"Nossa, esse é o novo Golf?”, pergunta o frentista do posto. Respondo positivo. “Esse voa, hein”, retruca empolgado. "Qual o motor?”. 1.4 turbo. “Sério!? Mas anda?”, desconfia. Emendo um sorriso e confirmo: anda mais do que você imagina. É unanimidade, o brasileiro ainda tem preconceito com motores pequenos em carros mais caros. Talvez uma influência dos números: quanto maior, supostamente é mais potente. Mas este novo Golf — que será produzido no Paraná a partir de 2015 — nos mostra o contrário. Seu motor tem apenas quatro cilindros em linha e 1.395 cm3 de capacidade volumétrica. Chega aos 140 cv de potência máxima com ajuda de tecnologias. Usa comando variável nas válvulas de admissão e escape, sistema de injeção direta de combustível (por enquanto, apenas gasolina) e é sobrealimentado por um turbocompressor. A associação destes recursos faz os motores menores, como este 1.4 litro, renderem o que rendiam os 2.0 de aspiração natural há cerca de 10 anos — menos que isso no Brasil. O torque também cresce, mas o "pulo do gato” não se dá no aumento da força, mas na oferta dela em giros baixos e durante uma faixa grande de rotações. No Golf, os 25,5 kgfm de torque são inteiramente despejados no eixo dianteiro desde os 1.500 rpm. Ao volante, isso significa alto desempenho ao menor toque no pedal do acelerador. Não é necessário encher os cilindros para sentir sua força. Basta uma pisada mais forte e o hatch acelera com vontade, mostrando que não podemos (nem devemos) subestimar os motores pequenos com turbo e outras tecnologias. Faz uns cinco anos que a indústria automobilística investe pesado no “downsizing” (redução com ganhos). É o futuro irreversível.Câmbio manual é para fanáticos Diante de toda a modernidade do motor, é natural associá-lo a um câmbio automático desses modernos, cheios de marchas. Esta é a opção favorita dos que vivem em grandes metrópoles — por isso o Golf automático, com dupla embreagem e sete marchas (no caso do 1.4 TSI) vai vender mais. Mas a transmissão manual de seis relações, presente na unidade avaliada, tem seu valor. É a mais desejada pelos fãs e, comercialmente, tem o apelo do preço. A caixa manual instalada neste novo Golf é uma evolução do câmbio MQ200 que o brasileiro já conhece há tempos — está em todos os nacionais, do Gol ao Golf antigo. Porém, apesar das semelhanças, trata-se de uma transmissão mais moderna, com engates ainda mais precisos e acoplamento macio e robusto. O curso pequeno da alavanca realça a esportividade que se espera do hatch e potencializa a sensação de estar no controle da máquina. A verdade, porém, é que a transmissão manual é indicada em dois casos: um, é o que dá para levar (grana); dois, o feliz comprador é um fanático, que faz questão de fazer as trocas pessoalmente. Embora delicioso e envolvente, o câmbio manual não é páreo para o automatizado DSG, cujas trocas são ultrarrápidas. Além de infinitamente mais moderna e confortável, a transmissão automatizada ajuda a poupar gasolina em todas as circunstâncias.Caro, mas tecnológico O sonho de comprar um Golf por R$ 50 mil, por enquanto, continuará a ser um sonho. Esta nova geração do hatch é carregada de tecnologias de ponta e, mesmo quando se tornar nacional, o hatch seguirá "salgado". Contudo, o alto custo tem seus benefícios desde a versão básica Comfortline (R$ 66.990). Há, por exemplo, direção elétrica progressiva, ar-condicionado, "trio", sensores de obstáculos na frente e atrás e rodas 16. Também é padrão desde o modelo de entrada ABS com EBD, controles eletrônicos de estabilidade e de tração e sete airbags — duplos frontais, laterais dianteiros, de cortina e um para os joelhos do motorista. Isso sem falar em comodidades como freio de estacionamento elétrico, monitor de pressão dos pneus e o sistema start/stop, que desliga o motor sozinho em paradas curtas para ajudar a economizar gasolina. No caso da versão testada (Highline, R$ 71.990), a lista é ainda maior e inclui desde uma chave mais chique a iluminação por LEDs nos faróis e lanternas. A lista de opcionais também é imensa, podendo elevar o preço em mais de R$ 40.000 — completo, o Golf Highline passa de R$ 120.000. Mas novamente a tecnologia impressiona. Há chave presencial, assistente de estacionamento (manobra sozinho) e controle de cruzeiro adaptativo. Na parte de entretenimento, a central multimídia (Discover Pro) traz uma tela gigante de 8 polegadas sensível ao toque e repleta de recursos. Nela é possível ver imagens da câmera traseira, conferir a pressão dos pneus, configurar o sistema de ventilação, nagevar por GPS e interagir com celulares e gadgets por meio do Bluetooth. E o mais impressionante: o sistema tem um sensor de aproximação que acende a tela com o movimento da mão. No uso cotidiano, um dos sistemas mais notáveis é o "auto hold", função que aciona o freio de estacionamento em qualquer parada e o libera assim que a embreagem é acionada — ou o acelerador pressionado, nas versões automatizadas. São tantos recursos que é difícil dizer que o Golf não vale o que custa. Em equipamentos, poucos rivais chegam perto. O mais próximo do VW é o novo Ford Focus, também muito tecnológico. Só que o Golf tem uma aura própria e desperta desejo. É uma espécie de Toyota Corolla dos hatches médios. Custa caro, mas vende bem. É certo que a versão aqui avaliada não será o carro-chefe, uma vez que o câmbio manual, apesar de muito bem calibrado, só supera o automatizado DSG no preço — é R$ 7.000 mais barato. Ainda assim, é a transmissão que fará do hatch VW mais competitivo, ao lado do motor 1.4 TSI. Esse surpreende. Saiba tudo sobre carros! Acesse www.r7.com/carros