Lula cobra Zelensky e Putin a negociarem acordo para dar fim à guerra na Ucrânia
O presidente brasileiro disse que os líderes de Ucrânia e Rússia precisam se sentar frente a frente para conversar sobre o conflito
Brasília|Augusto Fernandes, do R7, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quinta-feira (22) que os presidentes da Ucrânia, Volodmir Zelensky, e da Rússia, Vladimir Putin, precisam negociar pessoalmente um acordo de paz para dar fim à guerra que envolve os dois países. A afirmação foi dada durante uma entrevista a jornalistas na Itália.
"A primeira coisa a fazer é convencê-los a parar a guerra e sentar para conversar, até que a gente encontre um denominador comum. Foi assim que o mundo se resolveu na Segunda Guerra Mundial, foi assim que se construiu a União Europeia", afirmou o petista.
De acordo com ele, uma eventual rendição por um dos lados não vai resolver a situação. "Um acordo de paz não é uma rendição. Em um acordo de paz, os dois envolvidos têm que ganhar alguma coisa, senão não tem acordo. Se você tem uma proposta que um tem que ceder 100%, não é acordo. É uma rendição, uma imposição. São os ucranianos e os russos que precisam decidir."
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Lula criticou os dois presidentes por ainda não terem cessado a guerra. "Não sabemos como está a cabeça dos dois presidentes que estão em guerra. Até o momento, todos acham que vão vencer. O fato concreto é que vidas estão sendo ceifadas", reclamou.
O presidente disse ainda que "não é justo gastar bilhões de dólares ou de euros com uma guerra desnecessária quando a gente poderia tentar estar vivendo em um momento de paz, porque o mundo está precisando disso".
"É preciso ter gente envolvida em discutir a questão da paz. É preciso colocar os atores em uma mesa de negociação. É preciso parar de atirar e é preciso encontrar uma solução pacífica, porque o mundo tem 800 milhões de seres humanos que vão dormir toda noite sem ter o que comer."
Acordo do Mercosul com a União Europeia
O presidente também abordou o tema do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, que está em fase de revisão desde 2019 e tem sido criticado por países europeus, que mostram preocupação com o desmatamento da Amazônia.
Os membros da União Europeia querem a garantia de que a intensificação do comércio entre os blocos não vai resultar no aumento da destruição ambiental no Brasil e nos demais países do Mercosul (Argentina, Paraguai e Uruguai). Em contrapartida, o lado brasileiro é a favor de que não haja distinção na aplicação de eventuais sanções, ou seja, que ambos sejam penalizados do mesmo modo.
Lula reclamou das exigências dos europeus. "Essa proposta ainda não está em conformidade com aquilo que eu sonho para os países da América Latina, como o Brasil, que querem ter o direito de recuperar a sua capacidade de industrialização. [...] A carta adicional que a União Europeia mandou para o Mercosul é inaceitável, porque eles colocam punição para qualquer país que não cumprir o Acordo de Paris, mas nem eles cumpriram", destacou.
"Os países ricos não cumpriram o Acordo de Paris, o Protocolo de Kyoto, a decisão de Copenhagen, ou seja, nós precisamos de um pouco mais de sensibilidade, um pouco mais de humildade. Estamos preparando uma resposta e vamos ver se a gente consegue um acordo para favorecer os dois continentes", completou.
Na semana passada, a Assembleia Nacional da França aprovou, por 281 votos a favor e 58 contra, uma resolução contrária ao acordo. O entendimento da maioria dos deputados foi de que a atual redação do tratado fere o Acordo de Paris sobre o Clima e não atende a normas sanitárias e ambientais da União Europeia para a entrada de produtos agrícolas.
Lula prometeu falar sobre o assunto com o presidente da França, Emmanuel Macron. Os dois se encontram em Paris nesta quinta-feira. "É importante a gente convencer a França de que é maravilhoso que eles defendam a sua agricultura, mas eles têm que entender que os outros também têm o direito de defender seus interesses. É preciso que todos abram mão de seu preciosismo e do seu protecionismo", afirmou.
“Não é correto estar discutindo o acordo e alguém achar correto colocar punições ao parceiro do acordo. Um acordo pressupõe uma via de duas mãos”, disse Lula. “Eu sei que os franceses são duros na defesa da sua agricultura. É normal que eles sejam assim, mas também é normal que a gente não aceite. E, assim, cria-se a oportunidade de discutirmos”, declarou.