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R7 Brasília

Incêndios florestais e 167 dias sem chuva: como foi o ano mais seco da história do DF

Para o próximo ano, Centro-Oeste pode sofrer influência do La Niña, evento que favorece resfriamento de temperaturas

Brasília|Edis Henrique Peres e Giovanna Inoue, do R7, em Brasília

Brasília foi encoberta por fumaça de queimadas Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em 2024, Brasília bateu o recorde de dias sem chuvas em toda a série histórica da capital do país. Ao todo, foram 167 dias de estiagem, período em que o Distrito Federal chegou a registrar 7% de umidade relativa do ar, em setembro, o número mais baixo já registrado pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

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O ano teve forte influência do fenômeno climático El Niño, que colaborou para o maior período de estiagem e os dias mais secos. Durante o longo período sem chuva, o DF registrou altas temperaturas, sendo que no dia mais quente do ano, em 5 de outubro, os termômetros marcaram 37,5°C.

A combinação entre calor, falta de chuva e baixa umidade criou o cenário ideal para incêndios florestais, e algumas das principais unidades de conservação do DF ficaram em chamas, a exemplo da Flona (Floresta Nacional) e do Parque Nacional de Brasília.

As queimadas fizeram o céu da capital ficar encoberto de fumaça. Isso ocorreu não apenas em função dos incêndios nas florestas do DF, mas também do fogo na vegetação de outros locais do país.


Fumaça no céu de Brasília

Em 25 de agosto, ainda sem registro de chuvas, a capital do país amanheceu encoberta por fumaça de incêndios florestais vindos de São Paulo, da Amazônia e do Pantanal matogrossense.

A fumaça ficou no céu de Brasília por quase três dias, até se dissipar na atmosfera.


Flona

O incêndio na Flona começou em 3 de setembro e atingiu 2.500 hectares, quase 46% do território da floresta. Foram necessários cinco dias para as chamas serem completamente extintas por bombeiros e equipes do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

A Polícia Federal periciou o local para investigar possíveis causas e responsáveis pelo fogo. Segundo o ICMBio, três pessoas foram vistas no local antes de as chamas começarem.


O incêndio foi o pior dos últimos dez anos no local. O chefe da Floresta Nacional de Brasília e da Área de Proteção Ambiental da Bacia do Descoberto, Fabio Miranda, esclarece que além do incêndio do começo de setembro, outros pontos de fogo foram registrados durante o ano, e a área total devastada chegou a 60% da Flona.

Miranda conta que, no incêndio de setembro, com exceção de um tamanduá-bandeira, que teve as patas queimadas, animais maiores, como o lobo-guará ou antas, conseguiram fugir e não foram afetados. Entretanto, animais menores não tiveram essa sorte. “Tivemos relatos de muitos rastejantes mortos. Foram uma infinidade de cobras, não conseguimos contar”, afirma.

À época, o coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação em Biodiversidade e Restauração Ecológica do ICMBio, Alexandre Sampaio avaliou que “sem investimento, a floresta pode não se recuperar”.

Leia mais: Saiba o que acontece depois que o fogo de um incêndio florestal é apagado

Parque Nacional

Dias depois, em 15 de setembro, um incêndio de grandes proporções atingiu o Parque Nacional e demorou quatro dias para ser controlado. Pelo menos 1.473 hectares foram consumidos pelas chamas. Cerca de 400 profissionais atuaram no combate ao fogo.

As chamas se alastraram para debaixo da terra, o que dificultou o trabalho dos bombeiros. O presidente do ICMBio, Mauro Pires, avaliou que o incêndio do Parque Nacional trouxe um “prejuízo incalculável” em danos ambientais para fauna e flora.

Uma tenda de apoio foi montada no local para o resgate de animais silvestres e domésticos que foram afetados pelo fogo. Duas antas foram resgatadas, uma de porte médio e outra de porte grande. Uma delas foi levada para o Zoológico para tratamento, mas não resistiu aos ferimentos e morreu dias depois.

Por que 2024 foi tão seco?

A meteorologista do Climatempo Andrea Ramos explicou as ocorrências que favoreceram o recorde de estiagem e as altas temperaturas no Distrito Federal durante 2024.

“Em 2023 e 2024, tivemos situações bem interessantes de se observar. No ano passado, tivemos a confirmação do El Niño, em julho, e a partir daí passamos a ter recordes de temperaturas até setembro de 2024. Isso não foi apenas em Brasília, mas a Terra como um todo registrou as maiores temperaturas em relação aos últimos anos de observação”, disse.

“Em 2023/2024, tivemos um El Niño forte, que favoreceu esse cenário de altas temperaturas, pois ele influencia o ciclo de chuvas. Ou seja, ele diminuiu as chuvas na região Norte e Nordeste, e aumentou as chuvas na região Sul, tanto que tivemos as enchentes no Rio Grande do Sul”, acrescentou.

O El Niño também ocasiona um sistema de alta pressão, com uma massa de ar seco e quente que favorece a falta de chuvas e as altas temperaturas.

“Ela [massa de ar seco] começou a atuar a partir de abril. Isso ocasionou uma diminuição das chuvas que precisavam ser registradas em abril e maio no DF, e aí tivemos o nosso recorde histórico de estiagem, devido à atuação desse anticiclone [área de alta pressão atmosférica com ventos em uma rotação oposta à rotação da Terra]”, destacou Ramos.

Qual a previsão climática para 2025?

Para 2025, um fenômeno que pode influenciar o clima em todo o mundo é o La Niña.

Ele acontece quando há um resfriamento da faixa Equatorial Central e Centro-Leste do Oceano Pacífico, e ocorre a cada três ou cinco anos. Segundo a OMM (Organização Meteorológica Mundial), há 60% de probabilidade de surgirem condições do La Niña no fim deste ano.

Caso se desenvolva, o fenômeno aumenta as chuvas no Norte e Nordeste e traz chuvas irregulares de tempo seco no Centro-Sul.

Outro aspecto do fenômeno é trazer condições mais favoráveis para a entrada de massas de ar frio no país. Segundo Andrea Ramos, a atuação do La Niña deve ser fraca.

“Ela está com essa características de não ser muito forte. O La Niña aumenta o volume de chuvas no Nordeste, mas na parte central e sudeste do país ele se relaciona com a temperatura”, explicou.

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