Reação de criança vacinada com dose adulta na PB não foi notificada
Médica atendeu criança com reações adversas após vacina, mas não lançou dados no sistema de saúde
Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília
O MPF (Ministério Público Federal) apura a denúncia de que ao menos uma criança imunizada incorretamente com a dosagem de adultos em Lucena, Paraíba, procurou atendimento médico ao apresentar reações adversas à vacina, mas o caso não foi lançado no sistema de saúde, ainda que a notificação seja compulsória. A informação consta no depoimento dado pelo prefeito do município, Leo Bandeira.
No relato, Bandeira afirma que "vai levantar a escala de médicos de 21 de dezembro de 2021 a 14 de janeiro de 2022 para apurar qual foi a médica que supostamente atendeu a criança e que não fez a notificação compulsória do evento adverso decorrente da aplicação do imunizante". O prefeito também alegou que tomou as medidas necessárias após saber do caso, afastando os profissionais diretamente envolvidos na vacinação e instaurando um inquérito administrativo junto à Procuradoria de Lucena.
De acordo com a prefeitura, 48 crianças foram vacinadas contra a Covid-19 com a dosagem três vezes superior à estabelecida para a faixa etária, antes mesmo das doses pediátricas chegarem ao Brasil.
As aplicações foram feitas tanto na UBS-V do município quanto em uma unidade âncora localizada no assentamento Outeiro de Miranda. Em 7 de janeiro, a técnica de enfermagem responsável pelos procedimentos relatou ter imunizado ao menos 36 crianças no assentamento. Já em 29 de dezembro de 2021 e em 11 de janeiro deste ano, o atendimento ocorreu na UBS.
A técnica de enfermagem, além da coordenadora de imunização e uma enfermeira foram afastadas, detalhou o prefeito de Lucena ao MPF. Apesar das determinações, Bandeira disse que "sua participação na campanha de vacinação não foi muito intensa" e que a Secretaria de Saúde era a responsável pelo planejamento das ações.
Em depoimento, a mãe de duas das crianças vacinadas alegou não receber apoio por parte dos gestores locais e profissionais de saúde após o erro. A técnica de enfermagem também argumentou não ter sido treinada pelo município para vacinar pessoas contra a Covid-19 e que foi instruída a vacinar todos os públicos.
Bandeira, por outro lado, destacou ao MPF que a cidade possui "equipes qualificadas, inclusive a técnica que fez a aplicação é experiente, não sabendo o que levou a praticar esse fato". Segundo o prefeito, "não precisava ser da área de saúde para saber que não podia aplicar vacinas em crianças".
Ao MPF, o gestor afirmou que as doses pediátricas ainda não chegaram ao município e disse acreditar que isso se dá em razão dos episódios de erros vacinais nas crianças. Agora, a Secretaria Estadual de Saúde pretende assumir a vacinação no município. "Autorizamos não enviar doses pediátricas a Lucena e assumir a vacinação lá. Não é nossa atribuição, pois há fragilidade evidente em relação a vacinação em Lucena", afirmou o secretário de saúde paraibano, Geraldo Medeiros.