Relembre argumentos da PGR que embasaram condenação de Bolsonaro e aliados no STF
Paulo Gonet denunciou Jair Bolsonaro e seus aliados pela atuação em múltiplas frentes da tentativa de golpe de Estado
Brasília|Victoria Lacerda e Rafaela Soares, do R7, em Brasília
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O julgamento da denúncia contra Jair Bolsonaro e seus aliados por tentativa de golpe de Estado chegou ao fim na quinta-feira (11), na Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal).
Com quatro votos favoráveis pela condenação e um contrário, a corte formou maioria para condenação do “núcleo central”, seguindo o entendimento do procurador-geral da República, Paulo Gonet.
A denúncia da PGR, que reuniu elementos obtidos em delações, documentos e investigações da Polícia Federal que, indicou a existência de uma organização criminosa enraizada na estrutura do Estado.
Segundo Gonet, Jair Bolsonaro e seus aliados teriam atuado em múltiplas frentes — jurídicas, militares, políticas e midiáticas — com o objetivo de impedir a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, após as eleições de 2022.
Em sua manifestação final, o procurador destacou que os acusados registraram quase todas as ações descritas na denúncia por meio de gravações, planilhas, manuscritos, arquivos digitais e trocas de mensagens.
Confira os principais argumentos apresentados por Gonet contra Bolsonaro e aliados.
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O “núcleo crucial” da trama
A PGR identificou um grupo central, chamado de “núcleo crucial”, que teria tomado as principais decisões do plano golpista. Nele estariam:
- Jair Bolsonaro
- Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin)
- Almir Garnier (ex-comandante da Marinha)
- Anderson Torres (ex-ministro da Justiça)
- Augusto Heleno (ex-ministro do GSI)
- Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa)
- Walter Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil e da Defesa)
Mauro Cid, segundo a PGR, atuava como “porta-voz” de Bolsonaro dentro do esquema.
Reuniões estratégicas de Bolsonaro
A PGR listou encontros que marcaram a articulação golpista:
- 5 de julho de 2022: reunião ministerial em que integrantes do governo discutiram “virar o jogo” após pesquisas apontarem a derrota eleitoral. O vídeo foi recuperado em equipamentos de Mauro Cid.
- 18 de julho de 2022: encontro no Palácio da Alvorada com embaixadores e diplomatas estrangeiros, ocasião em que Bolsonaro questionou a confiabilidade das urnas eletrônicas diante da comunidade internacional.
Golpe já estava em curso
Durante a sustentação oral da PGR (Procuradoria-Geral da República) no julgamento dos réus, Gonet afirmou que o “golpe já estava em curso” durante reuniões ministeriais feitas durante o governo Bolsonaro.
“Quando o presidente e o ministro da defesa reúnem os comandantes das forças armadas, que estão sob sua direção, a executar fases finais do golpe, o golpe ele mesmo já está em curso de realização”, disse.
Ainda em seu discurso, o procurador-geral disse entender que todos os envolvidos na trama são responsáveis pelos eventos. Para ele, é possível medir a culpa dos réus, mas, não, a responsabilidade.
Ataques às urnas e manipulação de relatórios
A denúncia aponta que um grupo, liderado pelo então ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, foi encarregado de espalhar informações falsas sobre a lisura das eleições.
Em delação, Cid afirmou que Bolsonaro ordenou que o Ministério da Defesa alterasse um relatório sobre as eleições de 2022, de modo a não deixar explícito que não houve fraude.
“O ímpeto de violência da população contra o Poder Judiciário foi exacerbado pela manipulação de notícias eleitorais baseadas em dados falsos”, diz a denúncia.
Abin paralela e espionagem ilegal
Outro ponto citado na denúncia é o uso indevido da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Segundo a PGR, a estrutura tecnológica da Abin foi utilizada para monitorar opositores e autoridades, servindo também para alimentar ataques virtuais contra o Judiciário.
“Para construir os ataques virtuais, o grupo criminoso se valia indevidamente da estrutura de inteligência do Estado”, afirma o documento.
Blitz da PRF no Nordeste
A denúncia também inclui a atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno das eleições de 2022. Mais de 2 mil ônibus foram parados no Nordeste, reduto eleitoral de Lula.
Para a PGR, os bloqueios tinham o objetivo de dificultar o acesso de eleitores aos locais de votação e favorecer Bolsonaro.
O decreto golpista e as Forças Armadas
Em 6 de dezembro de 2022, Bolsonaro recebeu de Filipe Martins uma minuta de decreto que previa a realização de novas eleições e a prisão de Alexandre de Moraes.
O documento, segundo a investigação, foi revisado pelo então presidente e apresentado no dia seguinte aos comandantes das Forças Armadas.
O general Freire Gomes, em depoimento, disse que rejeitou o plano e avisou Bolsonaro de que não aderiria à iniciativa.
Plano “Punhal Verde e Amarelo”
A PGR também revelou a existência de um núcleo que planejou atentados contra Lula, Alckmin e Moraes. Chamado de “Plano Punhal Verde e Amarelo”, previa explosões e envenenamento em 15 de dezembro de 2022.
“O atentado ao ministro do Supremo Tribunal Federal serviria para restringir de forma violenta o livre exercício dos poderes constitucionais”, afirma a denúncia.
8 de janeiro: o ato final
Segundo a PGR, os ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 representaram o “último ato da trama golpista”.
“As ações progressivas e coordenadas da organização criminosa culminaram no dia 8 de janeiro de 2023, ato final voltado à deposição do governo eleito e à abolição das estruturas democráticas”, destacou a Procuradoria.
Na alegação final, Gonet classificou a revolta popular como uma forma de legitimar o golpe. Segundo ele, o objetivo era criar um “clima de convulsão social”.
A depredação das sedes dos três Poderes por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro já estaria no painel das ações do grupo.
Para o procurador-geral, o apoio e incentivo dos réus aos acampamentos em frente aos quartéis aponta uma “ruptura com a democracia por meio da violência”.
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