Ataques em RN completam uma semana, com queda no turismo, suspensão de aulas e coleta de lixo
Segundo último balanço do governo, 139 suspeitos já foram presos com auxílio da Força Nacional e dos policiais do Ceará e da Paraíba
Cidades|Letícia Dauer, do R7
Medo, queda no turismo, redução da movimentação no comércio, suspensão de aulas, coleta de lixo com escolta policial e ônibus incendiados. Os ataques a pelo menos 20 cidades do Rio Grande do Norte completam uma semana nesta terça-feira (21). O MP (Ministério Público) verifica se os atos foram articulados pelos líderes da facção Sindicato do Crime, que atua no estado.
Apesar da queda expressiva do número de ataques com a vinda da Força Nacional e de policiais do Ceará e da Paraíba, a população sofre com a paralisação total ou parcial dos serviços públicos, além de viver com medo e sem sair de casa. A Secretaria de Educação de Natal, por exemplo, suspendeu as aulas de 57 mil estudantes em 146 escolas da rede de ensino municipal.
Ao R7, alguns moradores e comerciantes contaram como a rotina se transformou desde a onda de ataques. Um fotojornalista, que prefere não ser identificado, disse que, além dos ataques coordenados pela facção, algumas pessoas têm se aproveitado do caos para praticar crimes. Desde a última terça-feira (14), ele está na rua acompanhando as ações incendiárias e o trabalho das forças de segurança em Parnamirim, na região metropolitana de Natal.
Para o jornalista, houve uma redução na onda de crimes nos últimos dias, porém muitos moradores ainda não estão saindo de casa pelo medo e pela falta de alguns serviços essenciais. As aulas nas escolas municipais e o atendimento das UBSs (Unidades Básicas de Saúde) foram suspensos pela prefeitura, e a frota de ônibus, reduzida pela metade.
Em Parnamirim, a coleta de lixo domiciliar também está sendo realizada de forma reduzida, apenas nas principais avenidas da cidade, e com a escolta de agentes da Guarda Civil Municipal para garantir a segurança dos funcionários. Por enquanto, não há previsão de normalização.
O município de Mossoró, no interior do estado, também tem sofrido com as consequências dos ataques. Dono de um restaurante, Diego Araújo contou que o faturamento caiu em 40% nos últimos sete dias. Há oito anos ele gerencia o estabelecimento, que conta com música ao vivo de segunda a domingo no bairro Nova Betânia, área nobre da cidade.
"Não chegamos a fechar, pois sempre trabalhamos com segurança privada e policiais à paisana. Entretanto, a maioria dos clientes é mais velha e está com receio de sair de casa", explica o empresário.
De acordo com o diretor da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Mossoró, Stênio Max, o turismo foi extremamente prejudicado em razão da situação de insegurança no estado. Há registro de mais de cem cancelamentos em hotéis e agências de viagem, pois muitos ônibus se recusam a circular pelas estradas e vias.
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Max ainda relembra que o setor está se recuperando dos prejuízos provocados pela pandemia e pelas restrições sanitárias, e agora tem que enfrentar uma nova crise interna. "O clima é de alerta [entre os comerciantes e hoteleiros]. Muitos eventos, inclusive corporativos, foram cancelados. Esperamos voltar à normalidade o mais rápido possível", reitera.
O gerente de um hotel em Mossoró, que também prefere não ser identificado, conta que os turistas estão com medo de visitar a cidade em razão das notícias sobre a onda de crimes. "Na semana passada, dois grupos que tinham reservado 40 apartamentos cancelaram a estadia", exemplifica.
Investimento
Nesta segunda-feira (20), o ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou o investimento de R$ 100 milhões no sistema de segurança do Rio Grande do Norte. Segundo o governo potiguar, R$ 20 milhões serão destinados ao aluguel e à aquisição de veículos, armamento e equipamentos para a Polícia Militar, Polícia Civil, Itep (Instituto Técnico-Científico de Perícia) e Corpo de Bombeiros Militar.
Outra medida confirmada foi a reposição dos veículos do transporte escolar danificados nas ações criminosas. "Tratei com o ministro da Educação, Camilo Santana, e ele me assegurou que todos os veículos serão repostos. Isso permite a continuidade dos serviços à população", informou a governadora Fátima Bezerra (PT) em entrevista coletiva.
Presos
De acordo com a última atualização da Secretaria da Segurança Pública e da Defesa Social, nesta segunda-feira (20), 133 suspeitos foram presos e 6 adolescentes foram apreendidos. Do total, 14 eram procurados pela Justiça.
Também foram apreendidas 41 armas de fogo, 139 artefatos explosivos, 29 galões de combustíveis, 14 motos e 2 carros, além de dinheiro, drogas e munições.