O oceano é uma peça essencial para o sistema climático da Terra. Cobrindo cerca de 70% da superfície da Terra, os mares regulam as temperaturas globais, influenciando nos padrões de chuvas. Contudo, as atividades que geram dióxido de carbono e retém calor para a atmosfera, como queima de combustíveis e desmatamentos, têm sido cada vez mais frequentes, de modo que, as marés não têm conseguido amortecer as mudanças climáticas. De acordo com a meteorologista Andrea Ramos, as variações climáticas enfrentadas pelo Brasil, como ondas de calor e chuvas, são influenciadas pelos estados dos oceanos, que estão cada vez mais quentes. “Os oceanos transportam umidade, eles jogam umidade para o continente, e com isso, aumentam as instabilidades, fazendo com que haja padrões de chuvas. No verão, enfrentamos chuvas, calor e umidade, e devido a isso você tem o aumento da instabilidade e, por consequência, tem chuvas fortes e deslocamentos de frentes frias”, explica. O relatório sobre o estado do oceano, da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) de 2024, revelou que a taxa de aquecimento dos mares duplicou em 20 anos, com 2023, registrando um dos maiores aumentos desde 1950.De acordo com a organização, as temperaturas oceânicas aumentaram em média 1,45°C, com pontos críticos acima de 2°C no Mediterrâneo, no Oceano Atlântico Tropical e Oceanos do Sul. As causas dos recordes atuais de aquecimento dos oceanos ainda não são bem conhecidas, mas seus impactos já são sentidos em todo o mundo. A OMM (Organização Meteorológica Mundial) emitiu um alerta indicando que os oceanos absorveram mais de 90% do calor excessivo retido pelos gases com efeito de estufa desde 1971, e já estão a passar por “mudanças que serão irreversíveis nos próximos séculos”.De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), a catástrofe que atingiu o estado do Rio Grande do Sul, em maio de 2024, foi resultado de aquecimento das águas do Pacífico e do Atlântico Sul, que concentraram e intensificaram as precipitações. Com as águas mais quentes, os oceanos têm menos capacidade de absolver dióxido de carbono da atmosfera, o que provoca um aumento no aquecimento do clima, gerando as ondas de calor. Neste início de ano, alguns estados marcaram temperaturas superiores a 40°C. Apesar de ser esperado o calor pela estação do ano, as temperaturas bateram recordes, afetando Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia e Pernambuco. A previsão é que até este domingo (9), as temperaturas fiquem acima da média em parte do Sul, em Mato Grosso do Sul e em São Paulo.O aumento da temperatura das águas também influencia nas frentes frias e nos volumes de chuvas, devido à quantidade de umidade emitidas pelos oceanos. Apesar do calor em várias cidades, o sul do país passará por uma frente fria entre sábado (8) e domingo (9), provocando queda nas temperaturas.De acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Metereologia), na faixa norte do Brasil, as chuvas vão persistir durante o fim de semana, principalmente, no norte de Mato Grosso e nos litorais do Maranhão e do Piauí, que estão sob aviso laranja (perigo) para chuvas intensas.Sobre essa variação climática em pouco tempo, a meteorologista Andrea Ramos explica que o cenário deve continuar assim nos próximos anos. “O nosso novo normal vai ser esse aumento desses extremos. Dias embutidos em ondas de calor e frio, incêndios e chuvas. A tendência é essa.”*Sob supervisão de Thays Martins