Em conversa com presidente do Chile, Lula diz que Brasil quer esfriar tensão na Venezuela
Fontes ouvidas pela RECORD afirmaram que petista está ciente do custo político doméstico que terá de pagar pelo posicionamento
Brasília|Do R7, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a posição do Brasil é de esfriar a tensão na Venezuela, após o resultado das eleições no país. Fontes ouvidas pela RECORD relataram que, durante um jantar na noite dessa segunda-feira (5) com o presidente do Chile, Gabriel Boric, o petista disse estar ciente do alto custo político doméstico que vai pagar pelo posicionamento.
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Na tarde de ontem, Lula havia defendido transparência nos resultados das eleições venezuelanas, após reunião bilateral com o Boric. Em declaração à imprensa na capital Santiago, o petista destacou que Brasil e Chile defendem de maneira “intransigente” a democracia. Lula pediu, ainda, diálogo entre o governo venezuelano de Nicolás Maduro e a oposição, em respeito à “soberania popular”.
“Nossos ideais convergem na defesa intransigente da democracia. Também expus as iniciativas que tenho empreendido com presidentes Gustavo Petro [da Colômbia] e López Obrador [do México] em relação ao processo político na Venezuela. O respeito pela soberania popular é o que nos move a defender a transparência dos resultados. O compromisso com a paz é o que nos leva a conclamar as partes ao diálogo e promover o entendimento entre governo e oposição”, declarou Lula, ao afirmar que convidou o presidente chileno para a “reunião de líderes democráticos contra o extremismo”.
Logo depois de comentar o cenário eleitoral venezuelano, Lula lamentou o fato de o Brasil ter apoiado a ditadura chilena de Augusto Pinochet, entre 1973 e 1990. O regime, que derrubou o presidente eleito Salvador Allende, foi um dos mais violentos da América Latina.
“Lamentei que o Brasil tenha em sua história a triste mácula de ter apoiado a ditadura chilena. Sabemos que a arbitrariedade é inimiga do bem-estar e que a democracia não se sustenta sem um Estado que garanta direitos”, destacou Lula.
Cenário venezuelano
Lula e Boric não têm a mesma opinião sobre o processo eleitoral venezuelano. O pleito no país ocorreu no último dia 28 de julho, e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, foi proclamado vencedor no dia seguinte pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral), órgão venezuelano responsável pelo pleito. O resultado é contestado por parte da comunidade internacional e pela oposição venezuelana.
O governo brasileiro afirma que só vai se posicionar sobre a reeleição de Maduro quando houver a publicação de todas as informações das urnas, presentes nas atas de votação — o que ainda não foi feito pelas autoridades venezuelanas. Por enquanto, o Brasil não aceita nem refuta a reeleição de Maduro.
Na última terça-feira (30), Lula se pronunciou pela primeira vez sobre o assunto e declarou que não há nada “grave” nem “anormal” no processo eleitoral venezuelano. O petista também pediu que o CNE publique as atas com as informações das urnas.
Boric comentou o assunto logo depois da proclamação da vitória de Maduro e afirmou que o Chile não vai reconhecer resultado que não seja “verificável”. “O regime de Maduro deve entender que os resultados que publica são difíceis de acreditar. A comunidade internacional e especialmente o povo venezuelano, incluindo os milhões de venezuelanos no exílio, exigem total transparência das atas e do processo, e que observadores internacionais não comprometidos com o governo respondam pela veracidade dos resultados”, escreveu nas redes sociais.
Na quinta (2), os governos do Brasil, México e Colômbia emitiram um comunicado conjunto sobre as eleições venezuelanas. No texto, os países citam “controvérsias sobre o processo eleitoral” e pedem aos agentes venezuelanos “cautela” para evitar o agravamento da situação no país. O documento pede, ainda, a publicação dos dados eleitorais completos das atas de votação. “O princípio fundamental da soberania popular deve ser respeitado mediante a verificação imparcial dos resultados”, destacam os países.
Agenda
Lula está no país vizinho desde a noite desse domingo (4). Além da assinatura dos acordos bilaterais, a viagem do petista inclui reuniões abertas e privadas, além de encontros com os presidentes dos demais poderes chilenos e a participação em um fórum empresarial. A ida de Lula ao Chile ocorreria em maio, mas foi adiada em razão das enchentes no Rio Grande do Sul.
O governo brasileiro quer diversificar o comércio com o Chile — o Brasil é o terceiro maior parceiro comercial do país, com US$ 12,25 bilhões. Os principais produtos comprados pelos brasileiros do país vizinho são cobre, pescados e minérios. Os destaques das vendas do Brasil para o Chile são petróleo, automóveis e carne.
Os dois países mantêm relações bilaterais há 180 anos. Os acordos assinados incluem parcerias no turismo, comércio, economia, meio ambiente, direitos humanos, agricultura, energia, governo digital, justiça, segurança, ciência e tecnologia.