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Tensão entre EUA e Venezuela pode gerar efeitos humanitários e econômicos no Brasil

Para especialistas, eventual conflito pode provocar nova onda migratória ao Brasil e o consequente aumento de custos fiscais

Brasília|Giovana Cardoso, do R7, em Brasília

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LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA

  • A crescente tensão entre os EUA e a Venezuela preocupa o Brasil devido a possíveis impactos humanitários, econômicos e de segurança.
  • O presidente dos EUA, Donald Trump, mobiliza forças militares na costa da Venezuela, alegando combate ao narcotráfico.
  • Especialistas alertam que um conflito pode resultar em um aumento significativo de migrantes para o Brasil e desestabilizar a segurança nas fronteiras.
  • Maduro pede apoio dos brasileiros enquanto a Receita Federal do Brasil se prepara para ações conjuntas contra o crime organizado com os EUA.

Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

Desde agosto, o presidente dos EUA mobiliza forças militares para a costa caribenha da Venezuela Dado Ruvic/Illustration/ Reuters

A escalada da tensão entre os Estados Unidos e a Venezuela tem gerado reação na diplomacia brasileira, que vê com preocupação a ofensiva militar americana na América Latina. Para especialistas ouvidos pelo R7, um eventual ataque ao país venezuelano pode trazer impactos humanitários, securitários, econômicos e diplomáticos ao Brasil.

Desde agosto, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem mobilizando forças militares para a costa caribenha da Venezuela, com a justificativa de que a ação seria para o “combate às drogas”. Trump também acusa o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, de ser chefe de uma organização criminosa.


O doutor em internacionalização e especialista em negócios João Alfredo Nyegray explica que um possível conflito traria uma nova onda migratória ao Brasil, que já está com um sistema defasado.

“Um ataque externo sobre um país já em colapso econômico tende a transformar um êxodo “silencioso” em fuga de guerra, com pressão exponencial sobre Pacaraima, Boa Vista e toda a rede de acolhimento e interiorização. Isso tem custos fiscais diretos, impacto em saúde, educação, assistência social e inevitavelmente alimenta tensões políticas internas sobre migração", avalia.


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Em termos de segurança, a fronteira entre os países poderia se tornar um problema, principalmente devido aos riscos de milícias armadas e grupos ligados à guerrilha de esquerda ELN (Exército de Libertação Nacional) e a facções criminosas locais. A presença dessas organizações acaba abrindo espaço para que o território amazônico brasileiro seja usado como corredor de armas, drogas, ouro ilegal e combatentes irregulares.

“Para o Brasil, isso significaria Forças Armadas e Polícia Federal deslocando capacidades para o norte, aumento de operações de GLO na fronteira, risco de confrontos acidentais e uma Amazônia ainda mais militarizada”, elenca Nyegray.


“Do ponto de vista econômico, há um paradoxo. Um conflito que desorganize ainda mais a produção venezuelana e gere risco sobre exportações de petróleo, o que tende a pressionar preços internacionais e, no curtíssimo prazo, pode aumentar a renda de um produtor relevante como o Brasil, especialmente no pré-sal”, acrescenta o especialista.

Cooperação EUA e Brasil

Na quarta-feira (3), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que a Receita Federal está traduzindo para o inglês documentos que serão enviados à Embaixada dos Estados Unidos para que seja realizada uma ação conjunta contra o crime organizado.


Em meio à tensão entre os países, Maduro pediu apoio dos brasileiros durante um programa de televisão nesta quinta-feira (5). Após receber um boné do MST, o presidente venezuelano fez pedidos para que o povo fosse à rua pedir por “paz e soberania”

A professora de relações internacionais da Espm Denilde Holzhacker aponta que o combate ao narcotráfico tem sido um dos pontos principais, tanto na política brasileira, quanto na norte-americana. Assim, uma eventual parceria entre os países pode melhorar a situação das fronteiras e desarticular redes internacionais de crime.

“Para o Brasil, é uma sinalização que é um tema importante. Tem muito mais a ver com a preocupação interna — o quanto esse tema vai ganhar peso eleitoralmente e o Lula demostrar que tem feito ações com uma aliança com os EUA — do que com uma questão regional”, acredita.

Nyegray, por sua vez, entende que o interesse de Trump em combater o crime organizado na América Latina é, antes de tudo, político-estratégico e só em segundo plano tecnicamente orientado à eficácia no combate às drogas. A narrativa da administração também cumpre funções domésticas, como a conversa com eleitores preocupados com a crise dos opioides e o aumento de mortes por fentanil.

“Do ponto de vista de custo-benefício, seria mais efetivo reduzir a demanda interna, cortar fluxos financeiros ilícitos e atacar corrupção em estruturas locais de polícia, justiça e política nos EUA. Mas isso implica mexer com interesses organizados poderosíssimos e exigir mudanças profundas em políticas públicas de saúde e segurança”, ressalta.

Interesses americanos

Além do narcotráfico, citado em discursos de Trump, especialistas apontam como interesses norte-americanos o petróleo venezuelano, a necessidade de fazer demostração de força para a China e a Rússia e de demarcar área de influência na América Latina.

“Os riscos de intervenção na Venezuela são bastante altos. Trump não efetivou as ações, mas vem fazendo uma pressão para que o Maduro saia de forma pacífica e se chegue a um acordo diplomático para conseguir viabilizar um novo governo com eleições. Ter a Venezuela significa reafirmar a capacidade americana de uma área de influência”, conclui Nyegray.

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