Em último dia de cúpula, países dos Brics promovem diálogo com nações convidadas
Bloco se reúne na Rússia, em evento focado na criação da categoria de países parceiros; Brasil será presidente do grupo em 2025
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília
O último dia da 16ª Cúpula dos Brics, nesta quinta-feira (24), deve ser marcado por diálogos com países e organizações convidadas. O encontro ocorre em Kazan, na Rússia, país que preside os Brics até dezembro deste ano. Em 1º de janeiro de 2025, o Brasil assume o comando do grupo. A reunião do segmento ampliado nesta quinta (24) terá como tema “Brics e Sul Global: construindo juntos um mundo melhor”.
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Cerca de 30 países e organizações internacionais foram convidados para a sessão. A expectativa é que o encontro seja marcado por debates a respeito de questões do cenário internacional, como o conflito no Oriente Médio. Nessa quarta (23), os Brics aprovaram a declaração final da cúpula — o documento tem 134 pontos.
Inicialmente, os Brics reuniam Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Desde o início deste ano, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos fazem parte do bloco. É a primeira cúpula com os novos integrantes.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da cúpula nessa quarta (23) por videoconferência. O brasileiro discursou na sessão plenária aberta do evento, na qual foi feita a leitura de relatórios anuais de trabalho do NBD (Novo Banco de Desenvolvimento), conhecido como Banco dos Brics e presidido pela Dilma Rousseff.
Lula viajaria à Rússia no último domingo (20), no entanto, um acidente doméstico fez com que o petista cancelasse a ida. Na tarde de sábado (19), o presidente caiu no banheiro do Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência, em Brasília, e precisou levar cinco pontos na nuca. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, representa o Brasil na cúpula.
Países parceiros
Esta edição da cúpula tem como principal pilar a criação da categoria de países parceiros, discutida na última reunião do grupo, na África do Sul, no ano passado. Nessa quarta (23), os Brics fecharam a lista dos países candidatos ao status de parceiros — 13 nações foram consideradas, entre elas Cuba e Bolívia. A Venezuela, do ditador Nicolás Maduro, foi excluída da turma, após articulação do governo brasileiro.
Estão no grupo de convidados Turquia, Indonésia, Argélia, Belarus, Cuba, Bolívia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã, Nigéria e Uganda. Agora, cada nação precisa bater o martelo sobre a entrada em um futuro próximo, a fim de evitar situações semelhantes à da Argentina.
O país sul-americano, governado por Javier Milei, enviou uma carta para informar que não vai ingressar nos Brics. O convite para a Argentina havia sido formalizado na gestão de Alberto Fernández, em agosto de 2023. No entanto, Milei recusou a iniciativa. O ingresso, caso fosse efetivado, seria a partir deste ano.
Discurso de Lula
O presidente brasileiro defendeu a criação de meios de pagamento alternativos para transações financeiro-econômicas entre os países-membros dos Brics. A declaração foi dada durante a participação, por videoconferência. Lula também abordou assuntos como meio ambiente, cobranças a países em desenvolvimento e produção de vacinas.
“Não se trata de substituir nossas moedas, mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar, que almejamos, se reflita no sistema financeiro internacional. Essa discussão precisa ser enfrentada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas não pode mais ser adiada”, argumentou.
Lula busca reduzir a dependência em relação ao dólar e também para amenizar os custos operacionais de transações que envolvem os países. Na avaliação de economistas, a ideia pode trazer resultados positivos para a economia do bloco, mas não deve ser facilmente implementada.
Em seu discurso, o presidente brasileiro criticou a atuação de países que estão em guerra, como Rússia, anfitriã do evento, e Israel. “Como disse [o presidente da Turquia, Recep Tayyip] Erdogan, Gaza se tornou o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo. Essa insensatez se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano. Evitar uma escalada e iniciar as negociações de paz também é crucial no conflito entre Ucrânia e Rússia”, acrescentou Lula.