Ex-vice-presidente do PL de SP é suspeito de abusar de filha e netas
Foi instaurado inquérito policial na Delegacia da Mulher; o caso segue em segredo de Justiça no Fórum da Comarca de Suzano
Brasília|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília
A secretária municipal de Administração de Suzano (SP), Cíntia Renata Lira da Silva, usou as redes sociais para denunciar publicamente seu pai, José Renato da Silva, ex-vice-presidente do Partido Liberal (PL) de São Paulo, por abuso sexual. De acordo com a denúncia, ele teria cometido estupros contra a própria filha e ao menos duas netas.
O caso foi registrado na Delegacia da Mulher de Suzano em 12 de abril, e o suspeito teria abusado de Cíntia e de duas de suas filhas. A reportagem confirmou a informação junto à delegacia. Ao R7, a secretária destaca que foi instaurado um inquérito policial para apurar os fatos. O caso segue em segredo de Justiça no fórum da comarca do município paulista.
A reportagem tentou contato com o suspeito, mas não conseguiu localizá-lo. O PL, procurado pelo R7, não se manifestou sobre o caso.
No relato, Cíntia conta que o abuso começou quando tinha 6 anos de idade. "Meu pai me convidou para tomar banho com ele. Esse banho mudou a minha vida", lembra. "Após o abuso ocorrido, eu apaguei sete anos da minha memória e uma grande parte da minha infância", continua.
Na sequência, ela afirma que o pai também abusou de duas de suas filhas quando elas tinham 6 e 7 anos, respectivamente. "Achei que poderia superar em silêncio e guardar esse segredo para sempre. Como só eu e ele sabíamos, achei que dava para abafar tudo, até o dia em que eu descobri que ele, meu pai, também tinha abusado das minhas filhas. Elas continuaram sendo abusadas pelos nove anos seguintes."
Cíntia acreditou que, com o passar do tempo, poderia esquecer, "apagar as imagens da minha mente e seguir como se nada tivesse acontecido", disse. "A coragem [para denunciar] que nunca tive enquanto filha tive enquanto mãe."
"Sem dúvida, foi o pior dia da minha vida. Não sabia sequer que direção tomar. Relembrar esse dia dói mais do que relembrar o próprio abuso que sofri. Como ele pôde? Com minhas filhas? Por semanas senti vergonha, culpa, fragilidade, tristeza e indignação", descreve.
De acordo com a secretária, após o ocorrido, ela e seus filhos se uniram. "Foi difícil chegar até aqui e enfrentar tudo de frente. Mas, após pensar muito, cheguei à conclusão de que falar publicamente poderia ajudar mais pessoas, mais crianças, mais mulheres", defende.
"O silêncio que muitas de nós mantemos só reforça a cultura que impede mais mulheres de falar", argumenta Cíntia.
José Renato da Silva foi presidente da Câmara Municipal de Suzano, entre 1993 e 1994, além de ter ocupado a cadeira de vice-presidente do PL em São Paulo — posto que foi ocupado, em 12 de abril deste ano, por José Francimário Vieira de Macedo. A legenda é comandada nacionalmente por Valdemar Costa Neto e tem entre seus quadros o presidente Jair Bolsonaro.
O suspeito de ter cometido os crimes trabalhou no gabinete da liderança do PL na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), mas foi demitido imediatamente após a denúncia.
"Recebi a informação com indignação e estarrecimento. A violência sexual contra vulneráveis é o mais repudiável dos crimes e exige uma postura austera. O caso segue em segredo de Justiça. Me solidarizo e deixo expresso meu total apoio às vítimas", disse em nota o deputado estadual André do Prado (PL-SP).
Em nota enviada à reportagem, a Secretaria de Segurança Pública confirmou que "o caso é investigado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Suzano por meio de inquérito policial, o qual tramita sob segredo de Justiça".