Entenda como o Brasil pode ser impactado com o resultado das eleições nos EUA
Valor do dólar, investimentos em energia sustentável e taxas de importação podem ser áreas influenciadas a depender do vencedor
Brasília|Beatriz Oliveira*, do R7, em Brasília
O período de votação das eleições presidenciais de 2024 nos Estados Unidos termina nesta terça-feira (5). Enquanto isso, o mundo todo assiste à corrida eleitoral para saber quem será o novo líder da maior economia do planeta: Kamala Harris, do partido Democrata, ou Donald Trump, do Republicano.
Diversos países acompanham a disputa de perto para antecipar o futuro econômico, comercial e político, que pode ser influenciado pelo resultado das urnas. No Brasil, não é diferente, já que os EUA são o segundo maior parceiro no comércio exterior. Apenas em 2023, a troca de bens e serviços entre as duas nações chegou a US$ 75 bilhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
O R7 consultou especialistas em economia e política internacional para entender de que maneira as eleições americanas podem influenciar nas relações entre o Brasil e os Estados Unidos nos dois possíveis cenários de vitória.
Exportação
O Brasil tem força na exportação de produtos industriais, e as principais demandas dos EUA são por petróleo, ferro, aço, café e celulose. Esse cenário pode mudar caso Trump seja eleito. Durante a campanha do ex-presidente, um dos principais pontos defendidos foi a aplicação de tarifas nas alfândegas. Ou seja, a taxação sobre a importação de produtos.
O especialista em finanças e investimentos Hulisses Dias explica que, se isso acontecer, os mercados exportadores do Brasil teriam menos vez para vender produtos para o mercado americano, já que ficaria mais caro para exportar.
“Com a proposta do Trump de colocar tarifas alfandegárias, as indústrias têxtil, siderúrgica, de papel e celulose teriam menor competitividade, já que elas teriam que pagar um imposto para colocar produtos no país”, explica.
Um exemplo foi a criação de tarifas para a importação de aço anunciada por Trump em 2019. Isso foi uma característica protecionista explorada no mandato anterior do ex-presidente, como aponta o professor de direito internacional, mestre e doutor pela USP (Universidade de São Paulo), Luiz Phillipe Ferreira. Ele explica que o estilo de governo do candidato procura valorizar o mercado interno do país.
“Essa política protecionista faz parte do slogan ‘faça os Estados Unidos grande novamente’, o que acaba voltando as políticas dele para incentivar a produção nacional. Se o Brasil produzir algo manufaturado que seja semelhante a alguma produção ativa no país, eles vão privilegiar o produto interno”, diz.
Para os especialistas, isso pode ser algo mais flexível caso Kamala vença. Durante a campanha, a democrata não deixou claras as intenções para o comércio exterior, mas aponta ser mais adaptável ao mercado de exportação já praticado durante o governo Biden.
Valor do dólar
O coordenador de comércio internacional da BMJ Consultores Associados Josemar Franco explica que a taxa de câmbio do real com o dólar pode ser impactada a depender dos resultados, e isso pode implicar na elevação da taxa de juros pelo Banco Central dos EUA.
“As políticas econômicas de cada candidato podem resultar em maior ou menor inflação. Com isso, se houver um aumento da inflação norte-americana, a taxa de juros pode ser elevada pelo Banco Central dos Estados Unidos, fazendo com que exista uma migração de fluxos de investimentos para o país, fortalecendo o dólar diante das moedas de países emergentes”, pontua.
Segundo os especialistas consultados, as propostas de Kamala não devem afetar o dólar, que pode se manter com um ritmo semelhante ao observado no governo atual do país.
Ferreira explica que, caso a importação de produtos seja taxada, o valor do dólar pode aumentar. “Se a gente tiver algum problema nas relações de compra e venda com os Estados Unidos, a tendência é sempre de o dólar aumentar, pois, mesmo que a gente exporte muito, ele continua alto”, completa.
Meio ambiente
A campanha de Kamala Harris aborda diversos pontos ambientais, como o desenvolvimento do uso de energia e combustíveis limpos e o comprometimento dos EUA com o Acordo de Paris, que tenta combater as mudanças climáticas. Por outro lado, Trump sugere que o país seja retirado do tratado, além de não incentivar a compra e produção de veículos elétricos.
Ferreira afirma que, se Harris vencer, a pauta de desenvolvimento sustentável deve crescer no congresso americano. “Isso pode impulsionar ainda mais as discussões de comércio e sustentabilidade, apesar da resistência política dos Republicanos no Congresso dos EUA. No entanto, a vitória de Trump resultaria em uma redução dos esforços norte-americanos no desenvolvimento de fontes mais sustentáveis de energia”, diz.
A proposta de governo da democrata poderia trazer investimentos para a produção de energia renovável no Brasil. Esse mercado é responsável por grande movimento no país, principalmente na área de energia eólica e solar, como explica Dias. Ele também aponta que, caso Trump ganhe, o incentivo seria maior para o agronegócio, pois o republicano tem políticas menos restritivas em relação ao meio ambiente.
“Caso a Kamala vença, a indústria de energias renováveis será mais beneficiada. A gente teria uma maior proteção ambiental contra queimadas e impacto ambiental de novas fronteiras agrícolas, e isso seria negativo da visão do agronegócio”, pontua.
*Sob supervisão de Leonardo Meireles