De problema familiar a tráfico humano: saiba as principais causas de desaparecimentos no Brasil
Mais de 200 pessoas sumiram por dia no país só em 2022; para especialistas, entender o motivo é crucial para solucionar os casos
Cidades|Isabelle Amaral, do R7
No ano passado, o Brasil registrou 74.061 desaparecimentos, ou seja: 203 pessoas sumiram em média por dia, conforme os dados recentes do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública).
Fatores como problemas familiares, distúrbios mentais, envolvimento com drogas, assassinatos e tráfico humano são citados por investigadores e especialistas como as principais causas desses desaparecimentos.
Raquel Gallinati, delegada e diretora da Adepol (Associação dos Delegados de Polícia) do Brasil, considera esses sumiços sem resposta uma "complexa teia de circunstâncias que contribui para o cenário preocupante", uma vez que os motivos variam de pessoa para pessoa. Mas entendê-los, ela ressalta, é crucial para obter soluções.
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O desaparecimento voluntário ocorre em torno de 70% dos casos, diz o produtor audiovisual Anderson Jesus, responsável pelo canal Desaparecidos, no YouTube — que já divulgou centenas de casos em todo o Brasil e tem ajudado familiares.
As motivações, por sua vez, variam de conflitos com pai e mãe a juramento de morte, seja por dívida, seja briga entre facções. Apesar de o desaparecimento voluntário estar entre as principais causas, Anderson Jesus ressalta que são esses os casos que têm a maior taxa de resolução.
“É o pai que formou família em outro lugar e abandona a que já tem sem mais nem menos. Aí os filhos, a mulher ficam preocupados, o procuram e depois descobrem que ele quis ir embora. Ou casos em que os pais não deixam a filha se relacionar com certa pessoa, e ela decide fugir”, detalha.
Outro fator representativo de sumiços de pessoas no Brasil é a saúde. Indivíduos diagnosticados com distúrbios mentais, como esquizofrenia, Alzheimer e autismo, tendem a desenvolver mania de perseguição e fogem.
Há ainda os casos de poriomania, que é uma obsessão doentia por andar. Em alguns deles, os pacientes andam até não serem mais encontrados e não conseguem voltar para casa.
O vício em drogas também entra no tópico da saúde. Às vezes, a pessoa deseja sumir sem avisar, para não gerar problemas à família.
Assassinatos e tráfico de pessoas
Há casos de desaparecimentos ainda mais trágicos, quando ocorrem assassinatos, e a família da vítima a procura por meses ou anos sem saber que ela não está mais viva.
“São pessoas mortas por facções, ou até mesmo pela polícia, e ninguém sabe”, explica Anderson Jesus. Nessas situações, os corpos das vítimas podem não ser localizados nunca mais — alguns são enterrados pelo assassino ou vão parar em valas comuns como indigentes.
Já o tráfico de pessoas ocorre majoritariamente com crianças e "visa à exploração sexual, ao trabalho escravo e ao tráfico de órgãos", informa a diretora da Adepol Brasil.
A criação de cadastros nacionais e internacionais mais eficientes para pessoas desaparecidas poderia ser um instrumento valioso para encontrá-las, diz Raquel Gallinati.
Menina ficou nove meses no Paraguai
Uma jovem de 17 anos, que preferiu não ser identificada, contou ao R7 o que a motivou a passar nove meses longe da família, sem dar notícias. A mãe dela buscou ajuda no canal de Anderson Jesus para encontrar a filha.
A entrevista da mulher viralizou, e ela passou a ser muito criticada pelos internautas, uma vez que contou como era a relação conturbada que tinha com a filha. Os pais da menina são separados, e ela morava com a mãe e o padrasto, em São José dos Campos (SP).
Um tempo depois, o vídeo chegou até a menina, que estava no Paraguai. Ela entrou em contato com Anderson para explicar o motivo de ter sumido e pediu a ele que apagasse a gravação.
O produtor audiovisual fez um intermédio entre mãe e filha e, posteriormente, com o pai da jovem. Ela decidiu voltar ao Brasil e hoje mora com o pai.
“Estava passando por um momento muito difícil, e os problemas acumularam, até que decidi sumir. Optei por voltar meses depois, porque vi que a minha família não estava bem. Apesar disso, foi um aprendizado para mim. Não vou dizer que me arrependo, mas sinto muito pela dor que causei para a minha família”, afirma a jovem.
Hoje, a adolescente afirma que tem uma vida diferente: os pais conversam mais com ela e a entendem melhor.
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