Lula diz que não tem que gostar de presidentes e defende acordo entre líderes sul-americanos
Sem citar Javier Milei, o presidente disse esperar que o ministro Fernando Haddad não vá atrás da 'nova experiência' sul-americana
Brasília|Plínio Aguiar, do R7 em Brasília
Dois dias após a vitória do ultraliberal Javier Milei na Argentina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, nesta terça-feira (21), que não tem que gostar dos presidentes sul-americanos e defendeu a busca de um acordo entre os líderes.
O presidente eleito do país vizinho criticou o petista diversas vezes.
"Nós estamos vivendo algumas confusões na América do Sul. Não é mais a mesma de 2002, de 2004, de 2006. Nós vamos ter problemas políticos. E, ao invés de reclamar dos problemas políticos, nós temos que ser inteligentes e tentar resolvê-los, tentar conversar. Tentar fazer com que as pessoas aprendam a conviver democraticamente na adversidade", disse Lula.
• Clique aqui e receba as notícias do R7 no seu WhatsApp
• Compartilhe esta notícia pelo WhatsApp
• Compartilhe esta notícia pelo Telegram
• Assine a newsletter R7 em Ponto
"Eu não tenho que gostar do presidente do Chile, da Argentina, da Venezuela. Ele não tem que ser meu amigo. Ele tem que ser presidente do país dele, e eu tenho que ser presidente do meu país. Nós temos que ter política de Estado brasileira, e ele, do Estado dele. Nós temos que nos sentar à mesa, cada um defendendo os seus interesses. Não pode ter supremacia de um sobre o outro. A gente tem que chegar a um acordo", completou.
Lula lembrou a visita que fez à Argentina em 2003. "A Argentina é um país parceiro, o Brasil tem uma relação extraordinária com a Argentina. Foi o primeiro país que eu visitei para dar demonstração, em 2003, de que a gente ia ter uma forte política para América do Sul."
As declarações foram feitas por Lula durante a formatura da turma 2021-2023 do Instituto Rio Branco, em Brasília. Mais cedo, em uma transmissão nas redes sociais, o petista havia afirmado que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, percorre diversos países a fim de discutir economia e dito esperar que ele não vá atrás da "nova experiência" no continente sul-americano, sem citar Milei.
"O Haddad visita os países, vai debater a economia, não é com as pessoas que concorda. Se fosse assim, ficasse em São Paulo, pegava o Guido Mantega, os amigos dele da universidade, o [Luiz Gonzaga] Belluzzo, e ficava discutindo. Ele viaja o mundo para discutir, para saber experiências. Só espero que não vá atrás dessa nova experiência que surgiu por aqui no continente", disse Lula.
A declaração presidencial ocorreu um dia após o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Paulo Pimenta, ter dito que o presidente eleito da Argentina ofendeu Lula "de forma gratuita" e ter cobrado um pedido de desculpas. "Eu não ligaria, só depois que ele me ligasse para me pedir desculpa. Ofendeu de forma gratuita o presidente Lula. Cabe a ele, num gesto como presidente eleito, ligar para se desculpar. Depois que acontecesse isso, eu pensaria na possibilidade de conversa", disse o ministro.
Eleições na Argentina
Javier Milei é o vencedor da eleição presidencial argentina. De acordo com os resultados parciais da apuração divulgados pelo governo do país no domingo (19), o candidato, da frente La Libertad Avanza, obteve aproximadamente 14,3 milhões de votos, o equivalente a 55,75% da preferência do eleitorado.
Sergio Massa, candidato da frente governista Unión por la Patria, recebeu 44,24% dos votos argentinos (11,36 milhões). Ele se antecipou ao anúncio dos resultados parciais da votação e, antes das 20h, fez um pronunciamento em que reconheceu a derrota. "Já falei com Milei, que é o presidente que a maioria escolheu", afirmou o peronista.
Apesar de o Brasil ser o principal parceiro comercial da Argentina, Milei afirmou não ter a intenção de manter boas relações com o governo de Lula, a quem chamou de corrupto, ladrão, comunista e presidiário. Especialistas afirmam que quem tem mais a perder é a Argentina, uma vez que o Brasil é o maior comprador de produtos daquele país.
O estilo provocativo marcou a campanha de Milei nos últimos meses e atraiu uma parcela dos argentinos, com críticas à política tradicional e propostas radicais para enfrentar a grave crise econômica no país, que registrou 142,7% de taxa de inflação em 12 meses, a maior desde 1991.