Aos 93 anos, mulher que foi de barco dar à luz em 1965 enfrenta terceira enchente: ‘Essa foi a pior’
No hospital, a filha recém-nascida de Marina Passos ganhou apelido devido à circunstância em que veio ao mundo: ‘Cadê a Enchentina?’
Cidades|Bruna Lima, do R7, enviada especial ao Rio Grande do Sul
Vítima da enchente que deixou o Rio Grande do Sul em estado de calamidade, a moradora do município de Canoas (RS) Marina Alves dos Passos, de 93 anos, passou por três inundações. Na segunda delas, ela teve sua filha Denise Passos Dornelles, de 58 anos. ”O barco foi na porta da minha casa, a ambulância ficou me esperando, eu peguei e fui para o hospital”, relata. Ela conta ainda que, no hospital, deram um apelido a Denise, por causa da circunstância em que nasceu. “Lá no hospital, chamavam ela assim: Cadê a ‘Enchentina’?”, relembra (veja no vídeo abaixo).
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Marina afirma que, das três, esta foi a pior cheia que enfrentou.
“Nunca pensei que ia passar por esse momento, de perder tudo. Nunca tinha visto uma enchente assim. A primeira que vi, eu tinha 10 anos, em 1941.”
Sobre a enchente de 1965, a idosa diz que foi menor. “Aquela era pouca água, entrou na minha casa um pouquinho assim só”, diz ela, mostrando cerca de um palmo.
Já a enchente deste ano tomou toda a casa da família de Marina. “Foi até o forro da casa”, afirma.
“Perdi tudo que eu tinha, minhas roupas, minhas coisas”, lamenta. “Passei [por coisas] que nunca tinha pensado na minha vida, de ver isso”, diz ela, mostrando seu bairro arrasado pela inundação. Marina afirma que desta vez saiu aos prantos de casa. “Chorando e falando no meu papel de casamento, que ficou na água”. Ela diz que é viúva há muitos anos, mas guardava o documento.
A filha Denise diz que a enchente vai ficar para sempre em sua memória. “Nunca mais vou me esquecer do que a gente viveu lá para sair de casa, que tem que ser de barco. Perdemos tudo, saímos só com a roupa do corpo”, afirma.
Denise voltou ao local com a família para tentar buscar o que ficou no pátio externo da casa. “Meu filho mais novo queria pegar a bicicleta dele, porque dizem que estão levando as coisas que estão no pátio”, afirma. Entretanto, ainda não foi possível recolher pertences. “Não vai dar, ainda tem muita água, não dá para entrar lá”, constata.
“Vai dar um choque muito grande [ver o que sobrou da minha casa]. Não dá nem para imaginar, eu perdi tudo, a gente perdeu tudo.”
Ela já sabe, ao menos, de onde vai tirar a força para recomeçar. “Da minha família, né? É isso que vai dar força de voltar para casa e recomeçar do zero, porque nós não temos nada”, afirma.