Brasil precisa integrar forças policiais para enfrentar o crime organizado, diz diretor do MJ
Segundo o diretor da Senasp, a pulverização institucional agrava a dificuldade de articular estratégias conjuntas
Cidades|Victoria Lacerda, do R7, enviada especial a São Paulo*
O combate ao crime organizado no Brasil esbarra em um obstáculo persistente: a desintegração entre as forças de segurança. A avaliação é de Rodney da Silva, diretor de Operações Integradas e de Inteligência da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), ligada ao Ministério da Justiça. Durante o seminário internacional “Crime Organizado e Mercados Ilícitos no Brasil e na América Latina: Construindo uma Agenda de Ação”. Ele defendeu que o país precisa “resgatar bons projetos do passado, dar continuidade e criar outros” para estruturar a segurança pública com eficiência e coordenação nacional.
“Temos um problema crônico de falta de integração entre os órgãos de segurança. As polícias não compartilham dados, não trocam informações. É um desafio que passa pela própria estrutura federativa do Brasil”, afirmou Rodney, mencionando que mesmo entre forças federais, como a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, muitas vezes há competição e pouco diálogo.
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Segundo o diretor da Senasp, a pulverização institucional agrava a dificuldade de articular estratégias conjuntas. “Temos no país uma polícia militar, uma polícia civil, polícia técnico-científica, além das guardas civis municipais que, em muitos casos, assumiram funções de polícia. Integrar isso tudo não é simples”, disse.
Uma das soluções apontadas por Rodney é a criação do Centro Integrado de Segurança Pública Nacional, inspirado em modelos já existentes nos Estados Unidos. A proposta envolve a adoção de sistemas integrados de comando, controle e comunicação (CICs), com participação de todos os estados brasileiros.
“Não adianta termos São Paulo como referência se Amazonas e outros estados enfrentam deficiências básicas. Segurança pública precisa ser tratada de forma equânime em todo o país, e essa é uma responsabilidade do governo federal”, ressaltou.
Redes temáticas e combate à macrocriminalidade
Rodney também destacou a criação de oito redes temáticas colaborativas dentro da Senasp, voltadas à articulação de políticas públicas, integração de dados e combate ao crime organizado, especialmente o cibernético e as facções. Entre as iniciativas está a Rede Saibra, voltada à integração de forças policiais e laboratórios de tecnologia para repressão a crimes digitais.
“Estamos conectando polícias judiciárias e investindo em projetos estruturantes. Queremos atuar desde o tráfico de drogas até a recuperação de ativos”, disse, citando articulações entre forças especiais como Dracos e Gaecos. “Isso era impensável há seis meses. Hoje temos operações conjuntas em andamento.”
Ele também afirmou que a Senasp vem trabalhando com a USP e outras universidades para aprimorar o diagnóstico sobre segurança pública e desenvolver soluções baseadas em evidências. “A aproximação entre academia e governo é fundamental. Projetos que antes não avançaram agora têm potencial, com o apoio técnico e o envolvimento de pesquisadores como o professor Leandro Piquet.”
Alerta sobre orçamento
Rodney fez ainda um alerta sobre o bloqueio de recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública. Segundo ele, o sistema de segurança pública nas regiões Norte e Nordeste está ameaçado pela retenção de cerca de R$ 500 milhões, montante que inviabilizaria diversas ações estruturantes nessas localidades.
“Sem esse recurso, a segurança pública praticamente para. Estamos articulando para reverter isso, e o ministro Ricardo Lewandowski tem sido sensível às demandas”, disse. “Apesar das dificuldades, temos uma visão técnica clara e estamos trabalhando com força.”
Ao final, Rodney reiterou que enfrentar o crime organizado vai muito além da repressão pontual. “Estamos falando de infiltração de facções nas instituições, de macrocriminalidade. Precisamos de estrutura, inteligência e integração para lidar com isso com a seriedade que o tema exige”, concluiu.
*A repórter viajou a convite da Philip Morris Brasil
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