Em reunião, Anderson Torres cita tempo 'ameaçador' antes das eleições de 2022
Ex-ministro disse que viu PF mudar a história do Brasil há anos; Torres também comentou sobre as urnas eletrônicas
Brasília|Gabriela Coelho e Rafaela Soares, do R7, em Brasília
Ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do governo de Jair Bolsonaro, Anderson Torres afirmou em reunião entre o então presidente e seus ministros, que "era ameaçador o que estava acontecendo" no período que antecedia as eleições de 2022. A reportagem teve acesso a mais de uma hora de gravação do encontro, que traz Bolsonaro se exaltando diversas vezes, com ofensas, reclamações da própria equipe e palavrões.
"Do lado de lá, é ameaça direto. Questione... quer dizer, a gente não pode questionar. Qualquer um aqui tem medo de ser hackeado. Nesse sistema desse tamanho. A gente precisa atuar agora. Não estou atropelando poder nenhum, atropelando ninguém. A polícia sempre teve um viés colaborativo, cuidado com isso, cuidado com aquilo", disse.
O ex- ministro disse que viu a Polícia Federal mudar a história do Brasil há anos e que tem que tomar muito cuidado chegando um governo que tem outra postura.
"Senhores, todos vão se f**. Quero deixar bem claro isso. Eu quero que cada um pense previamente no que vai fazer. Mas todos vão se f**. A teta secou e tem gente desesperada. A força que vai vir contra a gente agora, é praticamente isso. A gente ganhando a eleição é o fim disso no Brasil. É o momento de entender o que está sendo colocado aqui. Entender o que vai acontecer no Brasil nos próximos meses", disse.
Sobre a questão das urnas, o ex-ministro disse que iria acompanhar passo a passo das eleições para fazer as perguntas necessárias. "É uma luta. Os questionamentos serão feitos, vamos atuar de forma incisiva. A gente deve mostrar nossa preocupação com tudo o que está acontecendo no Brasil e é isso."
A reunião ministerial realizada em 5 de julho de 2022, perto das eleições presidenciais, teve como intuito exigir um alinhamento de todos os líderes das pastas do Executivo para garantir uma ação antes do resultado das urnas. "Sabemos que se a gente reagir depois das eleições vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira", disse Bolsonaro.
Na tentativa de justificar ações contundentes para se manter no poder, Bolsonaro aborda crises políticas vividas em países vizinhos e afirma que o Brasil não pode fazer parte do núcleo comandado por governos de esquerda. "Olha o trenzinho das Américas. Cuba, Venezuela, Argentina, Chile, Colômbia. Será que vamos entrar nesse trenzinho?", questiona.
Bolsonaro é um dos alvos da operação da Polícia Federal realizada na manhã da quinta-feira (8) em dez estados para apurar a participação de pessoas na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado democrático de Direito. O objetivo era obter vantagem política com a manutenção do ex-chefe do Executivo no poder. Foi determinada a apreensão do passaporte do ex-presidente, e os agentes aplicaram outras medidas restritivas a ele.