O responsável pela Casa Dorothy, Roberto Pereira, foi preso pela segunda vez nessa quarta-feira (23), no âmbito da Operação OZ, que apura maus-tratos aos animais alojados no abrigo. De acordo com o mandado de prisão, Roberto pedia doações em Pix pelas redes sociais e não prestava contas sobre o paradeiro do dinheiro. Além disso, a Justiça afirma que ele não foi encontrado no endereço informado e desrespeitou as medidas cautelares, que incluem manter o endereço atualizado. Roberto nega as acusações, alega perseguição e diz que vai recorrer. Os policiais usaram como material para justificar o novo mandado um pedido feito por Roberto, após a operação, por doações para pagar o tratamento de um dos animais. A reportagem teve acesso a comprovantes de pagamento de um caso neste intervalo e constatou que os valores foram debitados diretamente para a clínica veterinária que realizou os procedimentos médicos. Pelas redes sociais, o R7 não localizou pedidos de Pix para contas pessoais do acusado. No documento judicial, consta que o investigado teria tentado adulterar a cena do crime e passado a publicar conteúdo difamatório contra os agentes que atuaram na operação. Roberto foi preso pela primeira vez no dia 11 de abril, dois dias após a PCDF (Polícia Civil do Distrito Federal) realizar a operação no abrigo de animais. No momento do cumprimento dos mandados, o alvo não estava no local, então os policiais detiveram outra pessoa ligada à administração da casa. Imagens gravadas durante a ação pelos agentes mostram os cães presos no local, com pouca ventilação e em meio a fezes e urina. Segundo a polícia, foram encontrados sacos de ração, mas estavam trancados em um cômodo. Além disso, segundo os investigadores, três cachorros estavam em condições de saúde mais precárias, magros e com o rosto machucado.O R7 foi até a Casa Dorothy no último dia 16, antes da segunda prisão ocorrer, para apurar o caso. Na data, 25 cachorros estavam no abrigo, enquanto outros quatro estavam sendo submetidos a cirurgias de castração. No momento em que a equipe foi ao local, segundo Roberto, três animais estavam desaparecidos e outros foram recolhidos pelos tutores após a operação. Além disso, outros três — com saúde mais debilitada e que aparecem nas imagens divulgadas pela polícia — estavam se tratando de leishmaniose em clínicas veterinárias. À reportagem, ele alegou que os policiais “não fizeram resgate, apenas abriram os portões e deixaram os cachorros fugirem” no dia da operação. Após ser solto no dia 12 de abril, ele disse ter voltado para o abrigo e encontrado os animais do lado de fora, alguns na beira da rodovia.Roberto não estava presente no dia da ação policial porque, segundo ele, foi até Goiânia para buscar animais que precisavam de cuidados. Ele relatou ter tomado ciência da operação por telefone e não foi avisado pelas autoridades. “Fiquei sem entender porque eu não fui notificado, não fui procurado antes. Não teve uma advertência, não teve orientação. Só chegaram, entraram e abriram os portões”, disse.Em nota, a PCDF comunicou que houve tentativas de escutar o investigado, mas que ele vem “se furtando ao chamamento da autoridade pessoal” e foi procurado em sua residência com intimação formal, mas sem sucesso.Sobre a higiene do local, o administrador reconheceu a necessidade de melhorias. Ele justificou ter precisado vender bens pessoais para custear o projeto, e que, atualmente, o local funciona apenas com doações e ajuda voluntária, o que dificulta a manutenção do espaço. O aluguel da casa é dividido entre duas amigas, e o projeto é tocado sem auxílio do governo, apesar já ter sido solicitado, segundo Roberto. Ele recebe ração dos pontos em que realiza feiras de doação de animais, além de ganhar equipamentos de clínicas veterinárias.“Uma pessoa sozinha, cuidar, levar os cachorros para adoção, correr atrás da alimentação e limpeza não é fácil. Sei que precisava de mais atenção. Algumas vezes, solicitei ajuda de voluntários quando vi que estava muito pesado e quando tinha dinheiro em caixa, mas não era sempre”, afirmou.No período em que ficou preso, em decorrência da primeira fase da operação, Roberto contou que o abrigo foi invadido por assaltantes, que levaram câmeras de segurança, remédios caros, camas, caixas de transporte e outros bens.A operação foi deflagrada após a dona de um dos cachorros sob os cuidados de Roberto denunciar o abrigo por maus-tratos. Segundo a PCDF, a tutora enviou vídeos que “evidenciavam situação alarmante e degradante, com cães submetidos a condições incompatíveis com a dignidade animal”. A polícia ainda relata que os cães apresentavam “visíveis sinais de sofrimento físico e psicológico, conforme comprovado pelos vídeos da denunciante”.Inicialmente, a PCDF divulgou que 58 cachorros foram resgatados durante a ação no abrigo. Em comunicado enviado ao R7, o órgão estimou que 61 animais estavam alojados na casa, localizada no Tororó. A apuração da polícia revelou que Roberto cobrava R$ 400 por cada cão deixado no local e solicitava doações pelas redes sociais, mas os recursos não eram destinados para o cuidado deles.À reportagem, Roberto alegou que o destino das doações era a compra de recursos como remédios, ração, camas e roupas para os bichos. Ele afirmou que possui as comprovações, que vai recorrer judicialmente e que já estava providenciando os laudos para provar que os animais estão saudáveis. “Eu poderia estar em casa. Não precisava estar metido aqui [no abrigo]. Nunca precisei. É difícil você sozinho manter um abrigo dessa proporção. 58 animais é um número muito grande. Mas aí eu penso, são 58 fora da rua. Eu gosto de fazer isso, amo fazer isso, me identifico muito. Vai ser difícil parar. Talvez eu me organize melhor e procure a ajuda de alguém que possa fornecer estrutura para esses animais”, disse Roberto.*Sob supervisão de Bruna LimaFique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. 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