Senadores revelam intimidação por não apoiarem projeto de armas
Parlamentares foram ameaçados de morte por adiamento de votação no Senado; todos já fizeram boletim de ocorrência
Brasília|Augusto Fernandes e Sarah Teófilo, do R7, em Brasília
Três senadores revelaram nesta quinta-feira (10) que receberam xingamentos e ameaças de morte em razão do adiamento da votação de um projeto de lei na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado que flexibiliza o acesso a armas a caçadores, atiradores e colecionadores, conhecidos pela sigla CACs.
Durante sessão do plenário nesta tarde, Eliziane Gama (Cidadania-MA), Simone Tebet (MDB-MS) e Eduardo Girão (Podemos-CE) comentaram que receberam ataques nas redes sociais e por email. Os três não concordaram com a votação do projeto na CCJ por conta de um trecho da matéria que amplia o porte de armas para diversas categorias, como membros do Congresso Nacional, agentes socioeducativos, defensores públicos, entre outros. Esse tema causou discussão entre os senadores da comissão, o que contribuiu para que a votação fosse adiada.
Algumas das ofensas foram feitas por atiradores esportivos e vigilantes. Os senadores foram insultados com palavrões e chamados de "golpistas", "lixos da sociedade" e "ladrões". Todos eles já registraram boletim de ocorrência na Polícia Legislativa do Senado e cobraram do presidente da casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que os casos não fiquem impunes.
"Nós vamos continuar firmes defendendo a vida, defendendo aquilo em que nós acreditamos, e nenhuma ameaça vai nos fazer parar. Agora, o trabalho da Polícia Legislativa precisa ocorrer. É preciso ser feita uma investigação. Esse é um trabalho em que a Polícia Legislativa da casa precisa tomar as providências devidas", ponderou Eliziane.
Tebet acrescentou que os parlamentares não vão se curvar às ameaças. "Nós não vamos admitir. Quero dizer que nós, mulheres, não chegamos aqui pedindo licença para ninguém. Nós tivemos que impor para poder chegar. É muito difícil nós termos os nossos espaços de poder. Então, se acharem que, por ameaças veladas, anônimas, por emails, vão impedir a nossa voz e a nossa consciência e vão impedir que a nossa consciência dite o nosso voto, estão muitíssimo enganados."
Pacheco lamentou o episódio que envolve os senadores e disse que "é intolerável qualquer tipo de ameaça ou de intimidação através dessa covardia de pessoas que se escondem atrás de redes sociais". Ele prometeu que vai acompanhar a investigação da Polícia Legislativa do Senado.
"Isso é caso de polícia, e os responsáveis serão responsabilizados. Encaminharemos também às instâncias competentes, seja ao Ministério Público, seja ao poder Judiciário, para que providências sejam tomadas contra essa covardia que, infelizmente, está institucionalizada no Brasil, porque as pessoas acham que podem dizer o que querem na rede social, sem filtro e sem nenhum tipo de consequência. Não deve ser assim e não será assim", afirmou.