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Análise: Patinete elétrico, o potencial brinquedo assassino

Nas escassas ciclovias disponíveis, a disputa por espaço passou de brutal para selvagem. Alguns exibicionistas se atrevem a disputar com automóveis

Cidades|Marco Antonio Araujo, do R7

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Patinetes chegam em cidades que crescem sem planejamento urbanístico
Patinetes chegam em cidades que crescem sem planejamento urbanístico

Desde que os paulistanos aprenderam que bicicleta e ciclovia eram coisas de comunista, não assistíamos a uma invasão tão bárbara quanto a dos patinetes. A diferença é que desta vez o inimigo é verdadeiro e se espalha pelas ruas, avenidas e calçadas das maiores capitais do país. Fora, PTnetes!

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Eles chegaram de mansinho, fofos. Encantaram as crianças e aos adultos pareciam úteis, uma simpática opção para se deslocar por curtas distâncias em nossas médias e grandes cidades. Só não contávamos com a capacidade atávica de transformarmos em discórdia todo consenso civilizatório.

Num curto período, os veículos de aparência inocente se mostraram potenciais brinquedos assassinos nas mãos de usuários incautos, folgados e sem nenhuma educação.


No Rio de Janeiro, uma concessionária de patinetes registrou aumento de 1268% no número de adeptos da arapuca elétrica, de dezembro de 2018 a abril deste ano. Dois hospitais que funcionam perto da orla da cidade registraram, cada um, cerca de 50 acidentes, incluindo casos com fraturas, nos últimos quatro meses.

Nas escassas ciclovias e ciclofaixas disponíveis, a disputa por espaço passou de brutal para selvagem. Por conta disso, os mais medrosos, junto com os mais ousados, decidiram circular por calçadas a uma velocidade de corredor queniano. Alguns exibicionistas se atrevem a disputar metros quadrados com automóveis.


Foi o bastante para encerrar de vez qualquer possibilidade de convivência pacifica entre seres humanos, automóveis, bikes e geringonças.

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Tamanho repertório de incivilidades despertou a fúria regulatória de nossos políticos. Já circulam projetos de lei, bem-intencionados ou esdrúxulos, prevendo limites de velocidade, seguro de vida e até equipamento de segurança obrigatórios, como joelheiras e capacetes – a serem disponibilizados pelos aplicativos que compartilham Chuckys. Imagina que nojo.

É fácil entender o principal motivo de o novo modal estar dando tanta balbúrdia, como diria algum ministro. Para além da falta de campanhas de educação para o trânsito – nunca mais feitas por governo nenhum – nossas cidades crescem sem planejamento urbanístico.

Ao contrário das bicicletas, quando alguns prefeitos implantaram na marra quilômetros de ciclofaixas e ciclovias, enfrentando o discurso carrocrata de muita gente (diziam não haver ciclistas – e, de fato, muitos aderiram às bikes depois de constatar que podiam circular com segurança).

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A invasão dos patinetes é o contrário. Atende basicamente a uma jogada comercial, de empresários que enxergaram um nicho de negócio. A rigor, se apropriarem de uma política pública em fase de implantação para jogar milhares de pessoas literalmente no olho da rua.

Enquanto não tivermos estrutura viária para receber novas opções alternativas de mobilidade, vai ser essa gritaria. Em breve, vamos ouvir: patinetes nunca mais!

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