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R7 Brasília

Mulheres representam menos de 30% do efetivo das polícias Civil e Militar do DF

Levantamento do R7 aponta presença feminina em 29,9% do quadro de funcionários da Polícia Civil e em 11,3% da Polícia Militar

Brasília|Edis Henrique Peres, do R7, Brasília

Para especialistas, os desafios ainda são grandes
Para especialistas, os desafios ainda são grandes

No quadro de funcionários das polícias Civil e Militar do Distrito Federal, as mulheres representam 29,97% e 11,3% do total de servidores, respectivamente. O efetivo da PCDF e da PMDF, referente a setembro deste ano, foi obtido por meio de um levantamento realizado pelo R7 através da Lei de Acesso à Informação (LAI).

Para a presidente da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), Ana Izabel Gonçalves de Alencar, a mulher tem demonstrado cotidianamente sua competência, desempenho e inteligência na realização das mais diversas atividades e profissões.

O limite para a mulher realizar qualquer trabalho é imposto pelo homem%2C jamais pela mulher.

(Ana Izabel Gonçalves de Alencar, presidente da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF))

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Ana Izabel acrescenta que as mulheres têm conquistado espaço em ambientes que historicamente pertencem unicamente aos homens, tal como "nas forças de segurança". No entanto, os desafios ainda são grandes.

O número de mulheres nas forças de segurança ainda é muito reduzido comparado ao número de homens%2C significando o quanto a sociedade ainda precisa evoluir nesse aspecto. Como a relutância de muitos homens pertencentes às forças de segurança em aceitar%2C com respeito%2C a presença de mulheres na própria corporação é constante%2C o caminho para mudar essa realidade envolve o poder Legislativo e o Judiciário.

(Ana Izabel Gonçalves de Alencar, presidente da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF))

Entre 2013 e 2023, a PCDF instaurou seis sindicância por assédio moral e violência de gênero. Do total, quatro foram concluídas e duas resultaram em punições. O quantitativo, no entanto, é um valor "aproximado", pois, segundo a PCDF, a "legislação aplicada aos procedimentos de nossa instituição, em regra, não trazem a conduta do assédio sexual ou moral como transgressão".


Além da falta de representatividade, ao entrar nas forças de segurança, as mulheres têm o desafio de assumir cargos de chefia e liderança. A PCDF conta com uma representação feminina em 24,26% da chefia (289 mulheres para 902 homens, em números absolutos).

A reportagem também questionou a PM sobre os dados de mulheres em cargos de chefias e ocorrências investigadas por violência de gênero entre oficiais dentro da corporação. A Diretoria informou, contudo, que estava "impossibilitada de fornecer os dados", mesmo via Lei de Acesso à Informação, porque exigiam produção adicional de informação e "trabalhos de análise e consolidação".

A corporação acrescentou, no entanto, que todos as ocorrências de assédio são analisadas e que tem entre suas políticas o "estímulo às práticas éticas e de respeito aos direitos humanos e às garantias individuais e coletivas".

Estratégias transversais

Presidente da Federação dos Conselhos Comunitários de Segurança Pública do Distrito Federal (Feconseg-DF), Flávia Portela defende que é necessário ampliar o debate sobre o tema para a representatividade na segurança pública, "ainda muito exclusivo para homens e muito machista".

"É imprescindível trazer o tema segurança pública para outros ambientes além dos quartéis, delegacias e comandos de polícias, e tratar com outros atores, como jovens, negros, idosos e mulheres", declara.

Flávia avalia que o cenário é cultural e, para mudar a realidade, é preciso oferecer oportunidades para a ocupação de outros espaços.

Os benefícios de termos mais mulheres é termos um outro olhar sobre a segurança pública. A mulher pode ser tão competente quanto [o homem] e ela percebe a segurança e a falta de segurança de forma mais abrangente e sistêmica do que o homem.

(Flávia Portela, presidente da Federação dos Conselhos Comunitários de Segurança Pública do Distrito Federal (Feconseg-DF))

A especialista acrescenta que é possível encontrar várias potencialidades femininas nas corporações. "Podemos, por exemplo, investir em treinamento dos agentes em técnicas de mediação de conflitos, diminuindo a ênfase no uso da força física, sendo mais proativos e menos reativos", aponta.

Equidade nos concursos

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu em outubro deste ano pelo fim da restrição de gênero no concurso da Polícia Militar do DF. O certame limitava em 10% a participação de mulheres nos quadros da corporação, mas foi derrubado pelo ministro Cristiano Zanin e recebeu também a validação de outros ministros.

Para o advogado e especialista em concurso público, Max Kolbe, o entendimento do STF tem forte impacto nos concursos de todo o país, para que "haja diversidade de gênero nos percentuais de ingresso, pois ao menos o percentual previsto em lei deve ser respeitado em todas as etapas do concurso".

Kolbe destaca também que a carreira policial abrange diversas atuações, que não se resumem unicamente ao uso da força física masculina.

Diversidade

Sobre o índice de mulheres na corporação, a Polícia Civil disse que busca o equilíbrio entre os gêneros. "Mulheres trazem perspectivas e habilidades para a instituição, enriquecendo a diversidade de pensamento e experiência. Além disso, uma força de trabalho mais equitativa reflete a sociedade que a PCDF serve, promovendo confiança e credibilidade na instituição", afirmou.

Já PM, questionada duas vezes na última semana, não se posicionou sobre o tema, além da resposta enviada em protocolo da Lei de Acesso à Informação. O espaço segue aberto para posicionamento.

A reportagem também procurou a Secretaria de Segurança Pública do DF que declarou que as forças de segurança possuem seus próprios critérios, “conforme parâmetros estabelecidos pela legislação vigente, de acordo com as decisões judiciais, e orientação dos órgãos de controle” para definir seu quadro de agentes. 

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