Brasília TCU determina suspensão de aditivo de empresa alvo da CPI

TCU determina suspensão de aditivo de empresa alvo da CPI

Area técnica da Corte disse que há indícios de que a celebração do aditivo pode ter configurado "tentativa de perpetração de fraude"

  • Brasília | Sarah Teófilo, do R7, em Brasília

O ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias

O ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias

Pedro França/Agência Senado - 07.07.2021

O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Benjamin Zymler determinou, na última quinta-feira (9), que o Ministério da Saúde suspenda os efeitos jurídicos do aditivo de um contrato da pasta com a empresa de logística VTCLog, alvo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19. O pedido de análise do contrato foi feito pelos senadores do Cidadania Eliziane Gama (MA) e Alessandro Vieira (SE). O ministro determinou, ainda, que a pasta não pague pelo serviço à empresa até que o tribunal delibere sobre o mérito da matéria.

A área técnica do TCU destacou que os elementos nos autos "constituem conjunto de indícios que apontam que a celebração do 2º termo aditivo possa, em tese, ter configurado tentativa de perpetração de fraude contratual danosa ao erário.”

Os técnicos da Corte ainda apontaram que a celebração do segundo termo aditivo do contrato pode, "em tese, ter configurado tentativa de perpetração de fraude contratual danosa ao erário.” O contrato em questão foi firmado em 2018, com vigência até julho de 2023, no valor de R$ 97 milhões anual. Em fevereiro deste ano, houve o primeiro termo aditivo, com acréscimo de 25% em um dos itens do contrato, no valor de R$ 17,7 milhões, equivalente a 18,29% do valor total do contrato.

O segundo termo aditivo, que é o foco de análise pelo tribunal, foi assinado em maio pelo ex-diretor de Logística (DLOG) do ministério Roberto Dias, alvo da comissão por denúncia de suposto pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina contra covid-19. Este segundo termo aditivo alterou a forma de aferir os serviços executados e, segundo despacho do TCU, teria havido a aceitação do DLOG de pagar à empresa um valor "1.800% superior ao recomendado por meio de parecer técnico, o que poderia caracterizar sobrepreço".

O termo de referênca do contrato previa 600 mil itens por ano, no valor estimado de R$ 3,8 milhões. Entretanto, entre novembro de 2018 e janeiro de 2021, a empresa manipulou 8,9 milhões de itens — assim, pelo executivo no período, o governo deveria pagar R$ 57,7 milhões. "Tal discrepância de valores sugere duas hipóteses. Ou constou um grande erro na estimativa desse serviço no termo de referência ou o termo 'item' não diz respeito ao quantitativo unitário de cada produto", pontuou o despacho.

Os fiscais do contrato e a Coordenação-Geral de Logística de Insumos Estratégicos para
Saúde concluíram que, pelo método previsto, o governo deveria pagar o valor acima, enquanto, pelo método proposto pela administração, a quantidade a ser paga seria bem menor, de R$ 1 milhão. Uma nota técnica dos órgãos, e da DLOG, afirmava que "a contraproposta da contratada, por sua vez, representa um 'meio-termo' entre esses dois métodos", correspondendo a R$ 18,9 milhões. Foi em seguida que o segundo termo aditivo foi assinado.

Na análise, a área frisou que "caberia indagar de que forma seria possível considerar vantajosa para a administração, sob qualquer aspecto, a aceitação de um 'meio termo' que resultaria em alterações dos termos originais do contrato, com base, unicamente, na vontade de dar fim às glosas que vinham sendo efetuadas e atender a pleito apresentado pela contratada, sem a devida análise técnica capaz de fornecer qualquer embasamento para a alteração cogitada, resultando em possibilidade de pagamento imediato de quase R$ 19 milhões".

Eles ressaltaram que a empresa, ao ser convocada após a desclassificação da licitante que havia apresentado a melhor proposta, "aceitou efetuar ajustes e reduzir o valor em diversos itens de sua planilha de preços, havendo, porém, mantido inalterado o valor originalmente estimado pelo Ministério da Saúde para o item" em análise.

O tribunal pediu informações ao ministério e em 31 de agosto, dois dias antes do vencimento do prazo fixado para atender à demanda, a pasta pediu prorrogação por quinze dias do prazo inicialmente fixado e até o momento não enviou as informações à Corte. A reportagem procurou a pasta, mas não obteve retorno.

A VTCLog, por sua vez, informou em nota que "está absolutamente tranquila em relação a análise do Tribunal de Contas da União". Cabe destacar que o segundo termo aditivo em voga foi extremamente benéfico pra a Administração Publica e a Egregia Corte de Contas está fazendo seu louvável papel e tem todo direito em requerer as partes envolvidas os devidos esclarecimentos técnicos", ressaltou.

A empresa ainda disse que "a suspensão não afeta a legalidade e a lisura com que o termo aditivo foi realizado. "A empresa já apresentou à CPI todos os esclarecimentos devidos e o fará da mesma forma ao TCU. A VTC Log ressalta seu compromisso com a integridade, legalidade, transparecia e não lançará mão de seus direitos e sobretudo da justa remuneração dos seus serviços prestados - já que a empresa até o momento não está sendo remunerada pela execução contratual", frisou.

A senadora Eliziane Gama afirmou que esse é mais um resultado positivo das investigações da CPI da Covid. “Identificamos alguns pontos estranhos e acionamos o TCU. O ministro Benjamin reconheceu, em seu despacho, que há indícios que podem configurar fraude. É importante esmiuçar bem esse contrato”, pontuou.

VTCLog e Roberto Dias

O ex-diretor de Logística do ministério Roberto Dias entrou na mira da CPI depois que o cabo da Polícia Militar de Minas Gerais (PM-MG) Luiz Paulo Dominghetti afirmou que se encontrou com Dias em um restaurante, em Brasília, no dia 25 de fevereiro deste ano, e que na ocasião ele teria pedido propina de US$ 1 por dose para fechar negócio de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

No fim do mês passado, a CPI revelou ter indícios de que a VTCLog pagava boletos para Dias. O valor seria da empresa Voetur, do mesmo grupo da VTCLog. Segundo a comissão, os pagamentos teriam sido feitos no ano passado e somariam R$ 47 mil. A comissão suspeitou de Dias depois de observar ausência de pagamentos feitos pela conta do ex-diretor de Logística.

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