Defesa de oceanos para equilíbrio do planeta: o que os mapuche levaram até Belém
Sob desafios de adaptação climática, preservação do mar entra na pauta de uma COP pela 1ª vez e indígenas do Chile contam experiência
Brasília|Lis Cappi, do R7, enviada especial a Belém
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“A água nos une, no coração. Nos lembra que somos memórias”. As palavras da indígena Pachita Calfin, parte do povo mapuche, que fica em área costeira do Chile, ecoou por corredores da COP30 no dia em que a conferência discutiu os impactos das mudanças climáticas aos oceanos.
Entre debates e negociações, um pouco da rotina dos mapuche, que significa “gente do mar”, também fez parte dos espaços oficiais da conferência nessa terça-feira (18). Eles vieram do Chile ao Pará com a intenção de reforçar a importância no cuidado com o planeta, a partir das experiências vividas em comunidade e repassada por gerações ao longo de 12 mil anos.
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“Nós não somos donos de nada. Vivemos nesse planeta emprestado e dependemos do coração da mãe natureza”, diz a líder espiritual Pachita a um grupo que acompanhou a exibição do documentário Lafenche, que conta os desafios enfrentados pelo povo para a preservação da cultura e da água.

O cuidado com a natureza como uma forma de aproximação a saberes também é um alerta de Lafkenche Calfin, diretor de uma associação do povo Lafenche. Em relato ao R7, ele destaca a importância do mar para a vida e ressalta a necessidade de cuidado contra as mudanças climáticas.
“Para nós, é tão importante que a gente tome consciência da importância que tem o mar na preservação da natureza, na preservação do mundo, do universo e nas mudanças climáticas. O mar não só nos alimenta, não só é um meio de transporte, também é um meio de limpar a energia”, conta.
A perspectiva que passa por gerações vai ao encontro do que mostra a ciência. Oceanos e mares são apontados como responsáveis por absorver 90% do calor do planeta e ajudam a regular as variações do clima, mas também sofrem impacto das mudanças climáticas.

Relatório divulgado pelo Instituto Postdam, em 2024, mostra que os oceanos estão cada vez mais ácidos e impróprios para vida marinha. O cenário é atribuído a altos níveis de emissões causadas pela queima de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás.
Pela urgência, o tema foi discutido pela primeira vez em uma COP e chegou a contar com a publicação do “Pacote Azul”, que estima uma redução de emissões de 35% em 2050, caso sejam implementadas soluções climáticas junto aos oceanos.
“Isso significa que muda a química do oceano, muda a química de várias espécies, e a gente tem um efeito em cascada em alterar a saúde do oceano. Ele deixa de fazer todo o serviço que faz”, explica Marinez Scherer, enviada especial da COP30 para os Oceanos.
Professora da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), ela também defende a discussão do ecossistema como caminho necessário para a preservação. “Se a gente não olhar para o oceano, a gente está deixando de olhar 70% do planeta Terra”, diz.
“Para isso, a gente precisa de acordos multilaterais, a gente precisa desse mutirão, a gente precisa que os países todos coloquem o dedo da consciência e saibam que a gente não pode continuar com esse mesmo modo de queima de combustíveis fósseis, porque é a grande carga. Vai para florestas, para a evolução e para a vida de todos nós”, considera.
‘Nenhum plano sobre o mar sem os povos’
Movimentos ligados a pesca artesanal e comunidades tradicionais também se manifestaram ao longo da COP30, com pedido para que territórios sejam reconhecidos e consultados para projetos de conservação. O documento reforça a ideia de que nenhum plano ligado ao mar deve ser definido sem consulta aos povos afetados.
“Sob o discurso de equilíbrio entre fósseis e renováveis, o Estado brasileiro e grandes empresas vêm expandindo zonas de exploração petrolífera e instalação de eólicas offshore sobre os territórios pesqueiros, sem consulta e sem reparação”, diz trecho de carta assinada por 168 organizações e divulgada no âmbito da conferência.
Os pedidos também fizeram parte de marcha que tomou ruas de Belém, em ações contra a mudança do clima.
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