Não fui atingida porque Marielle foi meu escudo, diz ex-assessora da vereadora
Fernanda Chaves deu declaração em audiência no STF dentro do processo que investiga o assassinato da vereadora
Brasília|Gabriela Coelho e Carlos Eduardo Bafutto, do R7, em Brasília
A jornalista Fernanda Chaves, que trabalhava como assessora da vereadora Marielle Franco (PSOL) e estava no mesmo carro no dia em que a parlamentar foi assassinada, afirmou nesta segunda-feira (12) que não foi atingida pelos disparos de arma de fogo porque Marielle foi o “escudo” dela. A declaração foi dada em audiência no STF (Supremo Tribunal Federal) dentro do processo que investiga o assassinato da vereadora e do motorista Anderson Gomes, em 2018. As audiências ocorrem até o dia 16 deste mês.
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“Não fui atingida porque Marielle foi meu escudo. Estava muito próxima da Marielle. Atribuo ao corpo de Marielle que estava ao meu lado”, disse Fernanda ao ser questionada sobre por qual motivo achava que não tinha sido atingida pelos tiros.
Durante a audiência, a ex-assessora da vereadora também falou sobre os momentos que antecederam os disparam que mataram Marielle e Anderson.
“Ele [Anderson] estava desacelerando para pegar um sinal. Alguma coisa que o carro estava bem devagar. O Anderson era uma pessoa que dirigia muito suave, então não tinha muito solavanco, ele geralmente estava devagar. E num determinado momento, eu senti a rajada, rajada de tiros, muito curta. Era muito perceptível para mim, embora eu estivesse olhando para baixo, que aquilo era uma coisa que vinha de perto, era uma coisa próxima. Mas, enfim, eu no primeiro momento, eu me encolhi, me abaixei. Eu me enrolei, me abaixei, percebi o corpo da Marielle, eu estava muito próxima a ela, então eu percebi um pouco o peso do corpo, eu estava no chão, mas eu percebia um pouco o peso dela vindo para cima de mim”, disse.
Fernanda contou que, após o tiroteio, muitas pessoas se aproximaram do veículo e uma viatura da Polícia Militar também passou no local.
“Esse carro não parou. Passou um carro ao lado da cena, essa hora inclusive as pessoas que estavam do meu lado, lembro de falarem ‘ajuda aqui’, e o policial que dirigia fez algum comentário no sentido de que ‘não é com a gente, mas já tá vindo o carro da região’, algo no sentido de que já estava vindo algum ouro carro de polícia. E foi quando uma das pessoas que estava próxima falou, ‘mas por favor, ela tá precisando e ajuda’, e o carro passou.”
Análise do STF
Em junho, por unanimidade, a Primeira Turma do STF tornou réus os cinco principais suspeitos de terem planejado o assassinato de Marielle: o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ); o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro Domingos Brazão; Robson Calixto da Fonseca, conhecido como Peixe, assessor do conselheiro; o delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa; e o major Ronald Paulo de Alves Pereira.
Prevaleceu o voto do relator da ação, ministro Alexandre de Moraes. Ele disse haver vários indícios de elementos que solidificam as afirmações feitas na delação premiada de Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora. Moraes apontou que a denúncia está fundamentada em diversos materiais investigativos que comprovam as informações apresentadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República).
De acordo com Lessa, o crime seria uma vingança contra o ex-deputado estadual Marcelo Freixo, para quem Marielle trabalhou como assessora.
No relato, Lessa disse, ainda, que Marielle era uma “pedra no caminho” dos irmãos Brazão. “Foi feita a proposta, a Marielle foi colocada como uma pedra no caminho. O Domingos, por exemplo, não tem ‘papas na língua’”, afirmou Lessa aos investigadores. Além disso, de acordo com o policial, o plano para matar Marielle teve início em setembro de 2017.