Morre cabo Anselmo, ex-agente duplo da ditadura militar
Espião atuou em uma operação que culminou na morte de seis, incluindo a própria companheira dele, que estava grávida
Brasília|Carlos Eduardo Bafutto, do R7, em Brasília
Morreu aos 80 anos, nesta terça-feira (15), o ex-agente duplo da ditadura José Anselmo dos Santos, conhecido como cabo Anselmo. Ele morreu em São Paulo, em decorrência de cálculo renal. O corpo foi enterrado nesta quarta (16), em Jundiaí (SP).
José Anselmo teve o registro militar cassado em 1964, ao ser expulso da Marinha. Ele teria liderado um motim entre os marinheiros que acabou sendo apontado pelos militares como um dos motivos para o golpe de Estado que aconteceu naquele ano.
Anos mais tarde, como agente do Dops, José Anselmo se infiltrou em grupos guerrilheiros. Em 1973, em um dos episódios mais marcantes da carreira de agente da repressão militar, ele atuou em uma operação que culminou na morte de seis integrantes da Vanguarda Popular Revolucionária, em Pernambuco. Entre os mortos estava a companheira dele, Soledad Barret Viedma, grávida de sete meses.
Em maio de 2012, a Comissão da Anistia do Ministério da Justiça negou um pedido de reparação a José Anselmo, então com 70 anos. Segundo a comissão, à época, dos 60 mil casos analisados, o dele foi o primeiro da condição de agente duplo, com atuação como colaborador da ditadura militar e como militante na resistência popular.
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O pedido do ex-agente duplo havia sido protocolado no ministério em 2004. Anselmo alegava que, antes de colaborar com a repressão militar, na década de 1970, ele havia sido perseguido, preso e exilado. O ex-espião pediu à Comissão de Anistia uma reparação de R$ 100 mil.
Segundo o Ministério da Justiça, há registros de que as informações fornecidas por Anselmo contribuíram para a morte de mais de 200 pessoas que se opunham à repressão do regime militar.