PF prende filho de policial militar do DF por pirâmide financeira
Esquema milionário prometia ganhos de 20% sobre o valor investido; acusado se apresentava como 'trader'
Brasília|Renato Souza e Emerson Fonseca Fraga, do R7, em Brasília
A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (14) uma operação contra um esquema de pirâmide financeira que fez vítimas no Distrito Federal e em cidades do Piauí. A Operação Alavancada cumpriu três mandados de prisão, sendo uma preventiva e duas temporárias, e cinco de busca e apreensão.
Informações obtidas pelo R7 junto a fontes que conheciam o esquema apontam que um dos presos é Pedro Gil Fonseca Duarte, filho de um policial militar da reserva. Ele teria se aproveitado da influência do pai para realizar reuniões se apresentando como "trader" no 20º Batalhão da Polícia Militar, no Paranoá, Distrito Federal.
Pedro Gil era morador de Planaltina (DF) e teria se mudado recentemente para Formosa, em Goiás. De acordo com testemunhas, mesmo após deixar de pagar os "investidores", ele andava pelas ruas em carros de luxo, como uma BMW X4, avaliada em R$ 175 mil, e sustentava viagens de alto padrão nas redes sociais. O R7 também apurou que a irmã dele, Isabela Fonseca Duarte, foi outro dos alvos da operação. Eles devem ficar presos por cinco dias, inicialmente, podendo a prisão ser prorrogada enquanto correm as investigações.
Segundo a PF, "foram mobilizados 15 policiais federais para o cumprimento de oito mandados judiciais, nas cidades de Brasília, Formosa/GO e Cuiabá/MT". Os mandados foram expedidos pela Vara Federal Cível e Criminal da Subseção da Justiça Federal de Floriano, no Piauí.
"As investigações mostraram a captação de recursos de clientes (vítimas) por meio de fraude, com promessas de ganhos mensais de até 20% sobre o capital investido, para supostamente serem aplicados no mercado financeiro através de empresa não autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a captar recursos e realizar investimentos no mercado", aponta a PF.
"Os investigados emitiram e ofereceram ao público valores mobiliários consistentes em contratos de investimento coletivo em nome de empresa de fachada, sem registro prévio de emissão junto à CVM, sem lastro ou garantia suficientes e sem autorização prévia da CVM", completou a corporação.
Pelo menos 29 policiais militares caíram no golpe, apontam as investigações. Muitos pegaram empréstimos para entrar no negócio que prometia ganhos exorbitantes e perceberam que se tratava de pirâmide quando deixaram de receber eventuais lucros.
"Temos um grupo no WhatsApp de 177 pessoas que 'investiram' dinheiro nisso. Nós pegamos inclusive empréstimos para fazer esses investimentos. Só no nosso batalhão, esse rapaz arrecadou mais de R$ 1 milhão", diz um policial militar vítima do esquema.
Defesa
O advogado Wanderson Andrade, que representa os irmãos, disse à reportagem que "a prisão já era esperada por toda a repercussão que o caso teve e que, ao longo do processo, vai provar a inocência de ambos".
"O que houve foi um menino, um trader, que, por inocência, acabou cometendo o equívoco de operar dinheiro de terceiros na bolsa, mas sem autorização legal. A intenção dele nunca foi aplicar golpes. Ele fazia operações na bolsa de valores como forma de cumprir o que estava acordado nos contratos. Contudo, por alguns atos inconsequentes, como o recebimento de veículos como investimento, acabou por ter o capital reduzido gradativamente, não conseguindo continuar cumprindo com o que havia sido acordado. Esclareço ainda que não se trata de nenhuma associação criminosa, pois Pedro Gil agiu sozinho".
"Quando foram feitas as negociações de acordo para a devolução do capital dos clientes, ele acabou, em pouco tempo, tendo suas contas bloqueadas pela Justiça em razão de ações ajuizadas por clientes que não quiseram negociar. Isso acabou por inviabilizar, por completo, a chance que ele tinha de pagar os credores", completou.
Andrade diz ainda que Isabela não teve "envolvimento algum" com as negociações feitas. "Ela começou a ter algum tipo de participação da empresa já quando ela estava no fim das operações, por cerca de dois meses — enquanto a firma operou por dois anos. Ela desconhecia que Pedro Gil não tinha capital em conta para pagar os credores. Ele não dizia isso a ela".