Saúde do DF rebate deputada sobre mortes por Covid entre vacinados
Publicações da deputada Bia Kicis induzem à conclusão de que a maioria das mortes ocorreu entre pessoas vacinadas no DF
Brasília|Jéssica Moura, do R7, em Brasília
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal fez uma postagem nesta quarta-feira (16) em que desmente uma publicação da deputada federal Bia Kicis sobre mortes por Covid-19 no Distrito Federal. A parlamentar publicou em perfis nas redes sociais dados fora de contexto que induziam a uma interpretação errada sobre as mortes. O GDF, por sua vez, ressaltou que a maioria dos óbitos é de pessoas acima de 60 anos que não tomaram a terceira dose da vacina.
A imagem divulgada pela deputada cita 16 óbitos por Covid-19 no DF em 14 de fevereiro deste ano, todos de pessoas que tomaram duas doses da vacina contra a Covid ou dose de reforço. A mensagem induz à conclusão de que a maioria das mortes ocorreu entre pessoas vacinadas.
O conteúdo, publicado na terça-feira (15), viralizou na internet. No Facebook, houve mais de 14 mil reações, 1.500 comentários e 7.600 compartilhamentos. No Twitter, o post foi replicado 2.100 vezes.
No entanto, a Secretaria de Saúde do DF ressaltou que, entre as 16 mortes contabilizadas naquela data, 12 eram de pessoas que não haviam tomado a dose de reforço. A pasta destacou ainda que todas as vítimas tinham mais de 50 anos — metade tinha mais de 80 anos — e três pacientes eram imunossuprimidos.
Além disso, os óbitos notificados em 14 de fevereiro incluem não só mortes que ocorreram nesse dia mas também em dias anteriores, que ainda não haviam sido contabilizadas. Na verdade, apenas uma pessoa morreu, de fato, nessa data.
A infectologista Ana Helena Germoglio, do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), ressalta que as vacinas "não fazem milagre", mas reduzem o risco da forma grave da doença. "Para as pessoas que já fazem parte do grupo de risco, com comorbidades, por exemplo, mesmo que tenham risco reduzido, ele ainda se torna muito alto ante uma variante altamente transmissível, em um cenário desse de grande transmissão viral", assinala. "Não há o que questionar sobre a eficácia e a necessidade da vacina."
"Para essa variante a gente precisa de três doses. Não dá para a gente olhar os dados crus, a gente precisa se debruçar sobre os dados. Mesmo em uma população de 100% de vacinados, há os imunossuprimidos. Mesmo eles vão ter risco reduzido, mas risco ainda grande. Se a pessoa acha que a vacina faz milagre, está enganada", finaliza a especialista.
De acordo com Priscilleyne Reis, chefe do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Distrito Federal (Cievs-DF), é inadequado utilizar dados de um único dia para induzir a população a tirar alguma conclusão. “Ficam bem claras a importância da vacinação e a urgência para que todos procurem a dose de reforço de maneira oportuna”, ressalta a chefe do Cievs-DF.
O fato é que, dos 93 idosos acima de 60 anos que morreram de Covid-19 no Distrito Federal entre 1º de janeiro e 7 de fevereiro, 79 (82,3%) não tinham recebido as três doses da vacina contra a doença e 14 haviam completado o ciclo vacinal.
Não vacinados
Levantamento da Secretaria de Saúde do DF mostra que 90% dos pacientes internados não completaram o ciclo vacinal. Por isso a vacinação é a principal estratégia para evitar os casos mais graves e os óbitos pela infecção.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que autorizou o uso das vacinas no país, também reforçou a eficácia da estratégia em diversas notas técnicas. Em um dos documentos, encaminhado a um grupo de médicos, o órgão ressaltou que "todas as vacinas autorizadas pela agência mostraram níveis de proteção importantes contra infecções sintomáticas pelo Sars-CoV-2, prevenindo hospitalizações e mortes causadas pelo novo coronavírus."
A deputada Bia Kicis foi procurada, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.