‘Um absurdo’: o que diz Bolsonaro sobre o inquérito da Polícia Federal
Ex-presidente afirma que nunca pensou em dar um golpe de Estado após as eleições presidenciais de 2022
Brasília|Do R7, em Brasília
Indiciado pela Polícia Federal por supostamente tentar um golpe de Estado após as eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro rebateu as informações da investigação policial e garantiu que nunca pensou em golpe. Segundo ele, essa palavra ”nunca esteve no meu dicionário“. Bolsonaro ainda frisou que é “absurdo” afirmar que ele pensou nessa medida para continuar como presidente.
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“Vamos tirar da cabeça essa história de golpe, ninguém vai dar golpe com general da reserva e mais meia dúzia de oficiais. É um absurdo o que estão falando. Da minha parte, nunca houve discussão de golpe. Se alguém viesse discutir golpe comigo, eu falaria ‘tudo bem, e o after day? Como fica o dia seguinte? Como fica o mundo perante a nós? Todas as medidas possíveis dentro das quatro linhas, dentro da Constituição, estudei”, disse ele a jornalistas após desembarcar no Aeroporto de Brasília nessa segunda-feira (25).
“Golpe de Estado tem que ter a participação de todas as Forças Armadas, senão não é golpe de Estado. Ninguém dá golpe de Estado em um domingo, em Brasília, com pessoas que estavam aí com bíblias debaixo do braço e bandeira do Brasil na mão, nem usando estilingue e bolinha de gude e muito menos batom. Não tinha um comandante", acrescentou.
Segundo Bolsonaro, o inquérito da PF foi conduzido sem a participação do Ministério Público e alterado para atender às vontades de quem estava responsável pela investigação.
“O inquérito não tem a participação do Ministério Público, a mesma pessoa faz tudo. E no final dá o relatório e vota para condenar quem quer que seja. Golpe de Estado é uma coisa séria. Tem que estar envolvido todas as Forças Armadas. Senão, não existe golpe. Ninguém vai dar golpe com um general da reserva e mais meia dúzia de oficiais“, pontuou.
“Não justifica denunciar da forma leviana como está sendo feito. Os inquéritos, ninguém tem dúvida, até pelos áudios vazados, que o processo todo é conduzido, é alterado o tempo todo. Inclusive, tem um grau de sigilo o mais alto possível para ser alterado à maneira que convém ao encarregado do inquérito", destacou Bolsonaro.
Íntegra do relatório
O STF (Supremo Tribunal Federal) divulgou nesta terça-feira (26) o relatório da investigação da Polícia Federal que levou ao indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 36 pessoas por suposta tentativa de golpe de Estado. Leia a íntegra do documento a seguir.
A PF indiciou os investigados pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
No documento, a Polícia Federal apontou que as provas obtidas ao longo da investigação sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado demonstram “de forma inequívoca que o então presidente da República Jair Bolsonaro planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que queria a concretização de um golpe de Estado".
A PF afirma que o ex-presidente tinha “conhecimento e anuência" de uma carta elaborada por oficiais superiores do Exército ao então comandante do Exército, Freire Gomes, para pressioná-lo a aderir ao suposto golpe.
A corporação chegou à constatação devido a uma conversa entre o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e o tenente-coronel Sérgio Cavaliere.
“Após Mauro Cid pedir para Sergio Cavaliere entrar em contato com o Coronel Anderson Moura, Cavaviere responde: ‘Falei com ele’. Mauro Cid diz: ‘Excelente’. Em seguida, Sergio Cavaliere faz a seguinte pergunta: ’01 sabe disso?‘. Mauro Cid responde: ’sabe...‘.“
Para a Polícia Federal, “as trocas de mensagens evidenciam que a confecção e disseminação da Carta com teor golpista, assinada por oficiais do Exército era de conhecimento e anuência do então presidente da República Jair Bolsonaro, sendo uma estratégia para incitar os militares e pressionar o Comando do Exército a aderir a ruptura institucional."
Veja a lista completa dos indiciados
- Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da República
- Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
- Anderson Gustavo Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública
- Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional
- Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ex-ministro da Defesa
- Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice de Bolsonaro em 2022
- Valdemar Costa Neto, presidente do PL
- Alexandre Rodrigues Ramagem, deputado federal e ex-diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Investigação)
- Filipe Garcia Martins, ex-assessor especial para assuntos internacionais de Bolsonaro
- Ailton Gonçalves Moraes Barros, ex-major do Exército
- Alexandre Castilho Bitencourt da Silva, coronel do Exército
- Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha
- Amauri Feres Saad, advogado
- Anderson Lima de Moura, coronel do Exército
- Angelo Martins Denicoli, major da reserva do Exército
- Bernardo Romao Correa Netto, coronel do Exército
- Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, engenheiro
- Carlos Giovani Delevati Pasini, coronel do Exército
- Cleverson Ney Magalhães, coronel do Exército
- Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, general do Exército
- Fabrício Moreira de Bastos
- Fernando Cerimedo, consultor político
- Giancarlo Gomes Rodrigues, subtenente do Exército
- Guilherme Marques de Almeida, coronel do Exército
- Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel do Exército
- José Eduardo de Oliveira e Silva, padre
- Laercio Vergilio, general da reserva do Exército
- Marcelo Bormevet, policial federal
- Marcelo Costa Câmara, coronel do Exército
- Mario Fernandes, general da reserva do Exército
- Nilton Diniz Rodrigues, general do Exército
- Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, economista e blogueiro
- Rafael Martins de Oliveira, tenente-coronel do Exército
- Ronald Ferreira de Araujo Junior, tenente-coronel do Exército
- Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, tenente-coronel do Exército
- Tércio Arnaud Tomaz, ex-assessor de Bolsonaro
- Wladimir Matos Soares, policial federal