Medo de prisão barrou suposto golpe de Estado; ‘Acusações terríveis', diz Bolsonaro
Bolsonaro rebate informações de investigação policial e garante que nunca pensou em golpe
Brasília|Do R7, em Brasília, com informações do Estadão Conteúdo
Mensagens trocadas entre investigados por uma suposta tentativa de golpe de Estado mostram que aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro estavam indignados com a falta de adesão do Exército e da Aeronáutica ao plano e desejaram a prisão de generais da cúpula do então governo. Eles também conversaram sobre a razão de Bolsonaro não dar um golpe sem o apoio das Forças Armadas. O ex-presidente teria ficado “com medo de ser preso”, segundo os militares. Bolsonaro nega ter pensado em dar um golpe.
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As conversas constam do relatório de 884 páginas no qual a Polícia Federal indiciou Bolsonaro e 36 aliados e militares de alta patente por supostos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. O documento foi encaminhado à PGR (Procuradoria-Geral da República) nesta terça-feira (26).
Em sua defesa, Bolsonaro disse que nunca pensou em dar um golpe de Estado após as eleições presidenciais de 2022. “Vamos tirar da cabeça essa história de golpe, ninguém vai dar golpe com general da reserva e mais meia dúzia de oficiais. É um absurdo o que estão falando. Da minha parte, nunca houve discussão de golpe. Se alguém viesse discutir golpe comigo, eu falaria ‘tudo bem, e o after day? Como fica o dia seguinte? Como fica o mundo perante a nós?“, disse ele nessa segunda-feira (25).
Medo da prisão
No dia 20 de dezembro de 2022, o tenente-coronel do Exército Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros atacou os integrantes do Alto-Comando e explicou o motivo de Bolsonaro “não ter publicado o decreto golpista, que estava pronto”.
“E o presidente não vai embarcar sozinho porque pode acontecer o mesmo que no Peru. Ele está com decreto pronto, ele assina e aí ninguém vai, ele vai preso. Então não vai arriscar.”
No mesmo dia, Cavaliere relatou, em uma outra conversa, que havia falado com Mauro Cid. “(...) Acabei de falar com Cid, e ele falou que não vai ter nada, está pronto, só que não vai assinar por conta disso que te falei, o Alto-Comando tá rachado e não quer.... não quer encampar a ideia (...).”
O interlocutor de Cavaliere na ocasião, o coronel Gustavo Gomes, desabafou sobre a frustração do golpe de Estado. Eles citam a participação dos generais Braga Netto e Augusto Heleno na trama e expressam o desejo de ver os dois presos, já que o golpe não se concretizou.
Mensagens entre os coronéis Fabrício Bastos e Correa Netto mostram como o decreto para um suposto golpe estava pronto, mas não foi assinado por Bolsonaro pelo fato de o ex-presidente não ter conseguido o apoio do Exército.
No dia 21 de dezembro, Correa Neto diz que falou com o tenente-coronel Mauro Cid: “Pô....pra esquecer que não vai rolar nada não. Ele falou ó....cara pode esquecer num...deve....o decreto não vai sair”. Ele segue: “Só faria se tivesse o apoio das Forças Armadas... porque ele tá com medo de ser preso. (...)”
Os diálogos em que militares atacam as Forças Armadas foram mantidos após a tentativa de golpe do dia 15 de dezembro — que não ocorreu somente em razão da negativa do Exército e da Aeronáutica. Eles reclamam que “infelizmente a FAB afrouxou e o EB agora também está afrouxando”. “.....somente o MB quer guerra..... o PR realmente foi abandonado.... (...)”.
Bolsonaro chama acusações de “um absurdo”
Bolsonaro rebateu as informações da investigação policial e garantiu que nunca pensou em golpe. Segundo ele, essa palavra ”nunca esteve no meu dicionário“. Bolsonaro ainda frisou que é “absurdo” afirmar que ele pensou nessa medida para continuar como presidente.
“Golpe de Estado tem que ter a participação de todas as Forças Armadas, senão não é golpe de Estado. Ninguém dá golpe de Estado em um domingo, em Brasília, com pessoas que estavam aí com bíblias debaixo do braço e bandeira do Brasil na mão, nem usando estilingue e bolinha de gude e muito menos batom. Não tinha um comandante", acrescentou.
Segundo Bolsonaro, o inquérito da PF foi conduzido sem a participação do Ministério Público e alterado para atender às vontades de quem estava responsável pela investigação.
“O inquérito não tem a participação do Ministério Público, a mesma pessoa faz tudo. E no final dá o relatório e vota para condenar quem quer que seja. Golpe de Estado é uma coisa séria. Tem que estar envolvido todas as Forças Armadas. Senão, não existe golpe. Ninguém vai dar golpe com um general da reserva e mais meia dúzia de oficiais“, pontuou.
“Não justifica denunciar da forma leviana como está sendo feito. Os inquéritos, ninguém tem dúvida, até pelos áudios vazados, que o processo todo é conduzido, é alterado o tempo todo. Inclusive, tem um grau de sigilo o mais alto possível para ser alterado à maneira que convém ao encarregado do inquérito", destacou Bolsonaro.