Em 2020, Bolsonaro disse que 'jamais' teria seu telefone apreendido
Declaração foi feita quando o ex-presidente era investigado por suspeita de interferência na Polícia Federal
Brasília|Rafaela Soares, do R7, em Brasília
Em maio de 2020, o então presidente, Jair Bolsonaro, afirmou que nunca teria seu celular apreendido, após o ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello ter consultado a Procuradoria-Geral da República sobre a possibilidade de confiscar o aparelho para apurar as possíveis interferências relatadas pelo ex-ministro Sergio Moro na Polícia Federal.
"Jamais pegarão meu telefone", disse o ex-presidente em entrevista à Jovem Pan. "Só se fosse um rato para entregar meu telefone”, declarou.
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Na operação da PF desta quarta-feira (3), que apura falsificação de dados sobre vacinação contra a Covid, o ex-presidente teve o aparelho apreendido. Em postagem em sua rede social, a ex-primeira-dama Michelle negou que seu aparelho tivesse sido levado pelos agentes da PF.
Investigação de interferência na PF
Bolsonaro foi investigado por uma susposta interferência na Polícia Federal em 2020. O inquérito foi aberto após o atual senador Sergio Moro (União-PR), que na época deixava o cargo de ministro da Justiça, ter afirmado que o presidente havia dito em uma reunião que interferiria na superintendência da corporação no Rio de Janeiro. O ato, de acordo com as acusações, ocorreria para que o chefe do Executivo protegesse amigos e parentes no estado.
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Na época, o ministro do STF, Celso de Mello, enviou à PGR um pedido para a apreensão dos celulares de Bolsonaro e do filho Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro. O general Augusto Heleno, que ocupava o cargo de chefe do Gabinete de Segurança Institucional, afirmou em nota que o pedido de apreensão do celular do presidente era "inconcebível" e, até certo ponto, "inacreditável".
A Polícia Federal concluiu que o ex-presidente não interferiu na corporação.
Fraudes em cartões de vacina
A casa do ex-presidente Jair Bolsonaro em Brasília foi alvo de mandado de busca e apreensão nesta quarta-feira por agentes da Polícia Federal, na ação que investiga a atuação de um grupo suspeito de inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde. Bolsonaro deve prestar depoimento à PF ainda nesta quarta-feira (3).
Ao todo, os agentes cumpriram 16 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão preventiva, em Brasília e no Rio de Janeiro. Entre os presos na ação estão o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid Barbosa, e os ex-assessores especiais do ex-presidente Sérgio Cordeiro e Max Guilherme.
Além de suposta fraude no certificado de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro, a PF investiga adulterações nos documentos da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, da filha mais nova do casal, Laura, do deputado federal Guttemberg Reis (MDB-RJ), do tenente-coronel Mauro Cid e da filha dele.
Segundo a PF, as inserções falsas teriam ocorrido entre novembro de 2021 e dezembro de 2022 e tiveram como consequência "a alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante — no caso, a condição de imunizado contra a Covid-19 dos beneficiários".
Com isso, os envolvidos puderam emitir os respectivos certificados de vacinação e utilizá-los para burlar as restrições sanitárias vigentes impostas pelos poderes públicos (de Brasil e Estados Unidos), que visavam impedir a propagação da doença.
Os fatos investigados configuram, em tese, crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores.