O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou nesta quinta-feira (20) o antecessor, Paulo Guedes, e afirmou que o ex-ministro da Economia de Jair Bolsonaro vai pagar imposto de renda no Brasil por causa de recursos mantidos em paraísos fiscais. “Vamos pegar o caso dos fundos fechados e offshores. Quem tinha, como meu antecessor, que tinha muito dinheiro em paraíso fiscal, ele não pagava imposto. Agora isso acabou. Você tem dinheiro em paraíso fiscal, e o Estado Brasileiro sabe que você tem, então [o Estado] vai cobrar o imposto de renda”, disse Haddad em entrevista ao programa “Bom dia, ministro”, da Empresa Brasil de Comunicação. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva apresentou a proposta de isentar do IR quem ganha até R$ 5.000 por mês na última terça-feira (18). A medida deve beneficiar cerca de 10 milhões de pessoas. O Palácio do Planalto afirma que o projeto é neutro, sem ganho de tributo para a União.Para bancar a isenção do IR para quem ganha até R$ 5.000, a gestão quer cobrar o imposto dos ricos do país. São 141 mil contribuintes (0,13% do total) que passarão a contribuir pelo patamar mínimo. Esse grupo é composto por aqueles que recebem mais de R$ 600 mil por ano e não contribuem com a alíquota efetiva de até 10%.A proposta abrange também os dividendos no exterior. Como R7 mostrou, Guedes e o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, possuem empresas fora do país e mantiveram negócios nesses locais mesmo depois de fazerem parte do governo federal, em 2019, apontou a Pandora Papers, investigação sobre offshores abertas em paraísos fiscais, como as Ilhas Virgens Britânicas. Guedes e Campos Neto disseram que os empreendimentos estão declarados na Receita Federal e negam irregularidades. O ex-ministro de Bolsonaro abriu uma empresa no local em 2014. Desde que assumiu a pasta da Economia em janeiro de 2019, a empresa de Guedes no Caribe teve ganho de quase R$ 15 milhões só com a valorização do dólar - cerca de R$ 15 mil por dia de governo. Para especialistas, houve conflito de interesses.Durante 2020, por exemplo, o Brasil ficou sem arrecadar cerca de R$ 45 bilhões por causa da falta de tributação de pessoas físicas e jurídicas que mantêm empresas e investimentos em países considerados paraísos fiscais, os quais adotam leis financeiras mais simples para atrair investidores de todo o mundo. O valor seria suficiente para o Brasil vacinar toda a população do país contra a Covid-19 duas vezes.