PF: ‘Abin paralela’ fez dossiê sobre delegado do caso Marielle Franco
Monitoramento aconteceu para antecipar referências que vinculassem o núcleo político da organização ao caso

As investigações da Polícia Federal sobre a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) “paralela” apontam que a suposta organização criminosa também foi usada para reunir informações sobre o delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro Daniel Freitas da Rosa, que atuou nas investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista dela, Anderson Gomes.
Na tarde desta quarta-feira (18), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes tirou o sigilo do caso e do relatório final da investigação da PF.
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O monitoramento do caso Marielle, segundo a PF, aconteceu para antecipar eventuais referências que vinculassem indevidamente o núcleo político da Abin paralela, composto pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e por um de seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), ao episódio.
Freitas assumiu a investigação da morte de Marielle em março de 2019, ficando responsável pelo inquérito até setembro de 2020.
A PF pediu o indiciamento 35 pessoas na investigação da Abin paralela. Entre elas, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da agência, e Carlos Bolsonaro.
Leia: ‘Abin Paralela’: veja os indiciados e os crimes imputados a eles pela Polícia Federal
Conforme a PF, em 2020, Ramagem pediu ao policial federal Marcelo Bormevet que investigasse o delegado do caso Marielle. Bormevet, então, encaminhou uma mensagem ao militar Giancarlo Gomes Rodrigues, pedindo que elaborasse um dossiê sobre o delegado.
“As diligências policiais ao longo da investigação revelaram ações clandestinas realizadas pela estrutura paralela relacionadas à investigação do homicídio da vereadora Marielle Franco. Os materiais preliminarmente relacionados já foram objeto de compartilhamento em especial os ‘relatórios de inteligência’ produzidos inclusive com referência expressa aos investigados daquela operação”, informou a PF.
Posteriormente, o relatório foi encaminhado a Bormevet, mas a PF informou que o documento se encontrava “indisponível” no dispositivo de Rodrigues. No entanto, o dossiê foi impresso pelo policial.
Entre as informações que constavam no documento, estava uma citação da família Bolsonaro na investigação. O dossiê informava que houve um depoimento do porteiro do condomínio onde o ex-presidente morava.
“O (depoimento) qual foi alterado posteriormente devido a inverdades, fulminado pelo laudo pericial da própria Polícia Civil, levando a crer que houve um direcionamento do delegado Daniel Rosa na oitiva outrora prestada”, diz o dossiê.
Segundo a PF, agentes também foram designados para buscar informações sobre a promotora do Ministério Público do Rio de Janeiro Simone Sibilio. O currículo da promotora teria sido impresso, em 2019, pelo policial federal Felipe Arlotta Freitas.
As investigações mostram ainda que havia o controle de “denúncias” sobre o caso Marielle, inclusive referenciando a ação penal do caso que tramita no STF, que já resultou na prisão preventiva dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, acusados de serem os mandantes do crime.
“O resumo das denúncias relacionadas ao ‘Caso Marielle’, em 2019, foi impresso por Ramagem, enquanto diretor da Abin. A impressão de documentos e informações se prestava para que informações de ‘inteligência’ pudessem ser levadas aos destinatários, em regra integrantes do núcleo político”, alega a polícia.
O inquérito sobre a Abin paralela é resultado da Operação Última Milha, que apura uma organização criminosa responsável por monitoramentos ilegais de desafetos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), além da produção de notícias falsas a partir dos sistemas da Abin.
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