Eleitores venezuelanos percorrem longas distâncias no Brasil para votar neste domingo
Embaixada da Venezuela em Brasília é o único local de votação para venezuelanos no Brasil; refugiados não votam
Brasília|Edis Henrique Peres, do R7, e Laísa Lopes, da RECORD
Venezuelanos que moram no Brasil tiveram que percorrer longas distâncias para votar na eleição presidencial da Venezuela neste domingo (28). A Embaixada do país em Brasília é o único centro de votação no Brasil. Os eleitores escolhem entre o atual presidente Nicolás Maduro e outros dez candidatos. O opositor mais competitivo é Edmundo González Urrutia, apoiado pela líder antichavista María Corina Machado, impedida de concorrer ao pleito.
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Alguns venezuelanos vieram de outros estados até Brasília ou até mesmo do exterior. Sonia Mejia é uma dessas pessoas. Moradora de São Paulo e confeiteira, vive no Brasil há 17 anos. Quando soube que o local de votação seria em Brasília, decidiu gastar suas economias para garantir seu voto. “Tive que comprar a passagem, me deslocar e pagar hospedagem para vir”, relata.
Questionada sobre o motivo de percorrer mais de 1.000 km entre a cidade onde mora e a capital do país, Sonia foi direta: “penso que se eu quero ver uma mudança no meu país, tenho que fazer alguma coisa, tenho que me esforçar. Não posso esperar que os outros decidam por mim. Eu quero exercer o direito de voto que eu tenho”, afirmou.
Sonia relatou que o processo de votação na embaixada foi simples, bastando apresentar o documento de identidade para ter acesso à urna eleitoral. No entanto, ela e outros venezuelanos questionam as regras impostas pelo consulado.
“Não podia entrar com bolsa, com celular, com óculos, nem com nada disso. Deixamos tudo aqui do lado de fora. Pelo menos tinha o pessoal aqui do lado de fora que ficou olhando [os pertences de Sonia], mas se não tivesse ninguém, como eu ia fazer?”, indaga.
Ao chegar à embaixada, os eleitores precisam deixar os pertences na portaria, onde são revistados com um detector de metais. A entrada com celular e óculos de sol é proibida. Além disso, eles não recebem um comprovante de votação como no Brasil; apenas a tinta no polegar indica a participação no pleito.
De acordo com as regras eleitorais para votação no exterior, apenas eleitores com residência fixa fora da Venezuela podem participar do pleito, ou seja, refugiados não têm o direito de votar. Também é exigido um documento de identidade, mesmo que vencido, e um passaporte válido.
Restrições
A reportagem também ouviu relatos de tentativas de barrar eleitores que estava de bermuda. “Eles não queriam deixar um rapaz entrar para votar porque ele estava de bermuda. Aí falamos para eles [consulado] mostrar onde estava a lei que proibia que ele entrasse. Como não tinha nenhuma norma do tipo, eles acabaram tendo que permitir que ele votasse”, relata uma das venezuelanas que pediu para não ser identificada.
Neste domingo (28), o Conselho Nacional Eleitoral publicou uma nota desmentindo as informações falsas sobre regras para a votação dos eleitores. Entre elas, o CNE citava um falso código de vestimenta e recomendava que os eleitores fossem votar com as roupas do dia a dia.
“Conforme estabelece a Lei Orgânica dos Processos Eleitorais, os membros da Junta Eleitoral exigirão o documento de identidade do eleitor, mesmo quando ele estiver vencido, como único documento válido para o exercício do direito de voto”, disse.
Contribuição para o país
Pedro Antonio Romero Rojas, de 64 anos, precisou percorrer uma distância ainda maior do que Sonia para garantir o seu direito ao voto. Ele veio de Houston, nos Estados Unidos, para o Brasil. “Morei aqui no Brasil de 2003 a 2004, e depois de 2008 a 2015. Estava cadastrado no consulado do Rio de Janeiro enquanto estive aqui. Agora, mesmo já estando morando em Houston desde 2019, eles me jogaram para votar aqui em Brasília”, detalhou.
Ele conta que passou os últimos dias monitorando o local de votação, pois há relatos de mudanças de última hora feitas pelo governo. “O cenário para os venezuelanos no exterior é muito ruim, já somos quase 8 milhões no mundo, mas pouquíssimas pessoas estão com o direito a votar. No Brasil, por exemplo, dos mais de 450 mil venezuelanos, apenas 1.050 foram habilitados”, relata.
Para Pedro, garantir o exercício do voto é uma contribuição para o país. “Entendo que é um direito que temos de exercer. O nosso voto importante para o futuro do país”, disse.
Manuel Quilarque, 37, jornalista e morador de São Paulo, foi outro venezuelano que não quis deixar passar a oportunidade de contribuir com o resultado eleitoral. “Eu estava registrado para votar em São Paulo, quando ainda tinha consulado no estado. Desde março, eu estou sempre revisando o registro do governo para ver qual seria minha localidade para voto, até que saiu em abril o local definitivo como Brasília”, conta.
Manuel está no Brasil há 15 anos e avalia o voto como uma oportunidade de mudança na Venezuela. “Afinal eu estou aqui faz quinze anos e não é muito o que pude fazer pela Venezuela, então o pouco que eu posso eu tenho que fazer. É um momento histórico, que pode significar uma mudança radical da nossa história dos últimos 25 anos e para as próximas gerações. É uma responsabilidade muito grande, poucas pessoas que tem a capacidade de votar no exterior e eu sou uma delas, então seria uma total irresponsabilidade não fazer isso”, defende.
A embaixada venezuelana no Brasil iniciou a votação às 6h da manhã (horário de Brasília) e encerrará às 18h. A expectativa é que o vencedor das eleições seja anunciado até o início da madrugada de segunda-feira (29).