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Investigação revela novos subornos da Odebrecht no México

Os pagamentos de propina ocorreram entre 2006 e 2011, conforme planilhas obtidas pela organização peruana IDL Repórteres

Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília

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A planilha revela 25 transações ilegais realizadas a funcionários mexicanos entre 2006 e 2011
A planilha revela 25 transações ilegais realizadas a funcionários mexicanos entre 2006 e 2011

No centro do maior escândalo de corrupção do Brasil, a Construtora Odebrecht teve novos esquemas de suborno revelados por investigações jornalísticas no México. Conforme planilhas obtidas pela organização peruana IDL-Repórteres, a empresa realizou pagamentos de propina de pelo menos U$ 9,2 milhões entre 2006 e 2011 a funcionários do governo mexicano. 

As informações constam nas planilhas contábeis do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, uma secretaria secreta da empresa que registrava os pagamentos de propina a diversos atores da América Latina. Nelas, não há o nome verdadeiro dos agentes que receberam a propina, mas codinomes. Segundo fontes da Odebrecht, uma mesma pessoa poderia ter mais de um pseudônimo, assim como um mesmo apelido poderia se referir a um grupo de beneficiados. 


As novas revelações fazem parte da Rede Estruturada de Investigações Jornalísticas, um consórcio de veículos de imprensa de vários países latino-americanos. No entanto, apesar de não terem vindo a público, os dados já haviam sido disponibilizados pela própria construtora à época das delações premiadas no âmbito da Operação Lava Jato.

Ao todo, as planilhas indicam 25 pagamentos de propina a funcionários mexicanos. Os repasses ocorreram em anos anteriores às transações ilegais realizadas entre a construtora e o ex-diretor da Pemex Emilio Lozoya Austin. O economista mexicano teria recebido U$ 10,5 milhões entre 2012 e 2014 para ajudar a empresa a fechar contratos como a refinaria de Tula.


De acordo com a nova informação, 22 das 25 transações foram realizadas em 2011, totalizando U$ 8,6 milhões relacionados à obra "PH Michoacán". De acordo com informações do Mexicanos Contra a Corrupção e Impunidade (MCCI), a obra se refere à barragem Francisco J. Múgica. Os outros três pagamentos ocorreram em 2006, em favor de "Persico", no valor de U$ 590 mil. 

O funcionário por trás do codinome "Oceano" foi o que mais se beneficiou, com 19 repasses entre janeiro e junho de 2011 que totalizaram US $ 8,1 milhões. Já "Xavier 2" recebeu US $ 250.000, "Xavier" obteve U$ 215.000 e "Meninos" embolsou U$ 15.000.


"O projeto Michoacán referido nos novos documentos foi executado durante o período de Lázaro Cárdenas Batel e Leonel Godoy como governadores desse estado, e durante os mandatos de seis anos de Vicente Fox e Felipe Calderón", afirmou o MCCI. 

As revelações ocorrem em meio à pressão pelo andamento do julgamento envolvendo Lozoya. O presidente mexicano, López Obrador, afirmou, na última semana, que há um atraso no caso do ex-diretor da Pemex e disse não existir um pacto de impunidade. Lozoya utilizou o recurso de delação premiada para reduzir sua pena ou punição, assim como o ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht


Marcelo foi condenado a 19 anos de prisão e atualmente cumpre pena em regime semiaberto. As delações, junto com as de outros membros da construtora, envolveram 12 governadores de estado, 61 parlamentares, além de três ex-presidentes da República: Michel Temer, Dilma Rousseff e Luís Inácio Lula da Silva. 

Ao R7, a empresa disse que as informações decorrem da colaboração prestada desde 2016 pela Odebrecht aos órgãos competentes, que mantêm a custódia da base de dados e dos sistemas eletrônicos relativos ao extinto "setor de operações estruturadas". "A companhia está à disposição das autoridades", informou por e-mail.

"Nos últimos cinco anos, desde a implantação de reconhecidos mecanismos rígidos para fortalecer seu sistema de governança corporativa e integridade, a companhia tem conseguido demonstrar uma atuação ética, íntegra e transparente em todos os países em que atua, prevenindo e evidenciando a inexistência de qualquer novo delito", completou. A Odebrecht foi alvo da Operação Lava Jato nos últimos anos e está em plano de recuperação judicial. A empreiteira fechou acordo de leniência com a força-tarefa de Curitiba e teve dezenas de executivos que fizeram delação premiada, entre eles Marcelo Odebrecht.

Relembre

Além de Marcelo Odebrecht, mais de 70 executivos da construtora prestaram depoimento como parte do acordo com a Justiça brasileira, configurando a maior colaboração premiada do mundo. O relator da Lava Jato, ministro Edson Fachin, autorizou, com base nos relatos, a abertura de 76 inquéritos para investigar políticos.

No início das investigações, no entanto, os membros da Odebrecht negavam ter havido pagamento ilícito a fim de obter contratos em obras públicas. Em fevereiro de 2016, a Polícia Federal descobriu a existência do setor secreto para pagamentos de propina a políticos e funcionários da Petrobras. Após a revelação, a tática da construtora mudou e os envolvidos se puseram à disposição da Justiça.

A empresa, então, divulgou um comunicado, reafirmando o "compromisso com o Brasil". Foram 950 oitivas realizadas por mais de 100 procuradores, além de um acordo de leniência com o governo federal, em que a empresa reconheceu os danos à administração pública pela prática de corrupção e prometeu colaborar. 

Por isso, a Odebrecht tem o compromisso de devolver R$ 6,8 bilhões em 20 anos. A empresa também firmou acordos parecidos no exterior, com autoridades dos Estados Unidos e Suíça, em 2016. À época, a construtora admitiu ter pago mais de US$ 1 bilhão em propina em 12 países.

No fim de 2020, a Odebrecht mudou de nome e passou a se chamar Novonor. "Não estamos apagando o passado [...], estamos agora olhando para o que queremos ser: uma empresa inspirada no futuro. Este é o nosso novo norte", anunciou, na ocasião, o acionista majoritário do grupo, Maurício Odebrecht. 

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