Governo retira diplomatas da Embaixada do Brasil em Damasco, capital da Síria
Movimento ocorre pela falta de segurança no local; presidente Bashar al-Assad foi deposto do cargo por grupos extremistas
Brasília|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva iniciou, nesta segunda-feira (9), a retirada do corpo diplomático da Embaixada do Brasil em Damasco, capital da Síria. O movimento ocorre após a queda do presidente Bashar al-Assad e a tomada de poder pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham.
Especialistas avaliam que o país localizado no Oriente Médio está em um ponto de transição que pode determinar seu rumo nas próximas décadas.
Leia mais
A avaliação do governo brasileiro é de que não há segurança no local para a equipe diplomática. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, o grupo brasileiro saiu Damasco acompanhado de outras delegações internacionais e em comboio com a ajuda da ONU (Organização das Nações Unidas). O destino é o Líbano.
A gestão federal já havia pedido aos brasileiros que estão na região que procurem o Itamaraty para deixar o país. A Síria vive uma guerra civil, desde 2011, que ganhou novos contornos na semana passada, quando grupos rebeldes islâmicos que lutam contra o governo de Bashad Al-Assad tomaram a cidade de Aleppo.
O golpe de oposicionistas ocorreu durante o final de semana e, no domingo (8), Assad e a família deixaram o país rumo a Moscou. A concessão de asilo humanitário ao agora ex-presidente da Síria foi uma decisão do próprio presidente russo, Vladimir Putin, segundo informou o porta-voz do Kremlin.
O grupo opositor, que atuou na tomada de poder da capital e de outras cidades, é liderado por Abu Mohammed al-Jolani, ex-integrante da organização terrorista Al-Qaeda, que agora tenta se apresentar como mais moderado.
Um dos braços do grupo é a frente al-Nusra. Afiliada à Al-Qaeda, o movimento surgiu em 2012 como uma das principais forças de oposição armada durante a guerra civil na Síria. Diante do cenário, a influência externa será crucial para o futuro do país, com destaque para as nações vizinhas e das grandes potências mundiais.
Os Estados Árabes prometeram trabalhar para garantir que a queda de al-Assad não desencadeie uma nova onda de agitação contra os governantes da região e um ressurgimento de grupos ou movimentos extremistas. A fragmentação das forças militares e a necessidade de criar um governo de unidade nacional são alguns dos obstáculos.
Há o alerta para o risco de conflitos internos entre as diferentes facções que atuam no país. “Há muitos traumas na região. Boas notícias transformam-se em más notícias muito rapidamente”, disse Majed al-Ansari, conselheiro sênior do primeiro-ministro do Catar. “Não queremos que o que aconteceu em outras nações após a Primavera Árabe aconteça na Síria. Gostaríamos muito de ver uma transição para um Estado viável que dê apoio ao povo.”
A Turquia, a Rússia e os Estados Unidos terão um papel determinante na forma como essa transição será conduzida. Joze Pelayo, diretor associado da organização Atlantic Council, acredita que a transição na Síria oferece uma oportunidade para os Estados Unidos recuperarem influência em Damasco e ajudarem na realização de eleições livres e justas. “O apoio dos EUA pode ser bem-vindo por um futuro governo sírio, considerando especialmente a animosidade contra o Irã e a Rússia.”
Veja alguns cenários possíveis para a Síria a partir de agora:
· Transição de poder: a oposição síria, apesar de fragmentada, tem a oportunidade de estabelecer um governo de transição que possa levar o país a eleições livres. Isso permitirá que o povo sírio determine seu próprio futuro;
· Relações internacionais: a nova Síria pode buscar normalizar relações com Israel e reorganizar a dinâmica regional. Isso poderia incluir a cooperação com países como os Estados Unidos, Catar e Turquia para estabilizar a região;
· Desafios internos: a oposição enfrenta a tarefa de unir várias facções e lidar com questões sobre as relações com seus vizinhos. A Turquia, por exemplo, já expressou disposição em ajudar a garantir a unidade e segurança da Síria;
· Criação de uma República Democrática Síria: Fundação de uma República Islâmica da Síria, ou até mesmo a divisão do país. Cada um desses cenários traz seus próprios desafios e implicações para a estabilidade regional;
· Estabilidade regional: a mudança de poder na Síria pode ter impactos significativos na estabilidade da região, com potências como o Irã e a Rússia tentando manter sua influência enquanto novos atores emergem.