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Brasil teve 23 ataques a escolas; mais da metade nos últimos 4 anos

Um levantamento do instituto Sou da Paz evidencia o potencial destrutivo de armas, responsáveis pela morte de 34 pessoas

Cidades|Agência Brasil

Ataque à escola Thomázia Montoro, em São Paulo
Ataque à escola Thomázia Montoro, em São Paulo

O primeiro ataque a escola de que se tem notícia no Brasil ocorreu há 21 anos, e, desde então, houve outros 23 casos parecidos. No total, os episódios fizeram 137 vítimas, e 45 pessoas morreram. Os dados foram apurados peloinstituto Sou da Paz, em um mapeamento inédito divulgado nesta segunda-feira (22).

O levantamento evidencia o maior potencial destrutivo de armas de fogo. Revólveres e pistolas foram usados em 11 dos episódios e causaram três vezes mais mortes do que armas brancas, como facas, que apareceram em dez ocorrências.

As armas de fogo foram responsáveis pela morte de 34 pessoas (76%), enquanto as brancas mataram 11 pessoas (24%) em ataques a escolas.

Segundo os dados, a arma mais empregada foi o revólver .38, apontada pelo instituto como a mais vendida no mercado brasileiro, por décadas, e até hoje largamente usada por empresas de segurança privada. De acordo com a entidade, tal revólver apareceu em 53% dos ataques. Outras armas de fogo utilizadas foram pistola .40 (20%), revólver .32 (13%), garrucha .38 (7%) e garrucha .22 (7%). A garrucha se assemelha ao revólver e à pistola, também tendo como característica o cano curto.


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Ao todo, 80% das armas se enquadram nas categorias que, até maio de 2019, eram de uso permitido a civis. Das três pistolas de calibre .40, que antes de 2019 eram de uso restrito, duas eram de propriedade de parentes que trabalhavam nas forças de segurança e uma delas era registrada por uma pessoa com certificado de CAC (colecionador, atirador e caçador).

Em pelo menos dois dos casos que envolveram armas de fogo, há relatos de que o pai do agressor o havia ensinado a atirar, mesmo ele sendo menor de idade, conforme destaca o Sou da Paz.


Em seis de cada dez casos, os autores dos crimes já tinham à mão as armas de fogo utilizadas nos ataques, já que pertenciam a familiares que residiam na mesma casa que eles. Em 40% das ocorrências, as armas pertenciam a um agente de segurança, e, em 20%, foram roubadas do proprietário e revendidas ou vendidas diretamente por ele.

Em relação ao período dos ataques, o que o instituto mostra é um aumento das ocorrências a partir de 2019. Entre 2002 e 2019, foram registrados sete atentados, e, nos últimos quatro anos, de 2019 a 2023, o número mais que dobrou, tendo passado para 17. Somente nos primeiros quatro meses deste ano, foram seis casos — o mesmo número registrado em todo o ano passado.

Gênero

Outra revelação do mapeamento diz respeito à identidade de gênero dos autores dos ataques. Todos os atos tiveram como responsáveis homens ou meninos, o que sugere, para diretora-executiva do Sou da Paz, Carolina Ricardo, a necessidade de mobilização para desassociar a noção de masculinidade da de imposição e demonstração de força.

"A gente sabe que, claro, a arma, sozinha, não é um grande motivador, mas é um catalisador, e, em alguns casos, a gente identificou também que o agressor buscou, tentou adquirir a arma. Nesse caso dos ataques, ela é muito mais letal, provoca muito mais mortes, é um artefato de interesse dos agressores, porque, justamente, aumenta o potencial letal e torna esses agressores mais poderosos, se é que assim dá para se dizer", diz.

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"A arma, na mão de um civil, muito mais do que garantir uma legítima defesa, acaba sendo usada para fins equivocados, errados", complementa.

Ainda sobre o perfil dos autores dos atentados, 88% destes foram cometidos por apenas uma pessoa, com média de idade de 16 anos, que era aluno ou ex-aluno da escola-alvo do ataque.

Além disso, ao concebê-los, os agressores puseram no centro, como alvos, pessoas com quem tinham algum vínculo, como alunos (59%).

Recomendações

Como sugestões para enfrentar a gravidade e a complexidade de fatores que permeiam os atentados a escolas, o instituto Sou da Paz indica o seguinte:

– corresponsabilizar plataformas digitais;

– criar equipes policiais treinadas em monitoramento de redes sociais com capacidade de realização de análise de risco, para triagem e atuação preventiva;

– fortalecer a ronda escolar e os vínculos entre a direção da escola e batalhões locais;

– treinar e estabelecer um protocolo de ação para que policiais militares possam responder a esses eventos de modo a eliminar a ameaça o mais rapidamente possível e preparar o socorro e a evacuação das vítimas;

– estabelecer programas específicos para a saúde mental dos estudantes e de mediação e justiça restaurativa nas escolas para lidar com conflitos e bullying, que devem ser conduzidos por profissionais dedicados a essa atividade, sem sobrecarregar professores com mais essas atribuições;

– treinar professores e funcionários para que consigam identificar comportamentos que precisem despertar ações da comunidade escolar;

– criar ações para instruir as pessoas a evitar repassar boatos e mensagens sem procedência identificada, para evitar pânico;

– endurecer o controle e a fiscalização da compra de armas de fogo e munições, para restringir o acesso a instrumentos mais letais por parte dos agressores;

– rever facilitações dadas a clubes de tiro para a permissão de adolescentes (a partir de 14 anos) nesses locais, ainda que acompanhados de um responsável.

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