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Para economista, Guedes ignora os riscos da inflação no país

Professor de Economia da Universidade de Brasília, Roberto Ellery diz que o ministro gasta quando deveria poupar

Brasília|Luiz Calcagno, do R7, em Brasília

Política econômica de Guedes é alvo de crítica de economistas por conta da alta na inflação
Política econômica de Guedes é alvo de crítica de economistas por conta da alta na inflação Política econômica de Guedes é alvo de crítica de economistas por conta da alta na inflação

Os resultados econômicos da política fiscal do ministro da Economia, Paulo Guedes, se transformaram em seu maior ponto fraco. E as argumentações para justificar os maus resultados de seu trabalho, algumas vezes polêmicas, como quando reclamou de empregadas domésticas irem à Disney, mais endossam que rebatem as críticas de economistas. Conforme publicou o R7 neste sábado, a inflação acumulada nos últimos 12 meses passou a marca de 10%, a maior desde fevereiro de 2016, por exemplo.

Ítens como o gás de cozinha e a gasolina tiveram aumentos respectivos de 26% e 33%. No caso da gasolina, o litro passa de R$ 7 em alguns estados. O resultado incomodou até mesmo o presidente da República, que deu início a mais uma jornada de confronto com governadores para tentar se eximir da responsabilidade. A reportagem conversou com o professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Ellery sobre os resultados econômicos do ministro e a crise que o país enfrenta.

Ellery afirma que embora se identifique como um liberal, Guedes assumiu uma postura normalmente atribuída a economistas desenvolvimentistas, ao defender a desvalorização do câmbio. Ele acredita que a situação econômica do país pode ser revertida, embora o ministro da Economia não pareça tão preocupado quanto deveria.

“O problema dessa tese do câmbio, é que geralmente olham para a Ásia para falar disso. Só que lá eles têm muita poupança. Da empresa, das famílias, do governo. Não precisam ficar atraindo capital. O Brasil precisa. quando você baixa os juros, tem saída de dólar e o câmbio desvaloriza. O Guedes parece que achou que isso não ia afetar a inflação. Foi acumulando perdas, os custos subindo, e uma hora ia ter que repassar”, alerta.

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Risco de greve

Ellery supõe que, talvez, Guedes veja na inflação uma possibilidade de “ajuste fiscal”. “O salário cai em termos reais, mas o imposto é sobre o valor da mercadoria, que sobe de preço e o governo ganha. Mas esses processos terminam mal, pois os trabalhadores reagem. É inocência achar que o trabalhador não vai reagir com greve. Não vai acontecer agora, pois está todo mundo machucado com a pandemia. Então, vai ter pressão por reajuste de salário tanto no setor público quanto no privado. Com inflação, não se brinca”, destaca.

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Ele destaca que mesmo Guido Mantega, ministro da Fazenda de Dilma Rousseff (PT), que defendia a tese do câmbio desvalorizado, voltou atrás nas medidas. “Viu que ia dar ruim. O Guedes parece que não viu”, critica. Para Ellery, o Banco Central precisa agir de forma mais enérgica do que está fazendo. “A política de juros vai ter que ser mais agressiva. Se o empresário não repôr (as perdas), jogará no preço”, avisa.

Ano eleitoral

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Outro ponto destacado pelo econonista é a intenção do presidente Jair Bolsonaro de disputar a reeleição, que poderá ficar seriamente comprometida em razão da inflação. “É preciso olhar sério para esse problema. A inflação machuca as pessoas e, inclusive, retira votos. o grande desafio do Brasil é controlar a inflação. Com ela fora de controle, não adianta falar em reforma. O Guedes foi muito infeliz na estratégia. Ele quis fazer um país da Ásia, mas com a poupança da América latina, que é o que nós somos. Tem uma responsabilidade muito grande da estratégia do Paulo Guedes sobre esse problema da inflação”, reflete.

A dúvida, para Ellery, é como o governo fará reajustes em ano de eleições. Por isso, o BC precisa acelerar a política fiscal sobre os juros. Ele destaca que a pandemia também é um fator complicador na equação. “Gastamos muito na pandemia, e não tinha como ser diferente. O governo teve que pagar auxílio emergencial, ajudar empresa, e a impressão que dá é que Paulo Guedes não está vendo isso. Não é hora de gastar”, recomenda.

“A situação fiscal piorou e o governo segue liberando emenda orçamentária, falando em aumento do Bolsa Família. O BC não está dando uma resposta forte. Pode virar um problema sério no ano que vem. Ainda mais com estabilidade política na mesa. É um cenário preocupante principalmente porque os responsáveis minimizam o problema”, completa.

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