Versão de coronel sobre mensagens trocadas com Mauro Cid é contestada na CPMI
Em depoimento no colegiado, Lawand Júnior desse que não conspirou golpe de Estado; ele é investigado pela PF
Brasília|Hellen Leite, do R7, em Brasília
A versão que o coronel do Exército Jean Lawand Júnior contou, nesta terça-feira (27), sobre as mensagens de teor golpista não convenceu os parlamentares da CPMI do 8 de Janeiro. O militar é citado em investigação da Polícia Federal por supostamente ter pedido ao ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, que convencesse o ex-presidente a dar ordens de golpe de Estado após o resultado das eleições do ano passado.
“O senhor não pode infantilizar essa comissão. Aqui, como se diz no meu Maranhão, o mais besta conseguiu se eleger deputado federal, senador ou senadora. As colocações são incompatíveis com o conteúdo das mensagens que o senhor mesmo escreveu”, afirmou a relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
A versão do coronel também não convenceu parlamentares da oposição. O senador Marcos Rogério (PL-RO) comentou que a narrativa do militar é frágil. "Eu não sei quem lhe orientou, mas, de verdade, o senhor não convence ninguém. O senhor apequena a sua história, atrofia o sucesso da sua carreira e tenta impor uma narrativa que não para de pé ao menor esforço", disse.
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A posição foi acompanhada pelo senador Sergio Moro (União-PR), que também disse que "não se convenceu" com as explicações de Lawand na CPMI. "Não me convence, com todo o respeito", afirmou.
O deputado André Fernandes (PL-CE), aliado de Bolsonaro, também contestou a versão do militar. "Sendo bem honesto, eu não acredito muito no que o senhor disse aqui, mas também não posso dizer que é mentira. Se alguém quiser acreditar, que acredite. Isso é pessoal. Mas eu, particularmente, não acredito", comentou.
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Lawand depõe como testemunha. Com isso, ele é obrigado a falar a verdade, sob o ônus de ser preso se mentir. "Se houver um fato concreto, que comprove a mentira, pode ser preso", disse Eliziane.
Investigação da Polícia Federal
Nas mensagens interceptadas pela PF, Lawand pede a Cid que convença Bolsonaro a “dar a ordem”.
“Cidão, pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele [o ex-presidente Bolsonaro] a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O presidente vai ser preso. E pior, na Papuda, cara”, disse Lawand em mensagem enviada em 1º de dezembro de 2022, dia seguinte ao segundo turno das eleições.
Em resposta, o ex-ajudante de ordens disse que Bolsonaro não pode dar a ordem porque “ele não confia no ACE [Alto Comando do Exército]”. “Então ferrou. Vai ter que ser pelo povo mesmo”, concluiu Lawand.
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Na CPMI, o coronel disse que em nenhum momento falou a palavra "golpe" ou quis atentar contra a democracia. "O que eu quis dizer foi a 'ordem' para que o presidente da República apaziguasse o país", justificou.
Lawand também classificou a mensagem como um "desabafo infeliz" e afirmou mais de uma vez que a intenção era fazer com que Cid "entendesse" que uma manifestação do ex-presidente Jair Bolsonaro faria com que os manifestantes acampados em frente aos quartéis-generais do Exército voltassem para casa.
“A minha ideia, desde o começo, desde a primeira mensagem com o tenente-coronel Cid, foi que viesse alguma manifestação para poder apaziguar aquilo e as pessoas pudessem voltar às suas casas e seguir a vida normal. O ex-presidente tinha uma liderança sobre a população, pelo menos seu eleitorado”, explicou o militar.