Confundidos com Uber, motoristas particulares viram alvo de taxistas e fiscalização em SP e no Rio
Para driblar cerco, passageiros são deixados longe das áreas de embarque nos aeroportos
Cidades|Caroline Apple e Silvia Ribeiro, do R7*
Locadoras de carros e motoristas que prestam serviço a empresas terceirizadas de transporte estão sofrendo represálias nas ruas do Rio de Janeiro e de São Paulo por terem seus serviços confundidos com a Uber. Donos de empresas reclamam que a confusão faz com que seus motoristas sejam hostilizados por taxistas e os serviços, prejudicados em razão do endurecimento da fiscalização.
Ricardo Cesta, diretor da locadora Richcars, especializada na locação de carros blindados, afirma que, ao fazer o transporte de convidados de um casamento, o carro do funcionário foi cercado por taxistas na capital paulista.
— De um lado, estão os taxistas defendendo o monopólio, do outro está a Uber. Mas o serviço que prestamos é totalmente diferente. Mesmo com a documentação em dia, a situação está delicada. Estamos sendo confundidos e sendo prejudicados numa briga que não é nossa.
O gerente da Hangar & Garage, Eduardo Fernandes, conta que as agressões verbais são tão frequentes que os funcionários pararam de relatar todos os casos que acontecem.
— Eles não sabem diferenciar a Uber do serviço de motorista particular. Temos contrato com uma companhia aérea e a situação no aeroporto é ainda pior. Estamos sendo perseguidos. Os taxistas ficam nos olhando de forma diferente, com aversão.
A fiscalização também é alvo de reclamações dos locadores. De acordo com eles, os serviços às vezes são prejudicados porque é preciso parar o carro e mostrar documentos para provar que não são Uber, o que atrasa o trabalho e constrange os clientes.
Luiz Henrique Izzo Gomez, da Your Way, reclama do tratamento que estão recebendo.
— Estamos trabalhando com medo. Eu até entendo os taxistas e a Prefeitura, mas não temos nada a ver com essa briga. Estão prejudicando nosso trabalho de várias formas.
O presidente do Sindiloc (Sindicato das Empresas Locadoras de Veículos Automotores do Estado de São Paulo), Eládio Paniagua, esclarece que o serviço de locação de carro e contratação de mão de obra, no caso o motorista, é regular e que apenas serviços que configurem transporte individual é que estão na mira da fiscalização.
— Estamos conversando com a Secretaria Municipal de Transportes para mostrar a diferença dos nossos serviços, que não é como o Uber e nem táxi. Nossos serviços são locados por tempo determinado, e não ponto a ponto. No caso de fiscalização, nós temos que apresentar a planilha de itinerário e o contrato de locação. Os serviços de traslados podem ser os mais prejudicados, por oferecerem um serviço semelhante ao dos taxistas.
O DTP (Departamento de Transportes Públicos) da SMT (Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo) esclarece que a atividade econômica de transporte remunerado individual de passageiros por motoristas por meio do aplicativo Uber não é permitida no município de São Paulo. Entre as sanções, estão o pagamento de multa no valor de R$ 1.951,85 e apreensão do veículo.
Rio de Janeiro
No Rio, motoristas que prestam serviço a empresas terceirizadas de trasporte relatam dificuldade em circular, principalmente nos aeroportos Santos Dumont (zona sul) e do Galeão (zona norte), onde o cerco a condutores do Uber aumentos nas últimas semanas. O Detro (Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro) realizou na última quarta-feira (29) nova operação para coibir veículos que praticam transporte irregular de passageiros. A ação aconteceu no aeroporto Santos Dumont, na região central do Rio.
Na noite de terça-feira (28), oito carros que seriam de motoristas que prestam serviço para o aplicativo de carona paga Uber foram apreendidos. Os veículos foram levados para um depósito público e os motoristas multados em R$ 2.711, além dos custos com o reboque e a diária do depósito. O serviço é considerado irregular para o Sindicato dos Taxistas do Rio de Janeiro e pela SMTR (Secretaria Municipal de Transportes).
Motoristas que atuam junto a empresas terceirizadas de transporte ouvidos pelo R7 dizem que já chegaram até mesmo a mentir que estivessem trabalhando durante as blitze, com medo de terem seus carros apreendidos. Um deles, que preferiu não identificar, disse que já recusou trabalho no aeroporto. Outro condutor relatou que veículos de colegas na mesma condição foram apreendidos.
Para driblar o cerco à Uber, os motoristas passaram a deixar ou pegar passageiros em estacionamentos dos aeroportos em vez das áreas de desembarque e embarque. Isso porque agentes do Detro costumam fiscalizar os terminais. Além disso, os motoristas se comunicam entre si por meio de WhatsApp avisando colegas sobre fiscalizações em curso na cidade.
A Secretaria Municipal de Transportes do Rio de Janeiro informou que o transporte individual de passageiros só é permitido em carros de passeio que tenham licença para operar táxis. Por não possuírem esssa licença e não serem regulamentados, motoristas que prestam serviços para à Uber são irregulares no município do Rio, segundo a pasta. Já motoristas de empresas terceirizadas de transporte — que prestam serviço a outras firmas — não são considerados irregulares, afirmou a assessoria de imprensa da secretaria.
Em nota, o Detro (Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro) informou que as operações de fiscalização de transportes irregulares seguem a regulamentação vigente no município.
* Colaborou Lola Ferreira, do R7 Rio
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