tais discursos comprovam que o Presidente da República minimizou o impacto da pandemia, que vitimou mais de 600 mil brasileiros, utilizando sua função pública para tentar legitimar informações falsas", ressaltou.

Segundo o relatório, a postura do mandatário gerou consequências na opinião pública e na condução das ações de combate ao vírus. "Ao assumir a Presidência da República, ele [Bolsonaro] assume as responsabilidades e competência do cargo em que ocupa, de forma que suas declarações têm a natureza de decisões oficiais, que influenciam fortemente a população. Desta maneira, conclui-se que o Presidente foi ator relevante na propagação de comunicação falsa em massa no que se refere à pandemia de Covid-19", frisou.

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