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R7 Brasília

Esboço das regiões administrativas do DF já constava no plano de construção de Brasília

Mesmo que não tenham saído do papel, projetos orientaram parte das áreas já chamadas de 'cidades-satélites', segundo especialistas

Brasília|Luiz Calcagno, do R7, em Brasília

Planta do setor H Norte de Taguatinga, em 1962
Planta do setor H Norte de Taguatinga, em 1962

Embora o principal objetivo fosse erguer uma estrutura capaz de abrigar os prédios necessários para transferir a capital do país do Rio de Janeiro para um planalto desabitado no centro do país, o desenho das regiões administrativas do Distrito Federal já constava no plano de construção de Brasília, que completa 63 anos nesta sexta-feira (21).

O traçado das quadras que compõem o Plano Piloto, área nobre da capital, se repete nas regiões que já foram chamadas de "cidades-satélites". E a lógica da cidade planejada por Lucio Costa que conta com edifícios imponentes de Oscar Niemeyer está presente nos desenhos setorizados não apenas das localidades mais antigas — das novas também, segundo especialistas.

Sem tanto verdee com menos amplitude, os endereços residenciais se encaixam em quadriláteros que orbitam áreas comerciais, setores hospitalares e escolas públicas distribuídas pela vizinhança, exatamente como a nova capital.

A paisagem ocupada, representada em croquis como o que abre esta reportagem, ajudou um grupo de pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) a reconhecer a lógica da estrutura de Brasília nas regiões administrativas.


Os desenhos foram retirados da documentação da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) — disponíveis no Arquivo Público do Distrito Federal e do Arquivo Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro — e de documentos da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Distrito Federal (Seduh).

Coordenadora do estudo, a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UnB, Maria Fernanda Derntl, mostra duas faces diferentes dessa programação (veja a entrevista no vídeo acima).


De um lado, os croquis e documentos comparados com as imagens de regiões como Ceilândia e Taguatinga, por exemplo, mostram que a ocupação do DF foi pensada. De outro, revelam que apesar do modelo do Plano Piloto nas "ex-cidades-satélites", o planejamento foi feito com menos qualidade. "É o mesmo ideário urbanístico aplicado com grande desigualdade", explica a pesquisadora.

Além disso, não houve tempo hábil para que o planejamento das regiões administrativas fosse executado de acordo com os planos, porque a pressão populacional ainda nos anos de construção da nova capital exigiram que o governo federal apressasse a construção dessas localidades.


Parte do estudo foi publicado em um artigo intitulado "Brasília e suas unidades rurais: planos e projetos para o território do Distrito Federal entre fins da década de 1950 e o início da década de 1960".

Fora do plano

Ficaram de fora do plano original, por exemplo, as Unidades Socioeconômicas Rurais (User). O plano era a construção de cinco comunidades agrárias ao redor de Brasília que abasteceram toda a região com alimentos. Uma dessas unidades ficaria próximo de Taguatinga e já tinha um traçado mais desenvolvido que a própria cidade. No entanto, o desenho foi debruçado sobre a área onde ficariam as pequenas fazendas (veja a galeria abaixo).

"Taguatinga começou a ser construída muito antes do que se pensava, e tinha um traçado muito mais improvisado [que o da User local]. As unidades rurais já eram bem mais detalhadas. Mas não se adaptaram à realidade da construção e ocupação do território", explica Maria Fernanda Derntl. Mesmo nesses casos, a lógica da construção da cidade acompanhou a setorização prevista para Brasília, ressalta a pesquisadora.

Planta da unidade socioeconômica rural de Taguatinga com o traçado da cidade (acima à dir.)
Planta da unidade socioeconômica rural de Taguatinga com o traçado da cidade (acima à dir.)

O problema do abastecimento

Matérias de jornais e revistas como a Cruzeiro, do fim da década de 1950, citavam as unidades rurais como a garantia que a nova capital nunca enfrentaria problemas de abastecimento. "O desenho das unidades rurais, nós encontramos no Arquivo Nacional. Havia um convênio do Conselho Coordenador de Abastecimento, que prestava assessoria para a Novacap para desenhar o plano de abastecimento de Brasília", conta a especialista. Mesmo nesses casos, o traçado lembra o de Brasília.

Mapa da rede de abastecimento de Brasília
Mapa da rede de abastecimento de Brasília

Cada unidade contaria com armazéns, usinas de laticínios e demarcação de terras para cultivo, além de escolas, bibliotecas, hospitais, hotéis, administrações regionais e até residências públicas destinada aos técnicos responsáveis por cada região. Para a pesquisadora, embora não tenham saído do papel, os planos orientaram parte da ocupação do território do DF.

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Havia ainda uma rede hospitalar pensada com base no Hospital de Base, apoiado pelos hospitais distritais e os rurais, que não saíram do papel, e os hospitais das satélites, que seriam as unidades de saúde de menor complexidade, papel que acabou executado pelos centros de saúde.

Desenho do plano médico-hospitalar do DF de acordo com a complexidade dos hospitais
Desenho do plano médico-hospitalar do DF de acordo com a complexidade dos hospitais

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